Sociedade | 22-07-2024 15:00

A arte de gerir uma junta entre as canalizações, o fado e o teatro

A arte de gerir uma junta entre as canalizações, o fado e o teatro
Vasco Casimiro defende que Valada é uma freguesia com grande potencial turístico

Vasco Casimiro é um autarca a quem raramente se vê os dentes, que dá espectáculo nos palcos como fadista e considera-se um bom comediante no teatro. Além de presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique, no concelho do Cartaxo, é conhecido por dar aulas de teatro e pela profissão de canalizador.

O presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique, Vasco Casimiro, 57 anos, é um homem dos sete ofícios. Reparte o seu tempo pelas funções autárquicas que exerce a meio tempo, a fazer ou reparar canalizações, a cantar fado e a dar aulas de teatro na Universidade Sénior de Vila Chã de Ourique, no concelho do Cartaxo. Vasco Casimiro, que era número dois da lista do PS, tornou-se presidente em 2015 quando a anterior presidente renunciou ao cargo e se para alguns isso pode ser uma coisa boa, para ele significou perder clientela como canalizador porque “as pessoas pensam que estou a tempo inteiro e não preciso de trabalhar”.
Canta fado e folclore desde os 18 anos. Com 28 anos integrou um grupo de teatro que havia no Cartaxo, o Marcelino Mesquita, começou a entrar em revistas à portuguesa e a cantar fado mais a sério. Fez parte de três grupos de folclore como cantador e integrou um grupo de música popular portuguesa como vocalista. No teatro fez parte dos grupos Kaspiadas e Área de Serviço. Quando assumiu a presidência da junta de freguesia a faceta de fadista perdeu gás, mas ainda canta e vai actuar no sábado, 20 de Julho, nas comemorações dos 885 anos da Batalha de Ourique, em Vila Chã de Ourique.
Vasco Casimiro admite que pisar o palco pelo folclore, pelo fado e pelo teatro o ajuda na vida política a comunicar com as pessoas, a dizer o que gostam de ouvir e a dar música à oposição. Canta no banho porque, na sua opinião, o fado “é mais um estado de alma” e não necessita de grandes ensaios a não ser para decorar a letra. Antes reagia mal quando se esquecia, pedia ao público para cantar consigo e o “lalala” caía sempre bem. Agora tem mais à vontade e quando se esquece “paciência”.

“Sentir que sou útil é o que me faz andar aqui”
Tem uma filha licenciada em Fisioterapia e um filho licenciado em Direito que tem passado por vários governos socialistas como chefe de gabinete de ministros. Há dois anos teve um cancro nos intestinos, doença que lhe levou a esposa há 14 anos, a irmã com 45 e a mãe com 60 anos. O seu único medo é sofrer até à morte porque viu alguém a seu lado a sofrer até partir. Estar na política também é uma necessidade porque vive sozinho com uma gata e um gato e a vida de autarca permite o contacto com as pessoas. Pelo caminho encontra sempre fregueses que lhe falam dos seus problemas e acaba também por ser um “confidente, médico e psicólogo”. “Sentir que sou útil é o que me faz andar aqui”, afirma, revelando que o seu futuro na política depende mesmo desse sentimento de utilidade e que gostem de si.
Diz que tem cuidado com o que promete porque sente que falha quando não cumpre. A parte associativa é a que lhe dá “mais dores de cabeça” e a falta de pessoas para assegurar a actividade do rancho folclórico é o que mais o preocupa de momento, por ser “um dos melhores transportes da cultura e das tradições de uma terra”. Reconhece que a terra estava a ser bem governada, mas sentia que podia fazer mais. Focou-se em recuperar o passado, que acha que estava um pouco esquecido, nomeadamente: a escola mais antiga de Vila Chã de Ourique, com cerca de 100 anos, onde, além da quintinha, existe uma biblioteca e vai existir uma casa-museu e o centro interpretativo da terra; requalificar o Largo da Memória; recuperar as comemorações da Batalha de Ourique na vertente de homenagear as pessoas que fizeram com que a história de Vila Chã seja indissociável da história de Portugal. Este ano será recolocado o candeeiro que foi o primeiro ponto de luz eléctrica na vila, com cerca de 110 anos.
O autarca viveu numa quinta em Porto de Muge, concelho do Cartaxo, até a família perder tudo nas cheias de 1979 e ter de retomar a Vila Chã de Ourique. Estudou até aos 15 anos, começou a aprender a profissão de canalizador levado por um primo e aos 23, já casado, estabeleceu-se por conta própria, depois de ter estado emigrado em Angola, país onde trabalhou durante seis meses como canalizador e abandonou devido à guerra civil.
Vasco Casimiro quis tirar o 12º ano e formações na área da canalização. Correu Portugal de uma ponta à outra e hoje, devido às obrigações da junta de freguesia, trabalha de Santarém a Vila Franca de Xira. Levanta-se no máximo às 08h00 e quase todos os dias, incluindo fins-de-semana, vai cuidar dos animais da quinta pedagógica com uma funcionária. Segue para a junta de freguesia e no outro meio-dia é canalizador, quando não faz o contrário.

Vila Chã de Ourique está a recuperar população

Vila Chã de Ourique perdeu entre 2011 e 2021 cerca de 400 habitantes e desde 2021 que recuperou quase uma centena, segundo Vasco Casimiro. Com a aprovação da Área de Recuperação Urbana (ARU), espera uma maior aposta na recuperação de casas antigas. Relativamente ao que falta na vila, menciona o parque de estacionamento no jardim central, em fase de orçamentação, por causa do aumento de tráfego; e um polidesportivo, “uma luta que dura há vários anos”, uma vez que o ringue que foi demolido para o alargamento do Complexo Desportivo Ribeiro Ferreira não foi reposto noutro local.
Destaca a requalificação do mercado municipal que irá reposicionar os vendedores e colocá-los em pé de igualdade, acabando com as bancadas em cimento. Prevê-se três lojas viradas para o exterior que podem funcionar todo o dia, havendo já o interesse de uma churrasqueira e de uma comerciante que vende roupas. O presidente revela que há várias pessoas a recorrer a Vila Chã de Ourique depois do fecho do mercado em Santarém. Um lar em Vila Chã de Ourique é o sonho de toda a população, que dispõe apenas de centro de dia. Ao nível do concelho, Vasco Casimiro afirma que Valada é a freguesia com maior potencial turístico e que a Agência Portuguesa do Ambiente podia ter mais abertura. Uma escola náutica podia ajudar Valada, assim como alojamentos locais, conclui.

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