Foros da Charneca de luto pela morte de João Pedro Mateus
João Pedro Mateus, ciclista de 72 anos, faleceu num trágico acidente perto da Fajarda. Nos Foros da Charneca era conhecido pela sua discrição e vida tranquila. A sua morte, marcada por circunstâncias dolorosas e falta de socorro, deixou a comunidade de luto e indignada.
Na Tasca do Xupa, situada a um quilómetro do cemitério de Biscainho, onde João Pedro Mateus foi sepultado, o responsável pelo estabelecimento apenas confessou saber que “um dos irmãos” do ciclista falecido “mora” no Biscainho. Contou depois o passado trágico que parece assombrar a família. “Morreu-lhe um filho também num acidente”, revelou sobre um dos quatro irmãos, uma rapariga e três rapazes, do malogrado João Pedro Mateus, que faleceu aos 72 anos e deixou dois filhos. Foi vítima de atropelamento seguido de fuga (ver outro texto nesta página).
“Curiosamente o senhor da funerária esteve aqui a pôr o papel a dizer que ele estava a ser autopsiado (só quase uma semana depois é que o Ministério Público libertou o corpo) e depois veio substituir o aviso com o dia do funeral”, contou. “Para aqui não vinham muito”, disse o funcionário da Tasca do Xupa, explicando que os familiares “paravam mais nos Foros da Charneca”.
A uma distância de cinco minutos de carro, deixamos o Biscainho e chegamos a Foros da Charneca. Ao balcão da Taberna do Chico Rosa, um cliente auxilia o experiente proprietário do café dada as suas dificuldades de audição. O indivíduo, ao dizermos ao que vínhamos, referiu que a vítima do acidente fatídico de dia 11 de Julho, perto da Fajarda, trabalhava em propriedades a auxiliar no tratamento de cavalos e ajudava noutros afazeres no campo. “Ele morava aqui na zona, mas também andou por vários lados. Penso que esteve em Almeirim ou na Chamusca”, adiantou sem pormenorizar.
Na esplanada do estabelecimento está Custódio Silva, de 63 anos, rodeado por dois amigos que depressa nos responde quando falamos no nome de João Pedro Mateus. “Era bom homenzinho, não chateava ninguém, era impecável, mas muito calado. É muito triste estas coisas acontecerem”, prossegue, dizendo que, numa habitação a poucos metros dali, João Pedro Mateus chegou a residir durante alguns anos até se divorciar.
Depois, como mencionou outro dos clientes do espaço comercial, “andou por Almeirim ou na Golegã” até se reformar. Voltou para os Foros da Charneca e, por isso, “vinha aqui beber um cafezinho de manhã, dava umas voltinhas de bicicleta e não sei muito mais”, referiu. “Desconheço o que é que ele foi fazer nesse dia, mas tinha por hábito ir visitar pessoas amigas na Fajarda. Na verdade, “ninguém tem nada a ver com isso e fazia da vida dele o que quisesse”, disse Custódio Silva.
“A pessoa que fez aquilo devia ter pensado um bocadinho antes. Vai ficar sem camisa e sem nada. Pode acontecer a qualquer um, podia estar com a bebedeira ou não, ficava sem carta ou pagava uma multa, mas não tinha que fugir. É pior”, lamenta. Custódio Ferreira da Silva lembra um pormenor na bicicleta que João Pedro Mateus utilizava. “Por acaso ele até tinha uma coisa que se via bastante bem. Tinha um triângulo na caixa de trás da bicicleta. Aquilo vê-se bem em qualquer lado. Mesmo que não tivesse luz isso chamava a atenção”, indicou. “Não é digno uma pessoa morrer assim. Se tivesse tido ajuda podia haver uma hipótese de se safar, mas ninguém acudiu, coitado”, concluiu o amigo.
Condutor que atropelou João Pedro Mateus identificado cinco dias depois
O acidente ocorreu perto do entroncamento do Biscainho, na noite de 11 de Julho. O alerta foi dado por uma equipa dos Bombeiros de Benavente, que passava no local.
O condutor da viatura que no dia 11 de Julho atropelou mortalmente João Pedro Mateus, um ciclista de 72 anos, na estrada que liga Fajarda, concelho de Coruche, a Salvaterra de Magos, foi apanhado no dia 16, pela GNR, que estava a investigar o caso, nomeadamente o núcleo de investigação de acidentes. A detenção do homem ocorreu na sequência de um mandado de busca e envolveu também elementos do posto de Coruche. O suspeito já foi constituído arguido e, segundo O MIRANTE apurou, veio a confirmar ser ele o condutor da viatura no dia do atropelamento. Durante a investigação, a viatura tinha sido detectada estacionada num estaleiro em Foros de Almada, concelho de Benavente, e foram pedidos mandados de busca ao local, que foram executados. Entretanto vão ser feitas perícias à viatura. O acidente ocorreu perto do Entroncamento do Biscainho, cerca das 22h00 de 11 de Julho. O alerta foi dado por uma equipa dos Bombeiros de Benavente, que passava no local.