Sociedade | 30-07-2024 10:00

VFX derrotada na luta pelo enterramento da Linha do Norte

VFX derrotada na luta pelo enterramento da Linha do Norte
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Carlos Fernandes, vice-presidente da IP, já tinha avisado em entrevista a O MIRANTE que a duplicação à superfície seria inevitável

Sem capacidade para reverter um projecto que vai amputar Alhandra e Vila Franca de Xira, o município assume que está na hora de atirar a toalha ao chão e estudar e reivindicar alternativas que compensem o município pelos impactos que a ampliação da ferrovia vai causar no território.

A luta pelo enterramento da duplicação da Linha do Norte no concelho de Vila Franca de Xira está perdida, admitiu o executivo municipal na última semana e por isso a hora é de começar a estudar que contrapartidas deve o concelho receber pelos impactos que o projecto da Infraestruturas de Portugal (IP) vai causar. Isto depois do novo governo ter informado a câmara que alinha com o estudo e plano inicial da IP para o alargamento da Linha do Norte à superfície.
Apesar de continuar a manifestar a sua preferência pelo enterramento, os autarcas aprovaram por unanimidade uma posição conjunta onde manifestam disponibilidade em seguir o assunto, pretendendo ser informados regularmente do andamento do projecto e continuar a tornar pública a documentação relevante para o melhor esclarecimento e conhecimento dos residentes. O executivo quer também voltar a promover mais uma apresentação pública do projecto logo que avance a consulta pública ao Estudo de Impacto Ambiental que vai entretanto ser levado a cabo pela IP. Os presidentes das juntas de freguesia de Vila Franca de Xira e de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz vão também ser convidados a acompanhar de perto o assunto e a remeter contributos e exigências de contrapartidas à IP e Governo.
Depois das férias de Verão, em Setembro, a câmara quer realizar uma reunião extraordinária apenas para recolha formal de contributos das diversas bancadas políticas para as exigências a apresentar à IP e ao governo no âmbito deste projecto. “A IP respondeu-nos dizendo que a duplicação acontecerá à superfície e apresenta um conjunto vasto de razões técnicas, como a inexistência de espaços canal suficientes para passagem dos túneis, sobretudo na zona da ponte Marechal Carmona, que não tem largura suficiente”, lamentou o presidente do município, Fernando Paulo Ferreira.
Na resposta, a IP lembra também que um túnel com tamanha extensão custaria no mínimo 500 milhões de euros e obrigaria a bombagens de água permanentes. “Pedi audiência ao ministro das Infraestruturas e perguntei se a posição do governo é coincidente com esta da IP e foi afiançado que sim, que subscrevem a posição da IP. Face a esta realidade, temos de acautelar ao máximo os impactos que isto venha a ter sobre VFX e Alhandra e conseguir que as opções tomadas sejam as melhores possível”, lamentou o autarca.

Unanimidade nas críticas À IP
Para David Pato Ferreira, da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT), é um erro o governo seguir a proposta da IP de duplicação da linha à superfície. “Há pontos na explicação da IP em que é arrogante. Diz a IP que tinha de destruir a Fábrica das Palavras para fazer um túnel. Se assim fosse a estação central de Amesterdão não existia. Às vezes parece que brincamos aos Lego com mãos de criança. A IP tem uma tendência de passar atestados de ignorância a quem está à sua volta como se fossem os donos do mundo. Tenham a coragem de dizer que não há dinheiro nem vontade de fazer isto em túnel”, criticou.
Também Rui Santos, do Chega, não poupou nas palavras, acusando a IP de prejudicar o bem-estar das populações, lembrando a destruição que o projecto provocará na comunidade. “É constrangedor perceber que um ministro do PSD não ouve sequer as pessoas do seu partido, que têm interesse directo nesta situação e que decide a contento de um organismo público que devia defender o bem-estar dos cidadãos e parece ter optado por decidir o que é mais fácil e barato para aproveitar os fundos comunitários disponíveis”, condenou.
Por fim, a CDU, pela voz de José João Oliveira, lamentou que a IP insista numa solução que só é possível graças ao sacrifício das populações de Alhandra e Vila Franca de Xira. “Ficou demonstrado que não houve da IP qualquer intenção ou interesse em procurar outras soluções, deixando-nos propositadamente sem alternativas”, criticou. “Vamos assistir à destruição irremediável das duas localidades e da nossa qualidade de vida”, concluiu.

À margem/Opinião

Moradores de Alhandra vão ter comboios à janela

A administração da Infraestruturas de Portugal (IP) não conseguiu convencer a comunidade do concelho de Vila Franca de Xira, em duas sessões públicas realizadas no concelho e numa entrevista dada a O MIRANTE, das vantagens do projecto de duplicação à superfície da Linha do Norte. Praticamente o mesmo que aconteceu com a decisão de colocar pilaretes na Estrada Nacional 10 em Alhandra que continua por explicar. A empresa tem sido perita em defender-se sobre o polémico projecto de duplicação da linha do norte, evitando responder com clareza a questões tão simples como esta: se construir um túnel custa 500 milhões, então quanto vai custar o alargamento à superfície? Se esse número existe, porque não é conhecido? Não é compreensível, em pleno século XXI, que se opte por amputar duas localidades em prol de poupar uns milhões. Perder marcos históricos como por exemplo parte do jardim Constantino Palha ou o Flor do Tejo, em VFX, e ficar com uma linha de comboio a poucos metros de muitas janelas de muitas moradias de Alhandra, não parece de todo uma boa ideia.

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