Mau aproveitamento do rio Tejo foi tema de conversa no Mercado Ribeirinho de Abrantes
O MIRANTE esteve no Mercado Ribeirinho de Abrantes onde falou com alguns visitantes do mercado e produtores locais sobre a ligação ao Tejo, uma vez que um dos objectivos do evento era promover e potenciar a ligação da população ao rio. Produtores e artesãos locais aproveitaram iniciativa para promover sabores e saberes do concelho.
O casal Alda e José Moedas criou o projecto “Horta do Ti Zé”, há dois anos, quando José Moedas ficou desempregado da Central do Pego. Defendem que o rio Tejo devia estar melhor promovido com realização de mais actividades náuticas e piscatórias. “O clube náutico do concelho pouca actividade tem e raramente temos provas de pesca ou de canoagem aqui e era importante, nem que fosse uma vez por mês, para dinamizar e aproximar as pessoas do rio” afirma Alda Moedas.
Produzem vegetais no terreno que têm em casa, na Chainça, onde vendem ao público, além da participação no mercado de Abrantes ao sábado. Vendem frutas e legumes da época, no entanto, nesta altura de Verão os mais procurados são a melancia, melão, tomate e pimentos. No Mercado Ribeirinho de Abrantes, além da banca de venda de produtos alimentares têm uma banca de artesanato com peças produzidas por Alda Moedas, através de troncos de árvores. Artesã desde 2015, Alda Moedas elogia as iniciativas de promoção ao artesanato, mas reconhece que com as dificuldades económicas as prioridades de compra sejam outras. O casal já produzia para consumo próprio e vendia o excedente a amigos. Quando arrancaram com o projecto apenas foi necessário calcular o que teria de ser produzido a mais e começar a comercializar no mercado, além das vendas que fazem no terreno.
Falta uma praia fluvial em Abrantes
Verónica Pires é de Alvega onde vive com o namorado André Correia, com quem começou a trabalhar na produção agrícola em 2021. Juntamente com a sogra, Helena Cunca, participou pela primeira vez no mercado ribeirinho com os produtos produzidos pela família. Têm estreita ligação ao Tejo, uma vez que serve para regar os campos de produção, e lamentam que, muitas vezes, a água venha poluída. A poluição e a falta de profundidade, cada vez mais recorrentes, são as principais queixas. Verónica Pires acredita que o rio podia também estar melhor promovido, por exemplo, com a criação de uma praia fluvial em Abrantes. “Era uma opção que não mexia com os recursos naturais, ajudava a nível económico com o turismo e, consequentemente, a produção local e restauração. Existem várias praias fluviais no concelho mas nenhuma na cidade e iria ajudar a ligar a população ao rio” afirma.
Afirmam que a produção agrícola é um trabalho duro mas satisfatório e que faz bem psicologicamente. O fraco apoio à produção local, a nível nacional, é uma das críticas que apontam. “Os apoios são muito poucos, devia-se ajudar mais os agricultores. Mas quando falo de apoios não é da parte monetária, mas de criar uma cooperativa onde pudéssemos vender produtos em grande quantidade” diz Helena Cunca. Verónica Pires lamenta que seja muito difícil competir com os supermercados nos preços, uma vez que as grandes superfícies podem comprar em grandes quantidades enquanto os pequenos produtores enfrentam custos com combustível, terrenos, plantações, além do desgaste físico. Vendem em pequenas lojas de comércio local no mercado de Abrantes e em praças em Alvega.
Saudades dos tempos em que se nadava no Tejo
Alberto Lucas, Jorge Pires e Humberto Andrade, do Rossio ao Sul do Tejo, aproveitaram a manhã de domingo para dar um passeio de bicicleta pela zona do mercado ribeirinho. Jorge Pires considera que o rio é da maior importância para a região, mas lamenta que haja cada vez menos peixe devido à poluição. Humberto Andrade afirma que o açude está várias vezes avariado, ou por falta de manutenção ou por actos de vandalismo, o que leva o rio a perder profundidade. Alberto Lucas e Jorge Pires recordam, com saudade, quando bebiam água do Tejo e por lá nadavam.
“As pedras eram brancas, era possível ver o fundo, dava gosto beber ali água, nadar. Hoje em dia, por vezes, a água até é castanha”, atira Jorge Pires. Alberto Lucas relembra quando o rio era navegável, algo impossível hoje, devido à pouca profundidade e Humberto Andrade questiona o porquê de, nas raras ocasiões em que a água o permite, não serem realizadas mais actividades náuticas ou torneios de pesca. Para Jorge Pires, o estado do rio afecta até o turismo, pela visão que dá às pessoas de ver o rio vazio mas, principalmente, porque não permite aos restaurantes ter peixe do rio fresco para venda, devido à poluição.
“Antes era um rio, agora é uma ribeira”
Eduardo Rosário, João Mário e José Veríssimo são três amigos do Rossio, que acreditam que o rio Tejo está “muito mal tratado e mal aproveitado”. “Antes era um rio, agora é uma ribeira, passávamos dias aqui, bebíamos água, nadávamos, os barcos passavam, hoje é impossível” lamenta Eduardo Rosário. Culpa a poluição proveniente das empresas de celulose e a falta de empenho das entidades em fazer mudanças. João Mário recorda os tempos em que o rio era conhecido como “o mar de Abrantes”, dizendo que agora o que se vê é uma pequena ribeira com um açude, muitas vezes avariado, devido ao vandalismo. “Podia-se fazer uma praia fluvial aqui na cidade e mais passadiços para atrair pessoas ao rio, mas era necessário mudar muita coisa no tratamento das águas” afirma. “O rio já teve muita e boa qualidade de peixe. Até camarão pequeno ali andava. Agora os pescadores passam aqui um dia e pouco ou nada apanham, devido à poluição” atira José Veríssimo.