Sociedade | 07-08-2024 07:00

Humberto Silva, presidente da Junta de Fátima a contas com a justiça

Humberto Silva, presidente da Junta de Fátima a contas com a justiça
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Humberto Silva

Humberto Silva que foi agora acusado pelo Ministério Público de recebimento indevido de vantagem por parte de um empresário que explora pedreiras na freguesia, mas tem ainda outro caso que também causa embaraços ao PSD, que é o arrendamento da casa mortuária por ajuste directo e que só foi comunicado muito mais tarde à assembleia de freguesia.

O presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Humberto Silva, que agora foi acusado pelo Ministério Público (MP) de recebimento indevido de vantagem e abuso de poder, por beneficiar uma empresa que tem pedreiras na freguesia, a Filstone, do empresário Ricardo Filipe, acusado no mesmo processo de oferta indevida de vantagem, tem sido um autarca envolvido em polémicas desde que assumiu o cargo. Uma das situações mais estranhas é a da casa mortuária da localidade, enrolada em suspeições e complicações com várias falhas políticas que têm causado mal-estar no PSD local, partido pelo qual foi eleito.
A decisão de entregar a casa mortuária a um empresário sem passar cartão à assembleia de freguesia, num negócio bastante criticado e cheio de suspeições e polémicas, foi mais um dos sinais de uma gestão a contornar os procedimentos obrigatórios e as regras. A reabilitação do espaço e o alargamento do cemitério têm-se arrastado e já não vão iniciar-se neste ano de 2024 - mais de dois anos depois do negócio com o privado -, segundo já admitiu Humberto Silva na assembleia de freguesia.
Em Outubro de 2022 a junta de freguesia arrendou a Casa Mortuária de Fátima por 1.500 euros mensais, durante 20 anos, a um empresário da freguesia, mas o presidente só comunicou o negócio à assembleia de freguesia dez meses depois. Nessa altura já o autarca era arguido no caso das pedreiras, já tinham sido feitas buscas na autarquia e a Filstone estava em guerra com outra empresa concorrente por causa de acordos falhados de fornecimento de pedra e que viria a acabar com a desistência do processo judicial por parte dos envolvidos ao fim de quatro anos, em 2023. Na mesma altura em que se levantam as suspeitas sobre as ligações do autarca à Filstone, a empresa comprou os terrenos da extinta sociedade Fatiparques por meio milhão de euros.
No negócio da casa mortuária entregou antecipadamente 200 mil euros para ajudar a junta de freguesia a comprar o terreno para ampliação do cemitério. A primeira licença para a empreitada caducou e foi feito um pedido de renovação. O ajuste directo do arrendamento foi feito inicialmente com a empresa Bernardo Mendes Ferreira da Fonseca, Unipessoal Lda, de um jovem empresário cuja família trabalha no ramo dos funerais e que vendeu a sua empresa a outro empresário do concelho. A empresa mudou a designação para Complexo Fúnebre de Fátima, Lda, sociedade por quotas com o capital social de 50 euros, tendo por sócios outras duas sociedades por quotas: a “Ritmos do Silêncio”, com capital social de 49 euros, e a “Exuberante Azul”, com capital social de um euro.
Os casos do presidente da junta têm sido um embaraço para alguns autarcas do PSD no concelho de Ourém. O caso das pedreiras veio a lume numa altura também em que os moradores contestavam os inconvenientes das pedreiras. Um grupo de moradores de Casal Farto, freguesia de Fátima, revoltou-se mais uma vez e foi à reunião de câmara em Ourém, em Julho de 2021, exigir ao presidente do município que acabe com o inferno em que vivem devido ao pó, barulho e trânsito excessivo.
As pedreiras na freguesia de Fátima foram sempre um tema polémico, com o ex-vereador do PS, que foi director do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, José Alho, a dizer em 2019 a O MIRANTE que na área protegida do parque existem regras ambientais e que “do outro lado, onde as pedreiras estão a laborar e onde não existem regras, é a anarquia, o caos”.

A investigação do Ministério Público

A procuradoria regional de Évora acusou o presidente da Junta de Fátima, com base numa investigação que concluiu que Humberto Silva “recebeu, de forma injustificada, por duas ocasiões, ingressos para assistir a jogos de futebol e futsal, com refeições e comodidades incluídas, suportados pela sociedade arguida (Filstone). O Ministério Público sustenta ainda que o executivo da junta celebrou um protocolo de cedência de um terreno à empresa para esta depositar “tout-venant” e inertes resultantes das suas explorações.
Segundo a acusação, a cedência do espaço “violou legislação ambiental”. A procuradoria realça que a GNR levantou vários autos por depósitos de materiais no local, mas o autarca nunca fez cessar o protocolo e “possibilitou que tal situação se mantivesse, prejudicando o interesse público”. Diz ainda que o autarca solicitou ao empresário que suportasse o pagamento de obras de construção e remodelação na sua casa, tendo a empresa pago um projecto/estudo prévio de arquitectura para o imóvel.

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