Sociedade | 11-08-2024 10:00

Moradores de barracas no Sobralinho não vão ter privilégios para realojamento

Moradores de barracas no Sobralinho não vão ter privilégios para realojamento
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Afonso Pereira, da Associação Assistir, voltou a questionar o executivo municipal de VFX sobre quando está prevista uma solução para as barracas do bairro do Clarimundo no Sobralinho

O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira foi questionado sobre o ponto de situação do realojamento dos moradores do Bairro do Clarimundo, no Sobralinho.

Dirigentes da associação Assistir continuam a classificar a situação do bairro como um perigo para a saúde pública. O autarca mantém a convicção de que a atribuição de casas municipais é só para quem merece e em pé de igualdade com outros cidadãos.

Depois de em Maio ter mandado um cidadão de etnia cigana ir trabalhar primeiro antes de pedir casa à câmara, o presidente do município de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo Ferreira (PS), defendeu na última semana que os ciganos que hoje vivem em barracas no Bairro do Clarimundo, no Sobralinho, não terão privilégios especiais face a outros cidadãos na hora de obterem habitações municipais. O autarca foi questionado sobre o ponto de situação do realojamento das famílias que vivem em barracas no Bairro do Clarimundo, na última assembleia municipal, por dirigentes da Associação Assistir e voltou a dizer que a situação está a ser acompanhada pelos serviços sociais do município.
“Temos pouca capacidade de acção mas conhecemos todas aquelas pessoas, que também conhecem muito bem os apoios sociais existentes, que não lhes têm faltado, e sabem como recorrer a apoios para realojamento, tal como qualquer outro cidadão. Estas pessoas estão em pé de igualdade com qualquer outro cidadão que se tenha candidatado”, avisou Fernando Paulo Ferreira, lembrando que o terreno onde se encontram “é privado e está ilegalmente ocupado” pelos agregados familiares. “Alguns daqueles agregados foram realojados em devido tempo e à medida que foram ganhando autonomia decidiram voltar a ocupar aquele terreno”, criticou.
Há quase quarenta anos que várias pessoas vivem em barracas e habitações precárias sem o mínimo de condições de salubridade no Sobralinho, mesmo ao lado de uma das auto-estradas mais movimentadas do país, a A1, escondidas entre caniços e árvores num cenário terceiro-mundista.

Sete ratos numa panela
Maria José, de etnia cigana, vive em condições miseráveis há 36 anos no Bairro do Clarimundo numa barraca precária e suja, onde o telhado é seguro com o peso de pneus e outros materiais, sem esgotos nem água e com electricidade apenas quando o gerador funciona. Ela e a família já pediram ajuda a quatro presidentes de câmara: Daniel Branco, Maria da Luz Rosinha, Alberto Mesquita e Fernando Paulo Ferreira. Mas até hoje, diz, só Maria da Luz Rosinha foi ao bairro conhecer de perto as condições de insalubridade em que a comunidade vive e ninguém conseguiu resolver o problema.
“Vamos buscar a água a um chafariz e trazemos em bidões para aqui. As necessidades fazemos em baldes e no meio do mato quando precisamos. Não temos condições nenhumas aqui”, lamentava Maria José a uma reportagem que O MIRANTE realizou no local em Junho último. Nessa ocasião, como noticiámos, uma das vizinhas, Josefa Caldeira, garantia ter encontrado sete ratos a fazer ninho numa das panelas onde cozinhava.
Já na altura a comunidade garantia que se inscreve regularmente nos concursos de habitação social do município mas nunca passa de suplente. A última vez que uma família do bairro conseguiu casa entregue pela câmara foi há mais de uma década.

Um problema de saúde pública
Afonso Pereira, presidente da associação Assistir, confessou a O MIRANTE ter ficado chocado com o estado do bairro do Clarimundo. “Já ajudámos bairros na Costa da Caparica e em Lisboa mas não sabíamos que a situação aqui era tão grave. Ficámos chocados assim que entrámos aqui pela primeira vez. Este é um dos casos mais graves que já encontrámos”, garantia. Uma primeira medida que, para o dirigente, podia ajudar a população do bairro, seria a instalação de sanitários portáteis, pelo menos para evitar que as pessoas continuem a fazer as necessidades a céu aberto. “Estamos perante um problema de saúde pública. Não é compreensível nem faz sentido que às portas de Lisboa, num dos distritos onde mais se investe em habitação, um caso gravíssimo como este ainda não tenha sido resolvido”, criticava.

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