Dívidas deixaram Bombeiros de Constância à beira da insolvência
A associação humanitária passou o último mês com cerca de 50 mil euros de verbas cativas devido à penhora accionada por uma empresa de ambulâncias, que reclama uma dívida no valor de 175 mil euros. A insolvência esteve no horizonte mas acabou por ser afastada.
Dívidas e processos em tribunal têm dificultado a gestão da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Constância (AHBVC), tendo a direcção anunciado sexta-feira, 2 de Agosto, o levantamento de uma penhora e assegurado a prestação de socorro e os ordenados em dia. “Conseguimos um acordo de pagamento e desbloquear a questão da penhora e isso deu-nos uma lufada de ar fresco nas nossas finanças”, disse à Lusa o presidente da direcção, José Morgado, tendo lembrado o “sufoco financeiro” que a associação passou no último mês, com cerca de “50 mil euros de verbas cativas” devido à penhora de uma empresa de ambulâncias, que reclama uma dívida no valor de 175 mil euros.
José Morgado, vice-presidente da AHBVC nos últimos cinco anos, assumiu a direcção dos Bombeiros de Constância, no final de Julho, após pedido de suspensão de mandato de Adelino Gomes, por “questões de saúde”. “Sou conhecedor dos processos e estava ciente das graves dificuldades financeiras” que a instituição atravessa, declarou, nomeadamente desde 2019, num diferendo com o então Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), hoje Unidade Local de Saúde (ULS), a quem a associação reclama uma dívida na ordem de um milhão de euros por serviços prestados e que o CHMT não reconhece, arrastando-se o caso, desde então, pelos tribunais.
“Neste momento, os ordenados estão em dia, desde 30 de Julho, com o pagamento de subsídios de férias e de todas as obrigações, como a Segurança Social e IRS. Há uma série de anos atrás, desde 2019, que houve realmente um momento mais crítico nesta associação, em que tivemos uma falha de quatro meses, provocada por uma ocorrência com as contas do Centro Hospitalar”, afirmou José Morgado, acrescentando que, “apesar de momentos muito difíceis, até com falta de verbas para combustível, os profissionais foram inexcedíveis e asseguraram a prestação de socorro e o transporte de doentes”.
Uma associação quase centenária
A AHBVC, fundada em Maio de 1925, a poucos meses de celebrar o seu centenário, tem hoje um quadro operacional com 91 pessoas, dos quais 46 profissionais e 45 voluntários, com a associação a ter um compromisso mensal na ordem dos 80 mil euros (valor similar ao das receitas) para assegurar os vencimentos e os serviços, desde transporte de doentes ao combate a incêndios, e a sempre necessária renovação da frota e de fatos de protecção, entre outros.
José Morgado, que descreveu a situação da penhora como de “sufoco completo”, sem acesso a verbas “para conseguir colmatar todas as despesas e o assegurar da prestação de socorro à população”, admitiu à Lusa que a associação contou com o “apoio importante de alguns mecenas e amigos” e “esteve em risco de insolvência”, situação que chegou a ser ponderada. “Neste preciso momento, conseguindo ultrapassar esta questão da penhora, conseguimos garantir a continuidade e afastámos essa ideia porque, neste momento, não há sequer risco disso”, declarou.
O dirigente destacou a importância da união do corpo de bombeiros em todo o processo e a “capacidade de motivar e agregar” do comandante operacional, Marco Gomes, referindo que “direcção e comando, falam os dois a uma só voz, partilhando as mesmas ideias, alegrias e problemas”.
Afirmando acreditar e ter esperança num “acordo extra-judicial” com a ULS Médio Tejo que permita receber a verba que a AHBVC reclama e que vai permitir “sanear todas as contas que tem com quem de direito”, José Morgado disse que, “se tudo correr bem, é a partir daqui que se vai tentar recuperar, cada vez mais, o ânimo financeiro” de uma instituição quase centenária. “Queria mesmo chegar a essa data (100º aniversário) com a alma descansada, com todas essas contas liquidadas e com o espírito de que estamos prontos para mais 100 anos”, concluiu.