Sociedade | 13-08-2024 18:00

População de Torres Novas foi à reunião de câmara por causa de fecho de caminhos milenares

População de Torres Novas foi à reunião de câmara por causa de fecho de caminhos milenares
Moradores das aldeias lutam por caminhar em estradas que "são públicas desde há dois mil anos"

Vários residentes das aldeias de Casais Sebes, Gateiras e Valhelhas foram à última reunião de câmara de Torres Novas pedir um ponto de situação sobre o fecho dos caminhos milenares na Quinta do Marquês, também chamada de Quinta da Torre de Santo António. Presidente da câmara garantiu estar atento e não colocou de parte levar o processo para tribunal.

Margarida Ribeiro Manteiga foi a porta-voz de um vasto conjunto de munícipes que marcou presença na última reunião de câmara de Torres Novas, realizada a 31 de Julho, para demonstrar as preocupações das populações das aldeias de Casais Sebes, Gateiras e Valhelhas sobre o fecho dos caminhos milenares na Quinta do Marquês, também chamada de Quinta da Torre de Santo António. “É do conhecimento geral que são caminhos públicos e de serventia (…) Chegámos aos dias de hoje e vemos novamente os caminhos ameaçados. Sempre foram a forma mais rápida de chegar a Torres Novas, mas hoje também contribuem para um estilo de vida saudável, para a liberdade de caminhar, de desfrutar da natureza e de uma alternativa à estrada de alcatrão. Com o corte desses caminhos a aldeia de Casais Sebes ficou enclausurada no meio do campo. A sua única estrada de acesso é estreita, sem passeios. É com ironia que constatamos que um morador do centro da cidade de Torres Novas tem mais mobilidade do que um que viva no campo”, referiu, acrescentando: “pergunto: o que está a ser feito para repor o acesso aos caminhos e o que resultou da reunião com os proprietários? (…) os senhores foram eleitos para defender os nossos interesses e não os interesses de investimentos de fundos estrangeiros”, concluiu.
Recorde-se que os novos proprietários, que querem construir na quinta uma unidade hoteleira de luxo, colocaram uma corrente com uma placa a dizer que é propriedade privada. A corrente marca agora o início de uma bonita estrada de terra batida, ladeada de árvores e terrenos com oliveiras. As duas estradas sempre foram usadas pela população para chegar à cidade de Torres Novas, situada a cerca de três quilómetros de distância.
O presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira, mantém a postura que demonstrou quando o assunto se tornou público, referindo que uma primeira reunião com o casal proprietário transmitiu que o município ia “aprofundar a legalidade dos caminhos, sem colocar em causa a importância para o concelho da reabilitação da quinta e a construção de um hotel cinco estrelas”. Pedro Ferreira continuou assumindo que “a figura jurídica funciona em qualquer parte do país e poderá decidir o caso”, embora reconhecendo que “esse será sempre o último caminho”. O autarca disse ainda que o serviço de património do município descobriu que no cadastro de propriedade constam caminhos públicos dentro da Quinta do Marquês. “Depois de terminarmos o trabalho técnico, vamos voltar a ter uma reunião com os proprietários para procurar a melhor solução e saber se vão continuar a teimar em ter as correntes a vedar o acesso”, vincou, terminando. “Quando era pequena era visita frequente daquela quinta, como vocês sempre a utilizaram. A câmara está atenta e a junta também”, concluiu.

“Não aceitamos que as estradas deixem de ser públicas”

O MIRANTE esteve recentemente com alguns moradores das aldeias que não hesitam: “as duas estradas sempre foram públicas e não aceitamos que deixem de ser”, afirmou, sem hesitar, uma das residentes locais que se juntou ao grupo de protesto. “Era por aqui que eu ia para a escola todos os dias. Demorava cerca de 45 minutos a pé”, conta Fernando Graça, que há 48 anos casou precisamente na capela pertencente à propriedade. Na altura, a Quinta do Marquês pertencia ao Conde de Foz que autorizou a cerimónia. O sumptuoso palácio do século XIX, classificado como património cultural, passou por muitas mãos até ser recentemente comprado por investidores para, segundo informação que circula, o transformar numa unidade hoteleira de luxo. A população garantiu ao nosso jornal que não vai deixar de manifestar a sua indignação enquanto não conseguir o seu objectivo, que é voltar a poder passear tanto na estrada romana como na que passa no interior da propriedade. “Percebemos que não queiram carros a passar, mas não nos podem proibir de caminhar por estradas que são públicas desde há dois mil anos”, afirmou Margarida Manteiga, a porta-voz dos moradores.

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