População de Torres Novas foi à reunião de câmara por causa de fecho de caminhos milenares
Vários residentes das aldeias de Casais Sebes, Gateiras e Valhelhas foram à última reunião de câmara de Torres Novas pedir um ponto de situação sobre o fecho dos caminhos milenares na Quinta do Marquês, também chamada de Quinta da Torre de Santo António. Presidente da câmara garantiu estar atento e não colocou de parte levar o processo para tribunal.
Margarida Ribeiro Manteiga foi a porta-voz de um vasto conjunto de munícipes que marcou presença na última reunião de câmara de Torres Novas, realizada a 31 de Julho, para demonstrar as preocupações das populações das aldeias de Casais Sebes, Gateiras e Valhelhas sobre o fecho dos caminhos milenares na Quinta do Marquês, também chamada de Quinta da Torre de Santo António. “É do conhecimento geral que são caminhos públicos e de serventia (…) Chegámos aos dias de hoje e vemos novamente os caminhos ameaçados. Sempre foram a forma mais rápida de chegar a Torres Novas, mas hoje também contribuem para um estilo de vida saudável, para a liberdade de caminhar, de desfrutar da natureza e de uma alternativa à estrada de alcatrão. Com o corte desses caminhos a aldeia de Casais Sebes ficou enclausurada no meio do campo. A sua única estrada de acesso é estreita, sem passeios. É com ironia que constatamos que um morador do centro da cidade de Torres Novas tem mais mobilidade do que um que viva no campo”, referiu, acrescentando: “pergunto: o que está a ser feito para repor o acesso aos caminhos e o que resultou da reunião com os proprietários? (…) os senhores foram eleitos para defender os nossos interesses e não os interesses de investimentos de fundos estrangeiros”, concluiu.
Recorde-se que os novos proprietários, que querem construir na quinta uma unidade hoteleira de luxo, colocaram uma corrente com uma placa a dizer que é propriedade privada. A corrente marca agora o início de uma bonita estrada de terra batida, ladeada de árvores e terrenos com oliveiras. As duas estradas sempre foram usadas pela população para chegar à cidade de Torres Novas, situada a cerca de três quilómetros de distância.
O presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira, mantém a postura que demonstrou quando o assunto se tornou público, referindo que uma primeira reunião com o casal proprietário transmitiu que o município ia “aprofundar a legalidade dos caminhos, sem colocar em causa a importância para o concelho da reabilitação da quinta e a construção de um hotel cinco estrelas”. Pedro Ferreira continuou assumindo que “a figura jurídica funciona em qualquer parte do país e poderá decidir o caso”, embora reconhecendo que “esse será sempre o último caminho”. O autarca disse ainda que o serviço de património do município descobriu que no cadastro de propriedade constam caminhos públicos dentro da Quinta do Marquês. “Depois de terminarmos o trabalho técnico, vamos voltar a ter uma reunião com os proprietários para procurar a melhor solução e saber se vão continuar a teimar em ter as correntes a vedar o acesso”, vincou, terminando. “Quando era pequena era visita frequente daquela quinta, como vocês sempre a utilizaram. A câmara está atenta e a junta também”, concluiu.
“Não aceitamos que as estradas deixem de ser públicas”
O MIRANTE esteve recentemente com alguns moradores das aldeias que não hesitam: “as duas estradas sempre foram públicas e não aceitamos que deixem de ser”, afirmou, sem hesitar, uma das residentes locais que se juntou ao grupo de protesto. “Era por aqui que eu ia para a escola todos os dias. Demorava cerca de 45 minutos a pé”, conta Fernando Graça, que há 48 anos casou precisamente na capela pertencente à propriedade. Na altura, a Quinta do Marquês pertencia ao Conde de Foz que autorizou a cerimónia. O sumptuoso palácio do século XIX, classificado como património cultural, passou por muitas mãos até ser recentemente comprado por investidores para, segundo informação que circula, o transformar numa unidade hoteleira de luxo. A população garantiu ao nosso jornal que não vai deixar de manifestar a sua indignação enquanto não conseguir o seu objectivo, que é voltar a poder passear tanto na estrada romana como na que passa no interior da propriedade. “Percebemos que não queiram carros a passar, mas não nos podem proibir de caminhar por estradas que são públicas desde há dois mil anos”, afirmou Margarida Manteiga, a porta-voz dos moradores.