Vítima de acidente com autocarro escolar em 2009 ficou com marcas para toda a vida
André Marques, vítima de acidente num autocarro escolar de Benavente há 15 anos, continua a enfrentar graves sequelas e luta por uma indemnização adequada. A família, que vive entre França e Portugal, quer reabrir processo e garantir meios que suportem as despesas médicas relacionadas com os problemas de saúde causados pelo acidente.
André Marques, de 20 anos, continua a sofrer as consequências de um acidente ocorrido em 2009 (ver caixa), quando seguia num autocarro da Câmara de Benavente que colidiu com um camião. O jovem, que na altura tinha cinco anos e frequentava o Jardim-de-Infância de Samora Correia, sofreu um traumatismo no pâncreas devido a um defeito no banco do autocarro, que se deslocou durante o impacto.
“Tenho de fazer uma bateria de exames anualmente, incluindo ecografias, para monitorizar a minha condição médica”, revela André Marques a O MIRANTE. “Os quistos que se formaram no pâncreas causaram-me dores e impediram-me de comer normalmente durante a infância e, ainda hoje, resultando num peso muito abaixo dos valores de referência para a minha idade”, afirma.
Os quistos, que calcificaram em 2019, também o impediram de praticar desporto dentro e fora das aulas. “Tive apoio psicológico após o acidente, mas com a mudança para França em 2012, não consegui continuar o acompanhamento devido aos custos elevados”, lamenta. A família, que inicialmente residia em Paris e agora vive em Estrasburgo (França), continua a lutar por justiça. Rita Guerreiro, mãe de André, de 43 anos, destaca a dificuldade em obter uma indemnização adequada. “Recebemos 17 mil euros após seis meses de espera, mas o valor só podia ser gasto ao longo de cinco anos. Agora queremos reabrir o processo. Estamos a tentar pedir apoio à Câmara de Benavente e à seguradora Fidelidade, mas ambas passam a responsabilidade uma para a outra”, explica.
Um relatório da médica Claire Rolland Jacquemin, datado de 4 de Julho de 2024, confirma que André sofre de desnutrição grave e dores crónicas desde o acidente. “O traumatismo craniano causa-lhe dores de cabeça frequentes e irritabilidade, com elementos depressivos ocasionais. O seu Índice de Massa Corporal (IMC) situa-se entre 15 e 16, indicando Grau III de Desnutrição”, constata a médica num relatório a que O MIRANTE teve acesso.
A família continua a querer reabrir o processo, com base na promessa da seguradora em reconsiderar o caso se surgissem consequências a longo prazo. No entanto, André Marques tem enfrentado dificuldades em contactar a companhia de seguros. “Queremos pedir novamente um apoio à seguradora por causa do acidente. Eles julgaram que a minha situação ficaria resolvida e nunca consideraram que pudesse ter sequelas como aquelas que tenho tido. Inicialmente os médicos pensavam que os quistos no pâncreas podiam ser de uma doença, mas está provado que foi consequência do acidente”, explicou André Marques, adiantando que irá submeter-se a mais exames para provar que hoje usa óculos por causa do acidente. “Isto tudo são custos que me vão acompanhar o resto da vida”, lamenta.
Com o 12.º ano completo, André Marques pretende frequentar o ensino superior num curso de gestão comercial. Recentemente o jovem realizou um dos seus sonhos ao saltar de paraquedas no aeródromo em Évora e fez uma tatuagem com as coordenadas do seu local de nascimento. “Apesar de tudo o que já vivi, quero, no futuro, proporcionar uma infância normal aos meus filhos”, concluiu.
Câmara descarta responsabilidades no caso
Carlos Coutinho, presidente da Câmara de Benavente, refere que a autarquia, como qualquer outra entidade, “está obrigada a ter seguros que cobrem a responsabilidade em caso de acidentes”. O município, segundo referiu, não pode assumir essas responsabilidades directamente. “Somos uma entidade pública, contratámos o seguro, pagámos e alguém tem de assumir as responsabilidades. Essa situação foi devidamente acautelada pela companhia de seguros. A mãe referiu, posteriormente, que há situações de saúde que podem ter sido, ou não, consequência do acidente. O que posso dizer é que, da parte da câmara, já há alguns anos contactámos a companhia de seguros. Fizemos uma reunião entre as partes e percebemos que havia algo menos correcto naquele processo. A câmara, compreendendo sempre as situações que surgem, não tem responsabilidades neste caso”, sublinhou o autarca.
Recorde-se que em reunião de câmara realizada em 30 de Abril de 2018, o executivo municipal deliberou por unanimidade, relativamente ao acidente automóvel de 24-06-2009, aprovar a proposta do presidente de agendamento de uma reunião entre a autarquia e a companhia de seguros. O objectivo era perceber até que ponto existiam condições para esclarecer os relatórios apresentados pela mãe do aluno e a posição da companhia que, pelos relatórios médicos que tinha na sua posse, reafirmava que não existia nexo de causalidade entre o acidente e a situação clínica da criança. Actualmente, a família aguarda uma reunião com o município de Benavente por videochamada.
Acidente feriu oito crianças
No dia 24 de Junho de 2009, pouco antes das 15h30, uma colisão do autocarro da Câmara de Benavente com um camião na EN 118 (no sentido Alcochete - Porto Alto), junto à Ponte das Enguias, em Samora Correia, causou ferimentos em oito crianças de quatro e cinco anos e no motorista do autocarro, que foram transportados para o Hospital de Vila Franca de Xira. À data, O MIRANTE reportou que uma das crianças, André, foi transferida para o Hospital de Santa Maria com queixas na zona abdominal. As crianças frequentavam o Jardim-de-Infância de Samora Correia e regressavam de uma visita de estudo. A causa do acidente terá sido uma travagem brusca de um ligeiro que seguia à frente do camião, que teve de travar a fundo. O autocarro municipal seguia atrás e o seu condutor não conseguiu evitar o embate. Segundo a GNR, o condutor do ligeiro deixou o local e não foi identificado.