Os dois voluntários do Sardoal que protegem a população dos fogos
Hugo Gaspar e Fernando Inácio são os dois voluntários que prestam serviço enquanto oficiais de segurança da aldeia de Santa Clara, no âmbito do programa “Aldeia Segura” do Sardoal. Acreditam que grande parte dos incêndios são por fogo posto, mas reconhecem que é fundamental olhar para a floresta de uma forma mais cuidadosa.
Hugo Gaspar e Fernando Inácio são os dois oficiais de segurança da aldeia de Santa Clara, no âmbito do programa “Aldeia Segura” no concelho do Sardoal. Voluntários do programa há três anos, acreditam que grande parte dos incêndios deve-se a fogo posto. A redução dos incêndios, defendem, é justamente pelo facto de haver cada vez mais incendiários presos e punidos. “Não nego que haja incêndios por causas naturais, mas temos o caso de Ourém que ainda a semana passada teve 40 ocorrências, algo semelhante ao ano passado. Só acontece lá? Ficam de um ano para o outro? Ou anda lá alguém a pegar fogos?”, atira Fernando Inácio. Hugo Gaspar partilha da opinião do colega. “Ando todo o dia na floresta, conheço bem os terrenos, as características, os trabalhos feitos e as maquinarias. Os incêndios por causa natural, acredito eu, são uma pequena percentagem. Não é pelos oficiais ou pelas faixas de segurança que os incêndios diminuem, mas sim porque não há ninguém a atear”, diz.
Proteger a população em caso de fogo
Há três anos como oficiais de segurança, explicam que o trabalho é juntar a população em caso de incêndio e transportar as pessoas, em segurança, até aos pontos de abrigo. Para isso, explicam, é fundamental conhecer bem o local e toda a população. “Temos as pessoas identificadas para saber onde moram, quem tem dificuldades de mobilidade, quem são as pessoas acamadas e como, em caso de catástrofe, podemos fazer o seu transporte em segurança para os abrigos”, explica Hugo Gaspar.
Cada aldeia tem definidos vários pontos de abrigo como antigas escolas, capelas, juntas de freguesia e espaços amplos ao ar livre, identificados com sinalização de indicação até ao local. Fernando Inácio afirma que a principal função do oficial de segurança é não deixar ninguém morrer. Além do conhecimento da população, é fundamental conhecer vários caminhos da freguesia e a floresta. Hugo Gaspar é dono de uma empresa florestal e diariamente faz vários quilómetros pelas florestas do concelho. “Fui, praticamente, criado na floresta. Em criança fiz ali vários caminhos e sempre trabalhei na floresta. Passo os dias a fazer vários quilómetros e permite-me conhecer bem a zona florestal do concelho”, diz Hugo Gaspar. Fernando Inácio começou a trabalhar em criança na área rural e a guardar gado, o que também lhe deu conhecimento da zona.
Limpeza de terrenos é fundamental
Fernando Inácio recorda um dos incêndios em 1995, perto de sua casa, como uma noite longa e difícil passada com baldes a tentar combater o fogo. “As faixas de segurança ajudam mas quando vem irregular é muito difícil de controlar, nunca vem a direito e expande muito rápido, parece o diabo”, diz. A falta de civismo e consciencialização com a limpeza dos terrenos é outro dos aspectos que lamenta. “Às vezes um tem o terreno por limpar e o vizinho do lado não quer limpar porque diz que não é justo um ter e outro não, que quando o fogo vier queima os dois por igual. Acho que mais do que as pessoas terem esse bom senso era as entidades aplicarem medidas e castigos”, afirma.
Hugo Gaspar considera as faixas de segurança uma medida bem aplicada, que impede os incêndios de chegarem perto das habitações. No entanto, acredita que é preciso olhar mais para as florestas e aplicar mais incentivos. “O pinheiro e o eucalipto são condenados à nascença porque são sempre os culpados dos incêndios. Cortamos pinhais para meter painéis solares ou outras construções e assim destruímos a nossa floresta. Qualquer dia queremos respirar e não temos ar”, lamenta.