Sociedade | 20-08-2024 12:00

Furtos em terrenos agrícolas desesperam agricultores no Vale do Sorraia

Furtos em terrenos agrícolas desesperam agricultores no Vale do Sorraia
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Paulo Barata, presidente da Associação de Agricultores do Concelho de Coruche e Vale do Sorraia

Agricultores de Coruche e Vale do Sorraia alertam para o aumento preocupante de furtos em propriedades agrícolas e apelam a mudanças nas molduras penais para castigar autores dos crimes.

Pedro Barata, presidente da Associação de Agricultores do Concelho de Coruche e Vale do Sorraia, está preocupado com o aumento dos furtos em explorações agrícolas na região, alertando para as dificuldades enfrentadas pelos agricultores devido à falta de segurança e de apoio por parte das autoridades e do Governo. “Temos vivido tempos conturbados e aquela expressão que o mundo rural está a saque é cada vez é mais real”, começa por dizer a O MIRANTE.
Natural e residente em Coruche, Pedro Barata, de 42 anos, é agricultor há 15 anos e pertence a uma família ligada ao sector desde o seu bisavô. Formou-se em Engenharia Agronómica em Santarém e está na direcção da associação de agricultores há nove anos. Está no seu segundo mandato enquanto presidente. Ao nosso jornal, realça que os roubos de equipamentos agrícolas e materiais associados, como cobre e cortiça, têm vindo a aumentar, comprometendo gravemente a sustentabilidade do sector. Segundo o dirigente, desde o início do ano, foram registados cerca de vinte furtos em postos de transformação de energia eléctrica, tanto de particulares como do Estado. “A substituição do cobre por alumínio no interior dos PT foi uma medida tomada para evitar estes furtos, mas os criminosos continuam a roubar, ignorando as placas que indicam a presença de alumínio”, afirma Pedro Barata, que alerta para o impacto destes crimes na rega das culturas.
O presidente da Associação de Agricultores do Concelho de Coruche e Vale do Sorraia frisa que os furtos não se limitam a uma questão sazonal. “No Inverno os roubos centram-se nas pinhas e na lenha, mas a verdade é que a lenha já é roubada durante todo o ano. A campanha agrícola vai sendo também afectada por furtos de gasóleo nos tractores, que muitas vezes ficam nos campos por questões de praticidade”, explica. Pedro Barata destaca ainda o prejuízo significativo causado pelos furtos de sistemas de GPS de alta precisão instalados em tractores, cujo custo pode variar entre 15 e 20 mil euros, conforme o nível de tecnologia.
Os furtos de cortiça, uma prática comum na região, foram também mencionados pelo agricultor, que denuncia o impacto devastador na economia familiar dos pequenos proprietários. “Este tipo de roubo, que já vai sendo um clássico, traduz-se num prejuízo que perdura no tempo. Muitos pequenos proprietários, que retiram cortiça de nove em nove anos, vêem-se privados de um rendimento extra que podia representar alguns milhares de euros no seu orçamento familiar”, lamenta. Os proprietários e produtores também se tentam defender com meios de vigilância e até esses são furtados, acrescenta.
São precisos mais meios de combate
Apesar das dificuldades, o dirigente associativo reconhece o esforço das forças de segurança, mas sublinha que estas não dispõem de meios suficientes para cobrir a extensa área do concelho de Coruche, que é a maior do distrito de Santarém e a 10.ª a nível nacional. “As patrulhas são insuficientes, especialmente num território com características orográficas tão específicas, com estradas de terra batida e cabeços, onde nem todos os veículos conseguem circular”, vinca. O agricultor apela a uma maior eficácia do sistema judicial e à introdução de penas mais severas para os autores destes crimes, argumentando que o impacto dos roubos deve ser avaliado de forma global.
“Um roubo de cortiça que danifique uma árvore pode representar um prejuízo de cinco mil euros, embora o valor do roubo em si seja de apenas 500 euros. Já a reposição de um PT, conforme a sua potência, pode exigir um montante de 25 mil euros, mas se colocar em causa uma cultura o prejuízo pode ser bastante avultado”, exemplifica. Pedro Barata destaca que o sistema jurídico enfrenta dificuldades em punir adequadamente os crimes de roubo agrícola, com penas mínimas e falta de ferramentas legais para combater eficazmente o problema. Além disso, a burocracia atrasa a resposta das autoridades e desmotiva a apresentação de queixas, o que distorce a percepção da realidade por parte do Governo. A falta de segurança, segundo Pedro Barata, está a desmotivar os jovens agricultores e a comprometer o combate à desertificação e o apoio ao mundo rural. “Quando se fala em combater a desertificação e apoiar o mundo rural, tem que começar pelo sentimento de segurança”, conclui. O MIRANTE pediu esclarecimentos à GNR, mas não recebeu resposta até ao fecho desta edição.

Furto de metais não preciosos provocam prejuízos avultados

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