Hospital de VFX vai manter doentes internados em garagem por falta de espaço
Na última semana a familiar de um utente fez queixa no livro de reclamações por ter considerado desumana a forma de funcionamento do espaço, que nem sequer tem janelas para ventilar a área ou permitir a entrada de luz natural. Administração garante que todos os cuidados são prestados com dignidade.
O Serviço de Observação 4 (SO4) do Hospital de Vila Franca de Xira, criado numa das garagens do edifício durante a pandemia de Covid-19 para dar resposta ao aumento de utentes a recorrer ao hospital, continua a funcionar três anos depois e não há nenhuma perspectiva de que venha a ser encerrado de vez. O conselho de administração do hospital, liderado por Carlos Andrade Costa, diz a O MIRANTE que o espaço cumpre os requisitos para a prestação assistencial para o qual foi projectado, à data, pela entidade privada que geria o hospital e que por isso o SO4 vai ser mantido em funcionamento, “nas condições herdadas, enquanto o elevado número de doentes assistidos neste hospital o exija”, explica.
São más notícias para quem continua a achar que o espaço não tem as melhores condições para acolher utentes. O SO4, que nasceu como solução provisória para acolher doentes covid há três anos, rapidamente passou a definitivo dando resposta a três dezenas de utentes em simultâneo numa situação que não permite as melhores condições de privacidade entre utentes. O cenário, recorde-se, já tinha chocado os representantes da Ordem dos Médicos e do Sindicato Independente dos Médicos quando, em 2021, visitaram o hospital e se depararam com o funcionamento do serviço. Daí para cá pouca coisa se alterou.
Na última semana, a familiar de um utente que esteve internado no SO4 tentou queixar-se à administração do hospital, mas como não recebeu resposta decidiu formalizar uma queixa no livro de reclamações, criticando, entre outras situações, a dificuldade dos familiares de quem ali está internado ter acesso a informação sobre o estado de saúde dos pacientes, havendo apenas disponibilização de informações às segundas, quartas e sextas-feiras. Na reclamação a utente classifica as condições em que viu o seu pai internado como sendo “completamente desumanas”, criticando também apenas ser permitido a cada familiar a permanência com o doente durante meia hora por dia. O MIRANTE também recebeu nos últimos dias queixas de outros profissionais de saúde do hospital que alertam para uma alegada sobrecarga profissional naquele serviço, com relatos da existência de dias em que estão apenas 2 enfermeiros no SO4 que não conseguem dar resposta a todas as solicitações.
Ao nosso jornal o conselho de administração refuta essa ideia, explicando que os recursos de enfermagem afectos ao SO4 “dependem sempre do número de utentes internados” e garante que quanto à humanização de cuidados de saúde, “os profissionais do hospital nos cuidados de saúde que prestam actuam em consonância com a dignidade da pessoa e no estrito cumprimento de todos os procedimentos clínicos e de humanidade”.