Sociedade | 27-08-2024 21:00

Três amigos que têm em comum a paixão pela arte de fotografar

Três amigos que têm em comum a paixão pela arte de fotografar
José Gomes, Nuno Rodrigues e Emanuel Cipriano têm em comum a paixão pela fotografia

A fotografia é uma arte que faz parte da vida de José Gomes, Nuno Rodrigues e Emanuel Cipriano. Quis o destino que os três fotógrafos se unissem para uma residência artística, que acabou por dar em amizade. Uma conversa animada com O MIRANTE, na Biblioteca Municipal de Alenquer, a propósito do Dia Mundial da Fotografia, que se assinala a 19 de Agosto.

A Inteligência Artificial não consegue reproduzir a essência de um sorriso. Esta é a convicção de José Gomes, 61 anos, natural de Olhalvo, Alenquer, que descobriu a fotografia em 1983, incentivado por um colega. Militar reformado da Força Aérea, aos 20 anos comprou a primeira máquina fotográfica analógica, uma reflex de 35 MM, que ainda guarda. Desde aí teve várias máquinas, mas é poupado. Só actualiza os equipamentos à medida que rentabiliza o hobbie. Moinhos, papoilas, girassóis, praias e paisagens eram o seu disparo favorito. Agora emociona-se com pessoas. Cor e vida fazem parte dos seus retratos, pouco editados, para publicar as imagens como foram captadas.
Nas lembranças fotográficas recentes recorda o encontro frontal com Alfredo Cunha, na manifestação do 25 de Abril em Lisboa. Quando descia rua abaixo, de máquina na mão, dá de caras com o conhecido fotojornalista que cumprimentou naquele momento. Quando as máquinas eram de rolo, recorda, uma fotografia tinha de ser bem pensada antes do disparo. Agora a magia perde-se um pouco porque dar ao dedo não implica mais custos na revelação.
José Gomes é um dos três fotógrafos de Alenquer que aceitou no ano passado o desafio do município e realizou um intercâmbio com fotógrafos dos Açores. Sob o mote o “Espírito Santo em Objectiva - Alenquer / Ponta Delgada”, que acabou por dar em livro, os três desenvolveram uma amizade, convívio e troca de ideias.

A drogaria na Merceana e a fotografia de época
Do grupo faz parte Nuno Rodrigues, 39 anos, da Merceana e que recorda com carinho José Abreu, pai de um tio que há 30 anos lhe incutiu o gosto pela imagem. A trabalhar com o pai num stand de motas lembra-se de ir para os calabouços da drogaria de José Abreu ver as fotografias dos anos 40 aos 70 e ficar fascinado. “Na minha primeira máquina, para revelar um rolo com 36 fotografias, custava três contos e 600. A expectativa era grande entre o momento que mandamos revelar e a espera até vermos o que saia dali”, relembra. Em 2007 comprou a primeira máquina digital e as redes sociais fizeram o resto. Começou a ser contactado por pessoas a pedir trabalhos fotográficos. Hoje recusa fotografar de borla e cobra pelas reportagens fotográficas que vão deste baptizados e casamentos a produtos.
A trabalhar como funcionário público, realizou o sonho de ter um estúdio na Merceana, onde recria fotografias antigas. Tem um guarda-roupa próprio e um trabalho inspirado nas fotografias que via na mercearia de infância. “José Abreu incutiu-me esta paixão e neste Dia Mundial da Fotografia queria agradecer-lhe publicamente. Quando meto a câmara à frente da cara entusiasmo-me. Mas a técnica é tão importante quanto a criatividade. Posso ser criativo mas para conseguir fazer tenho de saber a técnica”, refere. Nuno Rodrigues gostava de ter oportunidade de fotografar cenários de guerra e hábitos de vida de outras etnias e povos, mas com esposa e filhos será difícil enveredar por aí. Vai continuar a recriar o antigamente através do tratamento das fotografias dando-lhe o aspecto “vintage”.

Somos todos sensíveis à luz
A fotografia está banalizada pelos meios digitais e pelo telemóvel. Mas os usuários não são fotógrafos, querem uma imagem e carregam no botão. “Quem não percebe de fotografia pode tirar uma fotografia boa e bonita mas não vai entender como fez essa fotografia. Essa é a diferença entre quem sabe e conhece”, defende Emanuel Cipriano, 37 anos, da aldeia da Espiçandeira e fotógrafo profissional.
Fascinado pelos métodos de fotografia analógica e processos alternativos, o formador de fotografia e artista conta que o regresso ao passado tem atraído cada vez mais adeptos até porque hoje em dia há muita competição no meio digital. Começou o percurso no mundo da fotografia em Idanha-a-Nova, no Curso de Multimédia, estudou fotografia na ETIC, em Lisboa e licenciou-se em Fotografia no Instituto Politécnico de Tomar. Não gosta de expor o trabalho nas redes sociais apesar de saber que lhe dá visibilidade. Tem preferência por fotografar natureza e viagens e alimenta o sonho de poder fotografar para a National Geographic. “Tento transmitir o que vejo nas fotografias. Tenho imagens que olho e até sinto o cheiro do sítio onde estive”, conta, acrescentando que às vezes para fazer fotografia é preciso uma dose de loucura.
Emanuel Cipriano não se sente ameaçado pela Inteligência Artificial (IA) que usa como ferramenta. “O que significa fotografia? Desenhar com a luz. A IA cria imagens e não tira fotografias, a não ser que controle uma câmara”, explica. Para ser um bom fotógrafo é preciso experimentar muito e saber a técnica, afinal “somos todos sensíveis à luz” e com prática podemos realizar uma boa fotografia, acrescenta.

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