Sociedade | 30-08-2024 12:00

Aeroporto na Ota era a solução e Campo de Tiro em Benavente é uma decisão criminosa

Aeroporto na Ota era a solução e Campo de Tiro em Benavente é uma decisão criminosa

José Armando Vizela Cardoso tem 83 anos, é tenente-general piloto-aviador reformado, foi responsável pela construção do aeroporto de Beja e diz que é um crime construir o novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro em Benavente.

Qual é a sua visão sobre a localização do novo aeroporto em Portugal, tendo em conta o estudo que realizou sobre o aeroporto de Tancos? Em 2017 fui abordado para ajudar num estudo sobre a possível localização de um novo aeroporto na região Centro. A Câmara de Coimbra pagou 200 mil euros para ver se podia fazer ali um aeroporto internacional e penso que a Câmara de Leiria andou metida nisso também. Aceitei de imediato e realizei o trabalho sem pedir qualquer remuneração, embora pudesse ter pedido até 400 mil euros sem quaisquer problemas de consciência. O projecto foi sugerido por uma autoridade aeronáutica, a AESA, que actualmente é a Aeroquip, uma empresa que constrói e administra aeroportos na América do Sul. Fez-se, nesse mesmo ano, um estudo sobre as necessidades aeroportuárias para Portugal baseado nas seguintes premissas: na projecção que o Papa tinha dado na visita em 2016; no facto de haver quase 1.7 biliões de católicos no mundo e com grande crescimento no sudeste asiático; na hipótese cada vez mais provável da low cost de longa distância; por tudo isto Portugal precisaria de um aeroporto na região Centro para satisfazer as necessidades do turismo religioso e cultural. Antes da pandemia já vinham cá 6 milhões de passageiros por ano com esta tipificação. Só não vinham mais porque Lisboa estava a saturada e não tinha slots para mais gente. Fiz o projecto e apresentei-o ao presidente da Câmara Municipal da Barquinha, Fernando Freire. Disse-lhe inclusive: “tenho aqui a galinha dos ovos de ouro para o seu concelho”. Ele ficou entusiasmado e o estudo foi concluído em Julho de 2017. A localização proposta era Tancos, uma base aérea desactivada que, em 1988, eu próprio sugeri que fosse encerrada no âmbito de um estudo de reestruturação da Força Aérea. O projecto de Tancos era autónomo, destinado a satisfazer as necessidades da região Centro e a atrair o interesse de companhias low cost. Este aeroporto poderia ser altamente competitivo em termos de custos operacionais, possivelmente incentivando a transferência de voos de Lisboa para Tancos, o que, por sua vez, aliviaria a pressão sobre a capital.
O projecto não teve dimensão pública nem apoio político? Quando finalizei o projecto falei com o padrasto do primeiro-ministro, que à data era António Costa, para explicar o potencial do aeroporto de Tancos. A ideia era criar 10 mil postos de trabalho na região Centro, que já estava martirizada pelos incêndios e sofria com a desertificação demográfica. No entanto, quando voltei a contactar para saber do andamento do projecto fui informado de que António Costa não gostava de “coisas feitas pela porta do cavalo”. Foi quando lhe disse que me devia ter explicado mal. Primeiro porque não gosto de trabalhar para aquecer, mas sim para ter resultados. Por consideração pelo povo português sugeri que o projecto fosse remetido para o Ministério das Infraestruturas, liderado por Pedro Marques, mas, desde então, as coisas não avançaram.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo