Sociedade | 04-09-2024 10:00

Padre de Alpiarça quer despejar famílias e vender casas dos pobres para pagar obras na igreja

Padre de Alpiarça quer despejar famílias e vender casas dos pobres para pagar obras na igreja
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Famílias das casas dos pobres estão em risco de ficarem na rua

A paróquia de Alpiarça tem quatro casas do património dos pobres onde vivem quatro famílias, uma delas um casal em que o homem está reformado por invalidez e os dois filhos são deficientes, que correm o risco de serem despejados.

O padre mandou cartas aos moradores a dizer que as casas vão ser vendidas por 50 e 55 mil euros para se angariarem fundos para obras na igreja matriz da vila. A Diocese de Santarém diz que não recebeu pedido para autorizar a venda.

O padre de Alpiarça quer vender quatro casas do património dos pobres da igreja católica, onde vivem quatro famílias sem condições financeiras e uma delas numa situação miserável. Com o dinheiro das casas, de 50 e 55 mil euros, o pároco Tiago Pires quer financiar obras na igreja matriz da vila. O sacerdote já enviou duas cartas a tentar expulsar os residentes, numa delas a dizer que têm a opção de compra, e que vai iniciar o processo de venda. Mas a intenção do padre não tem autorização da diocese.
Contactado por O MIRANTE, o vigário-geral da Diocese de Santarém diz que soube da situação, mas sublinha que a diocese tem de autorizar a venda e ainda não autorizou. Aníbal Vieira acrescenta que para se vender o património dos pobres é necessário iniciar um processo nesse sentido na diocese e ainda não entrou nenhum pedido. O vigário-geral reconhece que têm sido levantadas questões com o património dos pobres e a dificuldade em manter as casas, até porque a igreja está a pagar imposto municipal sobre imóveis mais a contribuição extraordinária por imóveis que estão cedidos gratuitamente.

Casal com dois filhos deficientes teme ficar na rua
As quatro famílias temem ser despejadas em Janeiro e estão dispostas a pagar uma renda, desde que seja acessível. Ana Cristina, 49 anos, é a única de uma família de quatro pessoas que pode trabalhar, mas tem de cuidar dos filhos e do marido e por isso está desempregada e vai trabalhando quando aparecem propostas do fundo de desemprego. O marido, Rui Pereira, de 51 anos, tem cinco por cento de visão e reformou-se há dois anos por invalidez com 71% de incapacidade. A filha de 23 anos é portadora de deficiência mental e frequenta o CRIAL - Centro de Reabilitação e Integração de Almeirim e o filho, de 25, é portador de deficiência motora e anda em cadeira-de-rodas.
Quando se conheceram, Rui e Ana Cristina foram viver para Santarém, mas já na altura não conseguiam pagar a renda. O casal teve de procurar casa e dirigiu-se ao padre de Alpiarça há 15 anos. Rui Pereira conta que a casa foi cedida em “péssimas condições”, com tacos de madeira “podres”, e que a câmara foi ajudando em algumas melhorias, tendo a maior parte do investimento saído do seu bolso, garante. Rui Pereira revela que a história da venda das moradias começou em Março deste ano quando “o padre começou a fazer visitas à casa com engenheiros” e uma empresa que pensa que ser de construção.
O casal vizinho, Pedro Pascoal e Dalila Fernandes, ele de Alpiarça e ela de Santarém, está na mesma situação. Desempregados e com um filho de 22 anos com esquizofrenia, temem ficar na rua, apesar de Dalila Fernandes revelar que a casa tem falta de condições. Relata que quando chove a água cai no quarto porque “o telhado está a cair”. O casal não recebe Rendimento Social de Inserção e o seu sustento vem da venda de porta em porta artigos de vestuário.

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