Sociedade | 07-09-2024 15:00

António Elias é marceneiro e garante a manutenção das casas das salinas de Rio Maior

António Elias é marceneiro e garante a manutenção das casas das salinas de Rio Maior
António Elias trocou de emprego para trabalhar a madeira a tempo inteiro

António Elias não era feliz como fiel de armazém e encontrou a sua felicidade a fazer miniaturas das casas das salinas de Rio Maior e fechaduras, que o pai produzia e vendia quando era vivo. Para aumentar os rendimentos, aliou o artesanato à marcenaria e hoje fabrica móveis na sua pequena oficina nas Marinhas do Sal, em Rio Maior.

A marcenaria é uma das profissões mais antigas e na aldeia de Marinhas do Sal, em Rio Maior, ainda se preserva a arte pelas mãos de António Elias, de 59 anos, responsável pela manutenção das casas das Salinas de Rio Maior. O MIRANTE visitou a oficina de António Elias na sua casa nas Marinhas do Sal para perceber o que o levou à profissão há 22 anos e conhecer o seu trabalho diário entre o barulho das máquinas. Argumenta que a marcenaria não é atractiva para os jovens por ser uma profissão “suja”, como reflecte o chão coberto de serradura por onde caminhamos e as próprias roupas que tem vestidas.
O pai, salineiro e agricultor, tinha como passatempo o artesanato, miniaturas das casas das salinas, das fechaduras e dos utensílios utilizados na safra. Por volta dos 30 anos, António Elias começou a ajudar o pai, que chegou a ter uma loja nas salinas onde vendia as peças e sal a turistas. Percebeu que podia desenvolver o gosto porque “também não gostava do que fazia” como fiel de armazém numa indústria metalomecânica em Rio Maior e trocou o emprego, certo e bem renumerado, para trabalhar a madeira a tempo inteiro. Hoje faz as casas e as fechaduras que o pai fazia, mas não consegue viver só do artesanato.
“O meu pai andava todo o dia com o formão a cortar estes cantinhos”, recorda António Elias, que em quatro dias, com a ajuda das máquinas, consegue produzir meia centena de fechaduras e em dois dias cria meia dúzia de casas que depois vende às lojas das salinas, fazendo questão de não ser concorrente directo, já que o seu ganha-pão vem da venda do mobiliário. A Câmara de Rio Maior é um dos principais clientes, revela. A primeira peça que produziu foi um móvel para si próprio com ferramentas artesanais. O irmão mais velho pediu um igual quatro vezes maior, uma mesa e seis cadeiras e nesse momento passou a acreditar em si e viu potencial na profissão, acabando por investir em máquinas. A confiança no trabalho já é tanta que ficou sem um bocado de um dedo durante o trabalho. Entre móveis maciços e rústicos, trabalha mais o pinho, “que está caríssimo”, embora haja quem apareça com catálogos do IKEA para replicar os móveis e queira o mesmo preço.
O marceneiro vai ao ginásio três a quatro vezes por semana, desde há oito anos, para ter força para trabalhar, além de praticar yoga. Não tem filhos e agradece ter o 10º ano porque “faz falta a matemática e a geometria”, que já deram origem a histórias caricatas, inclusive com professores, em que lhe foram dadas as medidas e depois os móveis não eram exequíveis. Já trabalhou com arquitectos e a primeira coisa que diz é que tenham humildade para o ouvir. “Continuamos a ter uma mentalidade mesquinha. Se não for doutor não é ninguém. Acho bem que tirem uma licenciatura, mas é apenas uma ferramenta, não é um objectivo final”, defende, acrescentando que, apesar de tudo, a profissão está a começar a ser vista como “nobre”.

Trabalho nas salinas é agora mais fácil
António Elias fazia um pouco de tudo nas salinas até aos 22 anos, desde a limpeza dos talhões a acartar sal na padiola, um trabalho violento que diz estar “muito mais fácil”. “Quando o meu pai era miúdo era mais duro, era tudo à força de braços. A água era tirada do poço com uma picota”, descreve. Quanto à divulgação das salinas, António Elias afirma: “Passámos muitos anos em que as salinas, embora fizessem parte do escudo do concelho, estavam esquecidas”, concluindo com orgulho que a avó materna foi a primeira habitante das salinas.

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