Sociedade | 11-09-2024 15:00

Thays Freixo: a mulher no comando dos Bombeiros de Azambuja

Thays Freixo: a mulher no comando dos Bombeiros de Azambuja
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Thays Freixo nunca pensou ser bombeira mas hoje está ao comando da corporação de Azambuja

Quando foi convidada para o cargo de comandante dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, Thays Freixo ponderou não aceitar a proposta.

Hoje não se arrepende e não se imagina a fazer outra coisa. O recrutamento continua a ser um dos maiores desafios e o maior sonho é o de um novo quartel. Mãe de três filhos confessa que custa passar dias fora de casa mas a missão é ajudar o próximo.

Ser bombeira não estava nos seus planos mas agora já não se imagina a fazer outra coisa. A comandante da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Azambuja nasceu no Brasil, em Curitiba, no estado do Paraná, há 36 anos. Thays Freixo chegou a Portugal em 2006, aos 17 anos, quando os pais. que viviam desde o ano 2000 em Vila Franca de Xira, a foram buscar. Viveu e trabalhou em Vila Franca de Xira e em 2008 casou-se e comprou casa em Castanheira do Ribatejo.
Quis fazer um curso de primeiros socorros e desafiada por uma pessoa amiga fez também a formação inicial para bombeiro. Primeiro rejeitou a ideia, mas depois, com o marido, fez as duas formações durante um ano em Azambuja. Apaixonou-se pelo mundo dos bombeiros e desde 2015 que é profissional da corporação azambujense.
Em 2017 mudou-se para Azambuja com o marido e os três filhos e reside perto do quartel. “O que me custa não é ir para o teatro de operações, é o número de horas ausente dos filhos. Acabamos por perder algumas coisas, não podemos largar tudo para ir à festa da escola e fazer parte de momentos importantes para eles. Este é o peso maior, mas tentamos gerir porque se decidimos fazer alguma coisa pelo próximo temos de manter o equilíbrio entre a vida profissional de bombeiro e a vida com a família. Mas é desgastante”, reconhece.
Um dos momentos mais marcantes que recorda até à data foi um atropelamento ferroviário em que a vítima ainda estava viva mas com lesões graves. Dialogou com os bombeiros e disse que naquele dia o acidente tinha acontecido porque não tinha conseguido passar a tempo. Acabou por falecer ao fim de duas horas, já na ambulância.
Os cenários que ganham dimensão são os mais difíceis. Como o incêndio que ocorreu em 2015, numa zona de mato, que obrigou a movimentações para uma possível evacuação de um lar de idosos. São ocorrências como estas que põem à prova os meios humanos, materiais e a capacidade de manter a frieza e pensar antes de agir.

Colegas deram voto de confiança
Thays Freixo era adjunta do comandante Ricardo Correia desde 2018 e foi um choque quando ele saiu da corporação. “Não estava à espera de ser comandante, fui apanhada de surpresa. Quando falaram comigo a primeira vez não quis, só ao fim de alguns dias. Fiquei triste por ele ter saído, pela pessoa que ele é e do que fez por Azambuja. Era inteligente, dinâmico e com quem aprendi muito. Ainda hoje temos boa ligação e tiramos dúvidas um com o outro”, afirma.
Com o voto de confiança dos colegas assumiu o cargo e sublinha que nunca se sentiu discriminada por ser mulher. Os Bombeiros de Azambuja têm 15 mulheres no activo e oito são profissionais.
Um dos maiores desafios que enfrenta no comando é a dificuldade de captar voluntários. Os bombeiros são mal pagos, o que afasta os mais novos que têm de abdicar de tempo com a família, noites e fins-de-semana. Por isso defende que os bombeiros deviam ter subsídio de risco e caminhar-se para a profissionalização da função. “Os patrões não libertam os funcionários que acumulam a função de bombeiro. É difícil ter os voluntários muitas horas no teatro de operações, porque se estiverem de noite sabem que de manhã têm de ir trabalhar. Sem dúvida que o caminho é a profissionalização para a primeira intervenção”, considera.

Necessidade de novo quartel e o aumento dos acidentes na EN3
Há muito que se fala na necessidade de um novo quartel de bombeiros para Azambuja. Thays Freixo lamenta a “escuridão” nesta matéria uma vez que não se vislumbra terreno, projecto ou valores para uma nova estrutura. “É um desafio gigante em cima de uma necessidade enorme. Temos viaturas parqueadas fora do edifício do quartel, o que gera maior desgaste e não temos um campo de treinos. A vila chegou ao quartel porque quando foi construído não tinha tantas habitações em volta. Precisamos de espaço”, declara.
Após uma grande luta, que envolveu uma vigília silenciosa em frente à Câmara de Azambuja, em Setembro a corporação pode receber o novo veículo de desencarceramento. O município concedeu um apoio financeiro para a compra do veículo mas o resto é pago pela associação humanitária com recurso a empréstimo bancário e donativos monetários de empresas e sócios. “Este veículo não é um capricho nem um luxo, é uma necessidade. Azambuja nunca teve um veículo de desencarceramento, o que tínhamos era um veículo urbano adaptado. Desde Janeiro respondemos a mais de 40 acidentes, 90% na Estrada Nacional 3. É uma estrada com elevado número de acidentes, alguns mortais, e onde circulam mais de 10 mil veículos por dia, muitos deles pesados”, explica.
Os acidentes rodoviários são as ocorrências mais comuns para os Bombeiros de Azambuja. Os números têm vindo sempre a subir, ano após ano, incluindo despistes de viaturas por distracção na condução. Até ao momento, o Verão tem sido calmo em número de incêndios até porque em Azambuja é raro haver fogos no início do Verão e os bombeiros ajudam as corporações vizinhas.
A população também tem reconhecido o trabalho dos seus bombeiros e sempre que há incêndio telefonam para o quartel a saber se há necessidade de água e alimentos. Recebem também donativos de algumas empresas. A proximidade, segundo a comandante, deve-se ao facto dos bombeiros terem o quartel aberto à população e receberem escolas e instituições onde é explicado todo o percurso até ao socorro.
Thays Freixo ambiciona fazer uma licenciatura na área da Protecção Civil e Bombeiros e continuar ao leme da corporação de Azambuja. “Não me vejo a fazer outra coisa fora do mundo dos bombeiros. Foi uma reflexão que fiz e cheguei à conclusão que o que gosto de fazer é encontrar soluções e ajudar a comunidade”, conclui.

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