Sociedade | 12-09-2024 12:00

A história repetiu-se e houve mais uma fuga caricata da cadeia de Vale de Judeus

A história repetiu-se e houve mais uma fuga caricata da cadeia de Vale de Judeus
Os fugitivos ultrapassaram o muro que rodeia a prisão com ajuda de uma escada colocada por cúmplices no exterior

Cinco reclusos escaparam do estabelecimento prisional de alta segurança de Vale de Judeus, em Azambuja, numa solarenga manhã de sábado, num episódio captado pelas câmaras de videovigilância que ninguém estava a monitorizar. Os fugitivos, que cumpriam penas pesadas e são considerados perigosos, tiveram ajuda do exterior e estão a monte.

Quase meio século depois a história repetiu-se. Em Junho de 1975, quase uma centena de elementos da antiga polícia política da ditadura, a famigerada PIDE, fugiram da cadeia de Vale dos Judeus, no concelho de Azambuja, onde tinham sido presos após a revolução de 25 de Abril. Em Julho de 1978, nova evasão colectiva com 124 homens a escaparem por um túnel, que demorou três meses a escavar. E no sábado, 7 de Setembro de 2024, cinco reclusos condenados a pesadas penas evadiram-se em pleno dia do mesmo estabelecimento prisional de alta segurança no concelho de Azambuja e puseram a nu novamente as fragilidades do sistema. Há 49 anos, em pleno Verão Quente, a caricata evasão até inspirou o intitulado “Fado de Alcoentre”, cantado por Fernando Tordo. Vamos ver se os artistas deixam também este episódio gravado para memória futura.
A rocambolesca e caricata fuga – que contou com ajuda de três cúmplices no exterior, que providenciaram uma escada para ultrapassar o muro e o carro usado para se porem a milhas - foi registada pelo sistema de videovigilância às 09h56 mas a essa hora ninguém estava a monitorizar as imagens. A fuga só foi descoberta 40 minutos depois, quando se procedeu à recolha dos reclusos às celas após o período de visitas.
“A partir desse momento foram desencadeadas todas as acções. Neste momento está em curso uma investigação através do serviço de auditoria e de segurança para saber o que possa ter falhado”, disse no dia seguinte, em conferência de imprensa, o director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), Rui Abrunhosa. “Algo falhou, porque senão as pessoas não tinham fugido”, reiterou.

Câmaras captaram mas ninguém viu
O sindicato dos trabalhadores prisionais disse que a “ridícula fuga” de cinco presidiários revela apenas “uma pequena parte” dos serviços prisionais, que funcionam “num sistema obsoleto, feudal e com práticas de reinserção completamente ineficazes”. Mas o director-geral, que admitiu haver um problema de falta de guardas prisionais, que é geral, ressalvou contudo que nesse sábado estavam 33 guardas em Vale de Judeus, ligeiramente acima do recomendado.
Questionado sobre o que terá falhado na parte da observação das câmaras de videovigilância [cerca de 200], Rui Abrunhosa disse que essa é uma das vertentes que terá de ser apurada na investigação interna que está em curso. “Com certeza que devia haver [guardas a olhar para as imagens de videovigilância]. Se não houver ninguém isso é uma falha muito grave na segurança”, disse, admitindo que a quadrícula [das imagens das 200 câmaras] é grande e que é necessário apurar o que falhou.

Caça ao homem
Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, com idades entre os 33 e os 61 anos. Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais. A caça ao homem começou no sábado, até à data sem resultados.

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