Fuga de prisioneiros não tira sono aos moradores da aldeia de Tagarro
Tagarro localiza-se a 3 km do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus mas a população dorme descansada. Moradores acreditam que os cinco foragidos já estão longe e que nos próximos tempos dificilmente serão apanhados. “Eles não iam fugir e ficar aqui ao lado”, diz um morador.
Na aldeia de Tagarro, na freguesia de Alcoentre, quase não se vê gente nas ruas na manhã desta terça-feira, 10 de Setembro. A 3 Km localiza-se o Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, de onde três dias antes tinham fugido cinco reclusos, mas a vida segue com normalidade porque quem ali mora já está mais do que habituada a viver paredes meias com uma prisão de alta segurança.
No café da aldeia a fuga dos cinco prisioneiros já não é novidade nem tema de conversa. Apesar de os cadastrados continuarem a monte, ninguém tem medo. “Se não fosse falarem disso o dia todo na televisão já ninguém se lembrava. Eles não iam fugir e ficar aqui ao lado. Já estão bem longe”, afirma um dos clientes.
Olga Mendes entra no café depois de ter estado três dias doente em casa. Nasceu na aldeia há 65 anos e por lá ficou. A madrinha, que vive em Lisboa, telefonou-lhe para ter cuidado, porque viu as notícias na televisão. “A esta hora já estão longe, isto é uma terra pequena. A culpa é de quem manda, porque mandaram tirar as torres de vigia da prisão? Como entrava uma corda lá dentro? Para mim foi um trabalho de dentro para fora e combinado há muitos dias”, opina.
Sentado num dos bancos da aldeia está Aristides Sousa, guarda prisional reformado. Conhece bem os cantos de Vale de Judeus, onde trabalhou 37 anos. Quando entrou em 1986 na cadeia lembra-se de contarem a história dos 124 prisioneiros que escavaram um túnel e fugiram e nos anos 90 chegou a detectar uma fuga numa das torres de vigia.
A seu ver a fuga dos cinco prisioneiros ficou facilitada porque retiraram as quatro torres de vigia que existiam antigamente no estabelecimento prisional. “Havia uma em cada canto e uma fuga era logo detectada. Têm lá cento e poucas câmaras de vigilância mas um guarda quanto mais tempo e quanto mais imagens vê mais baralhado fica. Conheço parte dos detidos e já devem estar nos sítios para onde queriam ir. Quem manda é que os distribuiu por esta prisão, mas de alta segurança só a prisão de Monsanto”, assevera.
Entre teorias especulativas sobre o que se passou, um popular diz que na manhã de sábado viu passar um carro a alta velocidade que parecia “estar no rali” e associou à fuga dos detidos. Outras pessoas lamentam a degradação das habitações do bairro de Vale de Judeus, junto à prisão, propriedade do Ministério da Justiça e onde chegaram a residir cerca de cem pessoas. Um assunto que O MIRANTE já relatou noutras edições. “Deixaram aquilo degradar-se e podiam recuperar as casas porque falta habitação. Isso é que é preocupante”, lamenta um dos habitantes de Tagarro.
Em Alcoentre o movimento nas ruas é maior mas poucos falam do que aconteceu. Dizem que vêem os carros da comunicação social a passar e lêem as notícias mas acreditam que os foragidos estão longe e que tão cedo as autoridades não os vão conseguir apanhar.