Daniel Ribeiro defende valorização e profissionalização da carreira de bombeiro
Resiliência e coragem são características apontadas aos bombeiros para conseguirem ultrapassar os desafios que a actividade exige.
A propósito do Dia Nacional do Bombeiro Profissional, que se assinala a 11 de Setembro, O MIRANTE esteve à conversa com Daniel Ribeiro, comandante dos Bombeiros Voluntários de Alenquer, que defende a profissionalização dos bombeiros. “É difícil estar a noite toda no quartel e de manhã um motorista de pesados ir conduzir o camião”, exemplifica.
As situações com que os bombeiros se deparam na sua actividade fazem deles pessoas acima da média e fora de série. A opinião é de Daniel Ribeiro, 36 anos, há duas décadas ao serviço da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Alenquer (AHBVA). Começou como cadete, na secção de Olhalvo, subiu a bombeiro de primeira e em 2019 foi convidado pelo anterior comandante, Rodolfo Batista, para adjunto de comando. A ida de Rodolfo Batista para o Comando Sub-regional de Emergência e Protecção Civil do Oeste ditou que passasse a comandar a corporação de Alenquer.
Uma carreira de altos e baixos mas com bons momentos que superam as dificuldades. “Marcou-me pela negativa a morte de um recém-nascido por causa do ataque de um cão. O estado da criança, a forma como aconteceu e como os colegas com filhos viveram aquilo, marcou-me. Por mais que sejamos fortes revivemos momentos e não conseguimos desligar a 100%”, afirma.
Daniel Ribeiro defende a profissionalização dos bombeiros, referindo, a título de exemplo, que é difícil estar a noite toda no quartel e de manhã um motorista de pesados ir conduzir o camião. A AHBVA conta com três equipas de bombeiros profissionais e voluntários que garantem o socorro às populações 24 horas, de segunda a sexta-feira. Aos fins-de-semana são os voluntários que garantem que nada falha. Alenquer tem mais de 90 bombeiros no activo sendo que, destes, perto de 40 são profissionais.
O comandante salienta a coragem e resiliência dos seus homens e mulheres e sublinha que a corporação necessita urgentemente de equipamentos de protecção individual, porque os que existem estão obsoletos. “Tento dar as melhores condições possíveis aos meus homens mas temos poucos recursos financeiros. Precisamos de equipamentos novos de protecção individual. Estamos a falar de cerca de 90 mil € e os apoios que recebemos não chegam”, lamenta.
Onze novos recrutas
Na última recruta candidataram-se 11 elementos para a corporação e os exames realizaram-se em Julho. Um número que não é mau tendo em conta recrutas passadas. Em Alenquer são precisos mais bombeiros para fazer face às ocorrências rodoviárias. A corporação cobre uma zona industrial e parte da Autoestrada A1, A10, um troço da Estrada Nacional 9 e Nacional 1. Ainda assim a maior parte do serviço dos bombeiros é no atendimento pré-hospitalar. Quanto a incêndios, o Verão tem sido calmo, com excepção para os fogos que ocorreram em Olhalvo, vários dias seguidos, no final do mês do Julho e início de Agosto e que estão a ser investigados pelas autoridades.
O quartel foi construído há 30 anos mas já apresenta alguns problemas que vão sendo resolvidos pelos próprios bombeiros. Os que têm mais jeito pintam as paredes e outros resolvem os problemas de humidade e infiltrações. A corporação aposta na formação e nos simulacros nas empresas, incluindo a sensibilização dos trabalhadores para os riscos.
“Não vejo problema os bombeiros passarem a ser municipais”
Os Bombeiros de Alenquer e da Merceana têm reivindicado junto da Câmara de alenquer a concessão de benefícios sociais aos bombeiros, para motivar quem trabalha a troco de nada. Em Agosto a autarquia já deu um primeiro passo com o início do procedimento para elaboração do Regulamento Municipal de Concessão de Benefícios Sociais aos bombeiros voluntários e aos socorristas da delegação da Cruz Vermelha do concelho. “Já o antigo comandante tinha feito essa proposta mas o assunto tem vindo a arrastar-se. Penso que é desta que vai avançar, mais vale tarde do que nunca. Também não vejo problema os bombeiros passarem a ser municipais, acho que é uma solução a ser estudada. As associações andam sempre com a corda ao pescoço. Aqui vamos sobrevivendo, não temos muito dinheiro mas pagamos as despesas”, conta.
Apesar das dificuldades do dia-a-dia Daniel Ribeiro sente-se valorizado pela população. “Basta fazermos um serviço e no final aquele obrigado dá-nos chama para continuar e esquecer as coisas menos boas”, conclui com um sorriso e um brilho nos olhos.