Casa do Povo de Vialonga reinventou-se para servir a comunidade
Com 62 funcionários e a apoiar directamente duas centenas de crianças e as suas famílias, a Casa do Povo de Vialonga é a prova de como um grupo de gente da vila se uniu para a fazer evoluir e não estagnar.
A propósito do Dia Nacional das Casas do Povo, assinalado a 11 de Setembro, O MIRANTE foi conhecer um exemplo pela positiva de uma Casa do Povo que deu a volta por cima.
Numa altura em que muitas Casas do Povo do país estão moribundas ou com comissões administrativas que apenas servem para impedir que o seu património caia na rua, em Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, há um exemplo pela positiva. A Casa do Povo de Vialonga, fundada a 9 de Maio de 1934, tem desempenhado um papel importante no serviço à comunidade, preservando tradições e valores culturais que são parte integrante da identidade local mas também criado serviços e valências que ajudam no dia-a-dia da comunidade.
A Casa do Povo de Vialonga tem uma equipa de 62 funcionários e acolhe 200 crianças em respostas sociais como o berçário, a creche e o pré-escolar, com lotação esgotada e lista de espera. Além disso, oferece cantina social, servindo diariamente 30 refeições a famílias necessitadas. Em parceria com a Câmara de Vila Franca de Xira, promove várias actividades de animação e apoio às famílias, tendo ainda, desde 2019, um gabinete de acção social que coordena três programas apoiados por fundos comunitários do Plano de Recuperação e Resiliência e que vão desde a inclusão social nas escolas à prevenção do bullying, passando pelo apoio à maternidade e promoção de uma alimentação saudável para crianças.
A instituição, que outrora servia uma população rural, mantém-se fiel à sua missão de apoio comunitário, agora de uma forma modernizada. O presidente, Carlos Agostinho, assumiu a liderança da instituição em Outubro de 1991, depois de ser desafiado por Telmo Soares, e ainda tem mais dois anos de mandato. Recorda a O MIRANTE as origens da instituição, que funcionava como um mero centro de apoio aos trabalhadores rurais até que um grupo de gente da terra sonhou alargar as suas valências. Entretanto, com a extinção do modelo das Casas do Povo, a instituição de Vialonga transformou-se numa associação cultural, desportiva e recreativa, sem fins lucrativos e de utilidade pública, equiparada a Instituição Particular de Solidariedade Social para fins fiscais.
Para Carlos Agostinho, a teimosia e dedicação de todos os envolvidos foram cruciais para o sucesso da instituição, que sobrevive graças às mensalidades pagas pelos pais e aos apoios, na maioria das vezes insuficientes, da Segurança Social. “Desde que aqui cheguei que ninguém dos dirigentes recebe um cêntimo desta instituição. Pelo contrário, estamos sempre a dar de nós. Ela cresceu graças a muita teimosia nossa e a um grande empenho e luta de todos os nossos trabalhadores”, lembra o dirigente. A instituição tem um orçamento anual de um milhão e 794 mil euros.
O sonho da ERPI
A Casa do Povo de Vialonga tem 450 sócios e continua a gerir um vasto património, embora muitas vezes sem os recursos financeiros necessários para o seu pleno aproveitamento. Nesse património incluem-se vários edifícios, um terreno e até o campo de futebol onde joga o Grupo Desportivo de Vialonga.
A associação chegou a candidatar a fundos europeus a construção de uma Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), com 36 camas e capacidade para realizar 30 apoios domiciliários e ter 30 pessoas em centro de dia, mas a subida de preços em resultado da guerra na Ucrânia fez o custo da obra disparar dos 2 milhões e 500 mil euros para os 4 milhões, o que levou a instituição a desistir de lançar o concurso. Apesar de todos os esforços para alienar património e procurar alternativas de financiamento, a Casa do Povo ainda luta para conseguir tornar esse sonho uma realidade.
“A câmara estava disponível para nos apoiar com 500 mil euros ao abrigo do programa de apoio ao movimento associativo (PAMA). Mas numa obra estruturante como é uma ERPI a câmara deveria ter, para uma situação excepcional, uma solução excepcional, fora do PAMA. Não teve e hoje não temos a ERPI”, lamenta o dirigente. A expectativa da colectividade é no futuro vir a alienar parte do património para poder financiar ela própria a construção da ERPI.
Uma vida preenchida
Carlos Agostinho tem 68 anos e é um rosto conhecido da comunidade. Diz, a brincar, que tem três terras no coração: Fungalvaz, Torres Novas, onde nasceu e ainda tem casa; Portalegre, onde frequentou o Colégio Diocesano de Santo António; e Vialonga, onde se casou e morou. Começou por por ser operário na ex-Covina, estudou de noite e tirou um curso de gestão de recursos humanos e psicologia do trabalho. Foi chefe de gabinete do presidente da UGT entre 1989 e 1991. Depois foi administrador dos SMAS de VFX no tempo de Zita Seabra, director do Centro de Formação do Instituto de Emprego e Formação Profissional de Alverca; em 2004 foi convidado para gerir os centros de saúde e esteve em Torres Vedras como director dos centros de saúde até 2009. Com a criação dos agrupamentos dos centros de saúde foi nomeado adjunto do director do Agrupamento de Centros de Saúde da Lourinhã, Cadaval, Sobral, Arruda e Alenquer. Em 2012 liderou o ACES Estuário do Tejo, em Alverca, até 2016, tendo voltado à Escola Profissional Agostinho Roseta como director de serviços até se reformar.