Metade dos doentes referenciados para cuidados paliativos morrem antes de ter vaga
Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, que se realizou na Chamusca, debateu sobre vários temas. Presidente da associação nacional diz que há má gestão na referenciação de doentes para cuidados paliativos. Prejuízos devido às baixas taxas de ocupação são muito elevados.
O presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC) considera que há ”má gestão” e falta de articulação na referenciação de doentes para os cuidados paliativos, contribuindo para a baixa taxa de ocupação que afecta actualmente as unidades. “Penso que há uma má gestão e uma péssima articulação na forma como se referencia os doentes. Actualmente temos uma taxa de ocupação entre os 50 e 80%. (…) Se a Rede não põe doentes é porque não quer. Não põe porquê? É uma questão que não sei responder”, disse o responsável da ANCC, José Bourdain, à margem do Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados, realizado na Chamusca a 18 de Setembro.
De acordo com Bourdain, existe um número considerável de doentes referenciados que acabam por falecer antes de obter vaga, tal como divulgado pelo relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS). De acordo com este relatório, quase metade (48%) dos doentes referenciados no ano passado para unidades de paliativos contratualizadas com o sector privado ou social morreram antes de ter vaga. José Bourdain afirmou que as unidades informam regularmente a RNCCI sobre as camas disponíveis, mas os doentes não são encaminhados. “Não há falta de comunicação da nossa parte, porque nós damos informação à rede quando temos as camas vazias”, defendeu.
Por outro lado, explicou que as unidades de cuidados paliativos enfrentam “sérios prejuízos financeiros” quando a taxa de ocupação fica abaixo dos 85%, uma vez que os custos de manutenção permanecem os mesmos, independentemente do número de doentes. “Quando a taxa de ocupação é inferior a 85% os custos são exactamente os mesmos como se as camas estivessem todas ocupadas. São custos muitos significativos que temos que suportar”, sublinhou.
O responsável da ANCC criticou os responsáveis políticos que não ouvem os profissionais no terreno e tomam decisões sem o devido conhecimento das realidades do sector. “Os secretários de Estado e os ministros da saúde não entendem nada destes assuntos. Não nos ouvem, não nos percebem e não se dão ao trabalho de perceber”, acusou.
Além das questões económicas, problemas antigos, como as falhas no sistema informático e a ausência de partilha de informações entre hospitais e unidades de cuidados continuados, “continuam a persistir” e “afectam a qualidade do serviço”. “Muitas vezes um doente é encaminhado para os cuidados continuados sem raio-X e sem análises clínicas porque os hospitais não fornecem estas informações aos profissionais de saúde de cuidados continuados (…). Há uma falta de articulação em toda a envolvência hospitalar”, concluiu.
17 anos da Rede Nacional
O Cine-Teatro da Chamusca foi palco do primeiro Encontro Nacional de Unidades de Cuidados Continuados dedicado ao tema “O Presente e o Futuro dos Cuidados Continuados”. O evento, organizado pela Associação Nacional dos Cuidados Continuados (ANCC), foi ao encontro da celebração dos 17 anos da Rede Nacional. A sessão de abertura contou com a intervenção do provedor da Santa Casa da Misericórdia da Chamusca, Nuno Castelão, e do presidente do município, Paulo Queimado. Nuno Castelão começou o discurso a propor soluções para o presente e futuro dos cuidados continuados. Nomeou ainda os financiamentos, a gestão e escassez dos profissionais, e o aumento dos produtos que as unidades gastam como alguns dos problemas a serem resolvidos.
Ao longo da manhã foi também apresentado, por Alexandra Lopes, o projecto “Let´s Care”, da Faculdade de Letras do Porto, sobre a temática geral das políticas e das práticas em matéria de cuidados continuados para pessoas com dependências. A professora investigadora defendeu que “é urgente criar um sistema de indicadores comum para monitorizar o ponto de situação”.