Sociedade | 29-09-2024 21:00

Nuno Cordas lida com o síndrome das pernas inquietas há mais de uma década

Nuno Cordas lida com o síndrome das pernas inquietas há mais de uma década
Sonolência excessiva foi o primeiro sinal de alerta para Nuno Cordas ir ao médico

O dia 23 de Setembro é dedicado, anualmente, ao Síndrome das Pernas Inquietas. Foi Karl-Axel Ekbom, neurologista sueco, que publicou pela primeira vez uma tese de doutoramento sobre pernas inquietas, em 1945. O MIRANTE deixa o testemunho de Nuno Cordas, cidadão de Coruche que conhece bem os efeitos da doença.

Aos 52 anos, Nuno Cordas, natural de Coruche, lida com os sintomas da Síndrome das Pernas Inquietas há mais de uma década. Conta-nos as peripécias até chegar ao diagnóstico correcto para o problema que o afectava no quotidiano e na profissão. O historial de Nuno com a síndrome começou de forma gradual, sem que inicialmente percebesse o que se passava. “Trabalhava com uma motoniveladora na câmara, o que exigia muito uso das pernas, mas comecei a adormecer durante o trabalho, especialmente após as refeições”, conta. Apesar de descansar adequadamente durante a noite, os episódios de sonolência continuavam a ocorrer, levando-o a procurar ajuda médica. “Passei por vários exames, incluindo para a apneia do sono, mas todos os resultados indicavam que estava bem, o que não fazia sentido”, explica.
“Além das máquinas durante o trabalho deixava-me dormir em inúmeros sítios, como por exemplo a cortar o cabelo, a fazer uma TAC, em cima da moto, no dentista ou em ressonâncias magnéticas”, precisa. Foi só em 2010, após consultas e análises médicas em Coruche e na CUF em Lisboa, que Nuno Cordas encontrou pistas para a sua condição ao assistir, ocasionalmente, a um programa de televisão na RTP1, no qual o médico João Ramos abordava a Síndrome das Pernas Inquietas. “Descreviam sintomas que batiam certo com o que eu sentia, como mexer as pernas involuntariamente”, lembra. Com essa nova informação, questionou a sua neurologista que o seguia, que confirmou o diagnóstico depois da profissional de saúde pedir à mulher de Nuno para verificar se este efectuava movimentos involuntários das pernas durante a noite.
A Síndrome das Pernas Inquietas, além de perturbar o sono, interferia no quotidiano. “Posso estar a falar com alguém e adormecer por dois ou três segundos, o que é suficiente para provocar um acidente”, explica. Esta situação tornou-se perigosa, especialmente no seu trabalho com máquinas pesadas, como retroescavadoras, em que tinha outros trabalhadores a operar por perto. A neurologista que acompanhava Nuno Cordas indicou-lhe que, apesar de dormir toda a noite, o seu cérebro estava “a comandar as pernas” e, por isso, não descansava.
O tratamento para a situação que padecia incluiu a prescrição de Ropinirol, que inicialmente estabilizou os sintomas ao longo de sete anos. Depois desse período voltou a ter sintomas e pediu para aumentar a dosagem, mas, ao fazê-lo, começou a sentir-se zonzo, encontrando depois um meio-termo na quantidade de medicação que tomava. Actualmente está a tomar uma cápsula diária de Dopa Mucuna, que ingere de manhã. Além disso, utiliza chá de camomila para o ajudar a relaxar. De lado ficaram alimentos ou bebidas estimulantes, como o café, Coca-Cola ou chocolate.
Nuno Cordas destaca, também, o desconhecimento que existe sobre esta síndrome. “Fui muito gozado ao início, mas isto é uma doença e pode ser perigosa”, lamenta, acrescentando que “hoje até gosto de falar sobre isto para poder ajudar as pessoas”. O seu caso ilustra as dificuldades de diagnóstico e tratamento de uma doença pouco conhecida, mas que afecta a vida de algumas pessoas. “Gostava que descobrissem uma solução para o aquecimento excessivo das pernas, que é um dos sintomas mais incómodos e que ainda hoje continua a ser um dilema”, refere, esperançoso de que mais pessoas possam ter acesso ao tratamento adequado.
“Quero ter os pés quentes quando está o tempo frio, mas quero ter as pernas frias porque aquecem que é uma loucura e, depois, da cintura para cima, quero estar quente e confortável. Na cama é um verdadeiro quebra-cabeças. Por vezes coloco um lençol para separar as pernas e não aquecerem tanto, mas é complicado, sobretudo, para quem dorme connosco também”, descreve. Ultimamente não tem ido ao médico, reconhece que tem “relaxado”, uma vez que a sua condição é agora “estável” e que tem “andado bem”.

Aprendeu a ser barbeiro com a ajuda do avô

Nuno Manuel Carvalho Ferreira Faz Cordas nasceu em 25 de Setembro de 1972, em Coruche, no hospital velho, como carinhosamente descreve. Vive em Vale Mansos, é casado e tem um filho que é o único habitante no Juncal da Erra. Estudou até ao 12.º ano. Fez alguns trabalhos como electricista, passou pela panificadora de Coruche e na fábrica de transformação de beterraba de açúcar, a Adai.
Trabalha como funcionário na Câmara Municipal de Coruche desde o ano 2000. Além disso, é barbeiro, ofício que aprendeu com o avô quando tinha 11 anos e que aprofundou com um primo em Santarém. Hoje é o último da sua família a dedicar-se a esta profissão. Tem um espaço, a Barbearia Milénio, onde apara a barba e corta cabelos no Bairro da Areia.

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