Começou julgamento do ex-presidente da Junta de Mouriscas que confessou vários crimes
Pedro Matos falou na primeira sessão do julgamento pelo crime de peculato de titular de cargo político na forma continuada. Autarca punha combustível no carro pessoal e comprava ferramentas e outros artigos com a junta a pagar. O ex-presidente da Junta de Mouriscas admitiu vários crimes, mas desfez-se em desculpas que não fizeram sentido para o colectivo de juízes.
Pedro Matos, o ex-presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, no concelho de Abrantes, acusado de peculato de titular de cargo político na forma continuada, já começou a ser julgado no Tribunal de Santarém. Na primeira sessão do julgamento, o ex-autarca foi ouvido pelo colectivo de juízes que terão demonstrado alguma perplexidade por algumas justificações apresentadas por Pedro Matos. Segundo fontes bem informadas explicaram a O MIRANTE, o ex-presidente acabou por admitir os vários crimes que cometeu, mas apresentou desculpas sem sentido.
Pedro Matos terá dito, por exemplo, que alguns dos equipamentos que comprou com o dinheiro da junta de freguesia e instalou na sua casa de família, tiveram como propósito ter mais conforto, uma vez que costumava trabalhar a partir da sua residência. O ex-autarca terá dito que tudo o que comprou com o dinheiro da autarquia, nunca foi para proveito próprio, mas sim ao serviço da junta de freguesia.
Recorde-se que o ex-presidente da Junta de Freguesia de Mouriscas, que está suspenso de funções, está a julgado por se apropriar de dinheiro e bens, comprar ferramentas e telemóveis para ele e para a filha, flores para a mulher, usar a conta da junta para pagar reparações do carro e até comprar alimentação com o cartão bancário da autarquia. Pedro Matos, eleito pelo PS, está acusado pelo Ministério Público de um crime de peculato de titular de cargo político, na forma continuada, incorrendo numa pena de prisão que pode chegar aos oito anos e na pena acessória de perda de mandato.
Pedro Cordeiro de Matos, de 51 anos, eleito pela primeira vez em 2017, engendrou um “plano criminoso para se apropriar, regularmente, de recursos financeiros” da junta do concelho de Abrantes, refere o Ministério Público. Os casos começaram em 2018 com o autarca a usar os trabalhadores e os meios da autarquia para fazer trabalhos na sua casa, que passaram também pela construção de um canil. Usou ainda os meios para pintar um muro e trabalhos de jardinagem do secretário da Associação ACATIM-IPSS, da qual o autarca é vice-presidente tendo recebido 200 euros que não entregou à junta. O socialista ficou com o dinheiro da venda de sucatas, que renderam um total de 1.062€. O autarca mandou o funcionário que entregou as sucatas fazer o levantamento no banco dos três cheques da sucateira e entregou-lhe o dinheiro, uma vez no café e outra no estaleiro da junta. Na investigação, a Polícia Judiciária detectou que mandou abater nos registos contabilísticos, sem indicar motivo concreto, bens da autarquia, que foram parar a casa do arguido, como um calorífero a lenha, um telemóvel Iphone que deu à filha, um tablet, uma máquina de cortar relva e um compressor.
Reparava o jipe e comprava ferramentas à conta da junta
Desde que tomou posse e até Janeiro de 2023 fez vários levantamentos com o cartão bancário da junta, num total de 1.730€. A acusação descreve ainda as dezenas de vezes que o socialista meteu combustível no carro pessoal com a junta a pagar, bem como as duas vezes que meteu pneus na sua viatura e que foram facturados à junta de freguesia como se tivesse sido para uma carrinha da autarquia que nem sequer usava pneus daquela medida. A junta também pagou três facturas de pintura e reparações feitas no seu jipe Nissan Terrano, no valor global de dois mil euros, uma sem indicação de matrícula e outras duas como se fossem de reparações da báscula de uma viatura da junta.
Por várias vezes o autarca comprou com dinheiro da junta ferramentas no Lidl de Abrantes, desde serras circulares, aspirador, aparador de sebes, ou dois robôs de limpeza de piscinas, entre outras. Adquiriu um telemóvel para ele e fez um contrato de locação financeira em nome da junta com uma prestação de 169 euros durante 12 meses, para um telemóvel que o entregou ao funcionário da junta, o mesmo que fez a venda das sucatas, que o utilizava de forma pessoal. Adquiriu ainda um ar condicionado para casa. Entre os bens que no decurso da investigação foram apreendidos e entregues à junta e o que não foi possível recuperar, a junta de freguesia está prejudicada em 7.898 euros. O Ministério Público pede que Pedro Cordeiro de Matos seja condenado a pagar este montante à junta de freguesia.