Sociedade | 04-10-2024 15:00

O papel essencial do farmacêutico vai muito além do atendimento ao balcão

O papel essencial do farmacêutico vai muito além do atendimento ao balcão
Liliana Berbém é directora técnica da Nova Farmácia Alhandra

A gestão dos stocks, a escassez de medicamentos e a interacção com os médicos são alguns desafios do trabalho que os farmacêuticos enfrentam no dia-a-dia e que provam que o trabalho destes profissionais não se resume apenas ao atendimento dos utentes.

Liliana Berbém, farmacêutica de 38 anos, residente em Arruda dos Vinhos, partilhou o seu percurso e os desafios da profissão no âmbito das comemorações do Dia Nacional do Farmacêutico, que se assinalou a 26 de Setembro.

O trabalho de um farmacêutico vai muito além do atendimento ao público no balcão, envolvendo uma gestão complexa de compras e de stocks, especialmente num contexto de frequentes falhas de medicamentos a nível nacional. “Temos de garantir que nada falha nesta logística de compras, principalmente numa altura em que há muitos medicamentos esgotados a nível nacional. É um desafio constante manter o stock e estar em contacto com os armazenistas para nos fornecerem o que os utentes necessitam”, explica a O MIRANTE Liliana Berbém, directora técnica da Nova Farmácia em Alhandra.
A farmacêutica realça que, muitas vezes, é possível encontrar medicamentos equivalentes para substituir os que estão em falta, mas há situações em que a gestão é muito mais difícil, como aconteceu recentemente com um medicamento para pacientes que tiveram cancro de mama, sem alternativas no mercado. “Na farmácia há muito para fazer. Quando se quer chegar um pouco mais à frente na carreira também tem que se mostrar isso, mas também há quem não goste da área de gestão e prefira simplesmente liderar, estar e ajudar as pessoas no dia-a-dia”, revela.
A interacção entre farmacêuticos, médicos e outros profissionais de saúde é crucial para assegurar o melhor acompanhamento possível dos doentes. “Hoje em dia, muitos centros de saúde, como o de Alhandra, estão sem médicos de família, e isso tem um impacto na gestão das terapêuticas dos utentes. Seria muito benéfico se houvesse uma comunicação mais fluída com os médicos, para que a medicação fosse reavaliada com mais frequência”, salienta. Segundo a profissional, a farmácia é muitas vezes o primeiro ponto de contacto dos doentes quando surgem dúvidas ou problemas com a medicação, algo que poderia ser mais eficaz com uma melhor coordenação entre os vários intervenientes na saúde.
Com o avanço das tecnologias, os farmacêuticos têm ao seu dispor ferramentas que facilitam a sua prática diária, permitindo acesso a informações detalhadas sobre os medicamentos, interacções e contra-indicações. “Quando comecei era tudo feito em papel. Hoje os softwares que usamos no computador têm toda a informação que precisamos e, se houver dúvidas, podemos facilmente verificar no sistema ou recorrer a sites específicos”, refere.

Tecnologia melhora comunicação com médicos
As ferramentas de trabalho do farmacêutico “ajudam imenso”, diz, porque são cada vez mais completas, com inúmera informação acerca dos medicamentos. “Quem está a fazer a dispensa do medicamento mesmo que não se recorde de qual é a forma correcta do medicamento ser tomado ou, por exemplo, não saiba de cor todas as reacções adversas de determinado medicamento consegue sempre verificar no programa toda esta informação. Tem evoluído muito ao longo dos últimos anos”, conclui.
Além disso, a comunicação entre farmacêuticos e médicos também tem melhorado com a integração de novos programas informáticos. “Desde o ano passado podemos enviar pequenas mensagens ou notas directamente aos médicos sobre questões simples, o que agiliza bastante o processo”, explica, reforçando a importância do trabalho em equipa para garantir o bem-estar dos utentes.
Com todas as exigências da profissão, Liliana Berbém admite que o Dia Nacional do Farmacêutico nem sempre é amplamente comemorado. “Estamos tão envolvidos na nossa prática diária que acabamos por, nalgumas excepções, passar apenas uma mensagem simbólica aos utentes para que saibam que também existe o nosso dia”, comenta sorrindo.
No futuro, acredita que o papel do farmacêutico pode ser ainda mais valorizado, especialmente na gestão das terapêuticas. “Podemos ajudar os médicos a acompanhar os utentes, monitorizando a medicação e os sintomas, e só contactar o médico quando for realmente necessário”, sugere.

À beira de completar 15 anos de profissão

Nasceu em Évora em 1986, viveu grande parte da sua vida em Alverca, para onde os pais se mudaram vindos do Alentejo, mas hoje exerce funções em Alhandra, onde é directora técnica da Nova Farmácia Alhandra, que reabriu há um ano fruto de um investimento do Grupo Varela, que remodelou o espaço depois de ter encerrado durante oito anos.
A decisão de seguir Farmácia surge durante o seu percurso estudantil, quando, interessada pela área da saúde, optou por uma alternativa à medicina, que na altura lhe parecia “assustadora”. Após terminar o 12.º ano ingressou no curso de Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. “Sempre pensei em algo próximo da medicina e a farmácia comunitária pareceu-me a opção mais adequada”, afirma.
Liliana Berbém começou a trabalhar em 2010 numa farmácia antiga em Alhandra, a Farmácia Botto e Sousa. Em 2013, após o encerramento da farmácia, transitou para a Farmácia Varela, no Carregado, onde permaneceu até ao convite para ser directora técnica da Nova Farmácia Alhandra.

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