Eleitos de VFX avisam que não toleram ataques à democracia
Em causa distúrbios causados por um cidadão que foi candidato pelo Chega nas últimas autárquicas e que perturbou a última reunião de câmara, levando a que os trabalhos acabassem mais cedo.
“Acto criminoso”, “chafurdice”, “vergonha” e “acto intimidatório”: foi desta forma que a maioria dos eleitos da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira classificou o que aconteceu na última reunião de câmara, em que um cidadão causou distúrbios na sessão levando duas cabeças de porco para dar aos autarcas e chamou “parasita” ao presidente da Junta de Alverca e Sobralinho. Na última assembleia municipal os eleitos avisaram que atitudes deste género, consideradas ameaçadoras e atentatórias da liberdade democrática, não serão toleradas no futuro.
Rui Rei, da bancada da Coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT), foi sem surpresas o eleito com a língua mais afiada na condenação do que aconteceu, chegando a sugerir ao cidadão que provocou os distúrbios, Djalme dos Santos, que se dedique à pecuária. “Se o senhor diz que o povo que está presente nas reuniões nada entende do que é dito pelos eleitos, solicito ao presidente da câmara que contrate tradutores que troquem o que é dito por linguagem de taberna para o seu bom entendimento”, criticou o eleito, lamentando a “cena ridícula”, indecente e vergonhosa que aconteceu. “Qual a diferença entre um porco que chafurda e um burro idiota que se faz de sábio? É pouca. Por isso convido muitos destes senhores que nada dizem entender a deixarem a reunião de câmara e a dedicarem-se à suinicultura em busca de vocação”, criticou.
Também Jorge Carvalho, da CDU, repudiou a cena. “Todas aquelas atitudes devem ser repudiadas e devem ser accionados os mecanismos legais. Foi absolutamente reprovável. Foi um ataque ao nosso modelo democrático. É com muita tristeza e bastante preocupação que vemos situações daquelas acontecer”, lamentou. Uma opinião semelhante à de Catarina Lourenço, do Bloco de Esquerda, que se mostrou solidária para com os eleitos que se sentiram “afrontados e ofendidos”.
“O confronto aos poderes instalados é possível mas passa pelo diálogo, respeito, solidariedade e propostas construtivas e legítimas. Não através da imposição do medo, intimidação, incentivo ao ódio e degradação de espaços que são para uso de todos. O que aconteceu foi além da liberdade de expressão. Quem actua assim não sabe o que é a democracia”, condenou a eleita do BE. Também Filomena Rodrigues (CDS) e Nelson Batista (PAN) se associaram na condenação do que aconteceu.
Chega lamenta
O presidente da câmara, Fernando Paulo Ferreira (PS), voltou a lamentar o incidente e assegurou que a queixa-crime já seguiu para o Ministério Público, relembrando que as reuniões de câmara são públicas, livres e assim continuarão. “Não será um acto como o que assistimos que vai pôr em causa o nosso compromisso com o funcionamento da democracia. Mas é preciso ter em conta que no nosso concelho há um cidadão chamado Djalme dos Santos que foi candidato a esta assembleia municipal. Alguém que fez isto estava disponível para se sentar nas nossas mesas e fazer a discussão política”, condenou.
Fernando Paulo Ferreira disse lamentar não ter ouvido qualquer demarcação do Chega sobre o que aconteceu. “O mínimo que se pode exigir num contexto democrático é que um partido que candidata esta pessoa, tendo em conta o comportamento que teve, se venha manifestar. Os representantes do Chega têm de ter uma palavra política a dizer sobre esta matéria, que é o que faria qualquer outro partido do espectro democrático”, criticou.
De seguida, Diogo Monteiro, do Chega, usou da palavra para dizer que o partido está ainda “em profunda reflexão” sobre o assunto e lembrou que Djalme dos Santos já não faz parte da estrutura do Chega em VFX. “Toda a situação vivida ontem é lamentável e anti-democrática, independentemente dos motivos. Ele não veio em representação do partido mas sim da associação (Habeas Corpus). Estamos solidários com a situação, eu próprio estava a assistir online e não gostei do que aconteceu. Em breve vamos tomar as nossas atitudes”, prometeu. Também Diana Neves, que foi eleita pelo Chega mas passou a ter estatuto de independente, condenou a situação. “Temos de perceber que trabalhamos todos para o mesmo, mas aquelas atitudes são de repudiar”, disse.