Camisola de vereador é razão para tumulto na reunião de câmara do Entroncamento
O presidente da Câmara do Entroncamento, Jorge Faria (PS), decidiu suspender a transmissão online da reunião do executivo de 1 de Outubro, devido ao facto do vereador eleito pelo Chega ter vestida uma camisola do grupo ultranacionalista de extrema direita 1143. O visado e os vereadores do PSD criticaram a decisão e falam em censura.
Ao contrário do habitual, a última reunião de câmara do Entroncamento não teve transmissão online pelo facto do vereador eleito pelo Chega, agora independente, Luís Forinho, se ter apresentado com uma camisola do grupo ultranacionalista e de extrema direita 1143, liderado por Mário Machado e conotado com ideologias neonazis.
“Quando um membro do órgão executivo, se apresenta a uma reunião camarária com uma camisola de propaganda a um grupo ultranacionalista e neonazi, com ideais de incentivo ao ódio, racismo e violência, cujos actos já foram punidos criminalmente, pelos princípios da democracia e da dignidade do ser humano, entendo que não estão reunidas as condições para a transmissão online da reunião determinando a sua suspensão”, argumentou Jorge Faria, garantindo que vai apresentar queixa ao Ministério Público por o vereador da oposição ter usado uma t-shirt de “propaganda neonazi”.
PSD fala em censura
A decisão gerou reacções de desagrado entre os restantes membros do executivo municipal, com os vereadores do PSD a posicionarem-se contra a medida. Rui Gonçalves disse que, segundo o regimento, a decisão tomada unilateralmente por Jorge Faria é susceptível de recurso e que o presidente do município não a pode tomar sozinho, como se da autoridade máxima se tratasse. “A autoridade máxima aqui é este executivo municipal e as decisões são passíveis de recurso. A t-shirt do vereador é uma escolha dele, não tenho nada a ver com isso, nem me interessa. Depois do 25 de Abril houve liberdade para cada um fazer o que entender, se não se concordar que se recorra à justiça, mas nos sítios certos. A suspensão da transmissão é um desrespeito ao executivo e à população, mas infelizmente já não é nada de novo”, declarou.
Também Rui Madeira (PSD) se mostrou contra a suspensão da transmissão considerando ser “um grave atropelo à condução da uma reunião camarária, utilizando expedientes para calar as pessoas que pretendem intervir de forma democrática”. O vereador social-democrata sugeriu a votação da medida, manifestando-se contra a suspensão. “Mais uma vez está instalada a censura neste executivo municipal. Já não bastava a censura nas actas, agora existe uma espécie de autoridade que pode fazer referência ao vestuário dos vereadores”, lamentou, solicitando a retomada da transmissão da reunião.
A vice-presidente Ilda Joaquim saiu em defesa de Jorge Faria, fazendo-se valer do regimento das reuniões camarárias. “As decisões devem ser tomadas em ambientes que não sejam tumultuosos como o que está a ser criado pelos vereadores da oposição. Cabe ao presidente do município abrir e fechar as reuniões, com o poder de suspender ou encerrar antecipadamente, com base em decisões fundamentadas, podendo ser alvo de recurso. O vereador Luís Forinho está a usar a reunião camarária para fazer propaganda ultranacionalista e neonazi”, afirma.
Rui Gonçalves ainda tentou intervir novamente mas foi impedido por Jorge Faria, tendo mesmo abandonado temporariamente a reunião e só voltou após um intervalo, solicitado pelos vereadores sociais-democratas.
Continua a tensão entre Luís Forinho e Jorge Faria
Luís Forinho filmou e transmitiu as suas intervenções, através do telemóvel, apesar das ameaças de Jorge Faria em interromper a reunião, uma vez que a mesma não poderia ser transmitida sem a sua permissão. O vereador independente não se deixou intimidar e continuou a transmissão, levando Jorge Faria a pedir que constasse em acta que iria tomar todas as medidas legais contra o vereador. “Afinal não vai interromper a reunião, como disse. É uma pessoa sem palavra, é um tretas. Um aprendiz de ditador”, lançou Luís Forinho antes das suas intervenções.
Em reuniões camarárias anteriores, o vereador independente, eleito pelo Chega, já tinha dirigido várias críticas contra Jorge Faria. “O presidente tentou comprar-me, no seu gabinete, no processo do Jardim de Infância Sophia Mello Breyner. Fez pressão a todo o executivo no projecto da nova biblioteca que ou seria aprovado ou teríamos de o pagar nós próprios. A equipa socialista que tem presidido ao município vai ficar conhecida como a equipa de maior vergonha e que destruiu o concelho”, atirou.
À margem/opinião
A camisola foleira do vereador que permitiu mais uma tarde de peixeirada ao presidente da câmara
O MIRANTE tem o privilégio de acompanhar ao vivo a maioria das reuniões de câmara do Entroncamento e podemos confirmar que é melhor que pagar para ir ao cinema. É verdade que na Assembleia da República, a casa da democracia, há momentos tão caricatos ou ainda mais caricatos do que os da terra dos fenómenos, mas num meio pequeno as coisas ganham outra dimensão. Desta vez uma camisola fez toda a diferença. O vereador eleito pelo Chega, que não tem como mostrar trabalho nas reuniões de câmara porque não manda nada nem tem como fazer aprovar as suas propostas, resolve inventar para criar factos políticos. Desta vez foi uma camisola. Jorge Faria, o líder da autarquia que conduz os trabalhos, como está de saída e tantos anos como presidente não aprendeu a dirigir uma reunião, queria que o vereador despisse a camisola e ficasse em tronco nu. Não era exactamente assim, mas a verdade é que uma camisola foi o tema da última reunião numa cidade que, afinal, parece uma aldeia onde não há nada para discutir que uma camisola foleira de um vereador. E lá se passou mais uma semana em que Jorge Faria não fez o trabalho de casa para fazer o que ele melhor sabe: zangar-se com as pessoas e mostrar que qualquer pica miolos o faz espumar pela boca.