Vila Chã de Ourique tem uma oficina de bicicletas que é um tesouro
A Oficina do Manuel Bernardes, em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo, tem mais de sete décadas de actividade ininterrupta e foi distinguida pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta com o prémio “Mobilidade em bicicleta”.
A Oficina do Manuel Bernardes, com mais de sete décadas de actividade ininterrupta em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo, foi distinguida com o prémio nacional “Mobilidade em bicicleta”. Criado em 2006 pela Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, o galardão reconhece as entidades ou pessoas individuais que promovem o uso da bicicleta como meio de transporte sustentável em Portugal. Na entrega de prémios, em Lisboa, para além do fundador da oficina, estiveram o presidente da Câmara do Cartaxo, João Heitor, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e o neto de Manuel Bernardes, João Martins, continuador do negócio.
Manuel Bernardes, 93 anos, contava a O MIRANTE, em Junho de 2023, que pediu ao pai para aprender o ofício aos 14 anos com o mestre José Marquez, falecido pentacampeão de ciclismo em Portugal, natural de Vila Chã de Ourique, terra onde decidiu abrir a sua oficina no pós-carreira. A infância de Manuel Bernardes foi semelhante à de muitos outros; fez a escola até à antiga quarta classe e foi trabalhar para o campo. A 1 de Janeiro de 1953, acabado de sair da tropa, estabeleceu-se em Vila Chã de Ourique e passou a ser uma figura conhecida pela paixão e dedicação às bicicletas.
Até hoje Manuel Bernardes nunca fechou para férias, nem mesmo quando tinha um emprego paralelo. “Nas férias dizia à minha mulher para ir com as nossas filhas à praia. Eu ficava a trabalhar. São os sacrifícios que temos de fazer para sustentar uma família”, afirmou. O negócio correu quase sempre bem, mas o mestre recordou a década de 60 quando a oficina esteve perto de fechar devido à falta de clientela. Com duas filhas a estudar e a casa para pagar, arranjou trabalho como soldador na Ford para conseguir suportar os custos de ter a porta da oficina aberta e sem clientes. O sacrifício durou cerca de 14 anos.
Neto continua com o negócio
No início desta década, Manuel Bernardes quebrou a rotina de décadas em que trabalhou todos os dias das oito da manhã às dez da noite. “Custa estar em casa sozinho a ver televisão e a dormir. Quando estou mais triste agarro na bicicleta e vou para a oficina”, desabafa. Entregou o negócio ao neto, João Martins, durante a pandemia. Com 42 anos, João cresceu na oficina e não pensou duas vezes quando o avô lhe deu a oportunidade de continuar com aquela que é “provavelmente uma das oficinas mais antigas do país”. Embora só esteja disponível nas folgas do trabalho que tem a tempo inteiro.
O avô continua a ser muito importante para o negócio, garante João Martins. “Toda a gente que passa pergunta pelo ‘Manel’, que agora faz mais o papel de amigo e conselheiro dos clientes”, explica o neto. João Martins defende que a bicicleta é “o transporte do passado, do presente e do futuro” e um meio que tem impacto positivo na saúde e no ambiente.