Sociedade | 14-10-2024 10:00

O nome do Largo Lobato Correia continua a dividir a população de Valhascos

O nome do Largo Lobato Correia continua a dividir a população de Valhascos
O presidente da Câmara de Sardoal, Miguel Borges, já tem reunião marcada com os primeiros subscritores dos dois abaixo-assinados e com o presidente da Junta de Valhascos para avaliar que soluções podem ser consideradas

113 pessoas subscreveram um abaixo-assinado a defender a mudança de nome do Largo Lobato Correia, em Valhascos, no Sardoal, por, alegadamente, enaltecer uma figura ligada à PIDE e ao Estado Novo. Em resposta, 203 pessoas expressaram-se a favor da manutenção do nome que evoca o primeiro presidente da Junta de Freguesia de Valhascos.

O nome do Largo Lobato Correia, em Valhascos, concelho de Sardoal, continua a dividir a população do concelho. Um grupo avançou com um abaixo-assinado pedindo a alteração do nome do Largo Lobato Correia para Largo das Tílias e reuniu 113 assinaturas, alegando que o nome evoca uma figura ligada ao Estado Novo e à ditadura salazarista. Do outro lado estão os que preferem que o nome seja mantido e foram 203 os que assinaram em defesa dessa pretensão.
A Comissão de Toponímia e o executivo da Câmara de Sardoal foram apanhados entre dois fogos e consideraram não haver argumentação suficiente para a mudança de nome. O primeiro abaixo-assinado a favor da mudança de nome, contava com 126 assinaturas e defendia a designação apenas de Largo, uma vez que era o único largo na freguesia e assim conhecido por todos. A proposta foi rejeitada, uma vez que, segundo a Comissão de Toponímia teria de ter um topónimo associado. O segundo abaixo-assinado reuniu cerca de 113 assinaturas e defendia a mudança para Largo das Tílias. Maria Eugénia, primeira signatária de ambos os documentos que defendem a mudança de nome, acredita ser uma melhor opção uma vez que “não causa incómodo a ninguém e não tem conotações políticas nem religiosas”.
O problema tem-se arrastado desde Abril e, na última Assembleia Municipal de Sardoal, a munícipe voltou a marcar presença, depois de já o ter feito em Julho, acusando o executivo municipal e a Comissão de Toponímia de falta de equidade e imparcialidade. A munícipe defende que o actual nome do largo é uma homenagem a um antigo membro da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). “É um nome que glorifica o mal e nunca os fregueses foram consultados sobre tal decisão, havendo ainda pessoas vivas que estiveram presentes nas atrocidades do senhor Lobato Correia que foi nomeado pelo regime fascista e toda a vida serviu e comportou-se como tal”, afirmou Maria Eugénia.
O presidente do município, Miguel Borges (PSD), já tem reunião marcada com os primeiros subscritores dos dois abaixo-assinados e com o presidente da Junta de Freguesia de Valhascos para entender que soluções podem ser consideradas. O autarca repudiou as acusações de Maria Eugénia ao executivo e à Comissão de Toponímia. “Não posso aceitar que classifique com falta de clareza, parcialidade, meandros obscuros ou ilegalidades as acções da câmara municipal e da comissão. Nem eu, e penso que nenhum dos meus colegas vereadores, se revê nessas acusações que são lamentáveis”, disse.

Referendo não reúne consenso
Na assembleia municipal, o eleito Fernando Vasco disse tratar-se de um assunto sensível, com relações emocionais e sentimentos aos fregueses e que deveria ser tratado com bom senso, sugerindo a realização de um referendo. A proposta reuniu alguma concordância por parte dos presentes, incluindo, Miguel Borges.
No entanto, o presidente da Junta de Freguesia de Valhascos, Duarte Baptista, e o presidente da Assembleia Municipal de Sardoal, Miguel Alves, mostraram-se reticentes sobre a possibilidade. “A Comissão de Toponímia fez bem o seu trabalho. É um assunto do município que não cabe nem à junta nem à assembleia votar, nem decidir sobre o referendo. Se agora for feito um terceiro abaixo-assinado, redigido correctamente, vamos esquecer as 203 pessoas que assinaram contra a mudança do nome do largo? E quanto ao referendo, a câmara municipal vai pensar nessa opção depois de haver uma decisão votada de forma unânime e aprovada também pela comissão?”, questiona.

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