As histórias de vida de alguns vendedores do Mercado Municipal de Tomar
O Mercado Municipal de Tomar é um espaço de referência na cidade, funciona de terça a sábado, mas é à sexta-feira que recebe mais visitantes. Os vendedores são pessoas cheias de histórias para contar. Alguns estão lá há dezenas de anos e já não imaginam as suas vidas sem o mercado. O MIRANTE visitou o espaço numa sexta-feira, dia de maior afluência de público, e falou com alguns comerciantes.
Precisamente uma semana depois do presidente da Câmara Municipal de Tomar, Hugo Cristóvão, e da vereadora Rita Freitas terem aberto as portas do Mercado Municipal de Tomar para evitar que este fechasse em dia de greve, atitude que gerou muita polémica, O MIRANTE foi visitar o espaço e conhecer alguns comerciantes. Donzília Silva, Almerinda Duro e José Ferreira são vendedores do Mercado de Tomar há mais de 20 anos. Partilham o gosto pela actividade, consideram que o mercado continua a ter muita clientela mas lamentam a pouca afluência dos mais jovens.
Donzília Silva tem 63 anos e vem de Figueiró dos Vinhos. Está no Mercado de Tomar há 24 anos, vende legumes, frutas, hortaliças, entre outros. A maior parte dos produtos que vende são produzidos na quinta onde vive em Figueiró dos Vinhos. Antes trabalhava como camionista juntamente com o seu pai e andou ao volante durante muitos anos. Conta que a sua família tinha uma firma de camiões de transporte de materiais de construção e madeiras. Enquanto o pai explorava o negócio dos camiões, a sua mãe andava nos mercados a vender os produtos da quinta. Após a morte da mãe, vítima de cancro, foi Donzília Silva que teve que tomar conta do negócio. “A minha mãe ficou doente de um dia para o outro, tínhamos contratos a cumprir e eu passei para este trabalho e fiquei com o negócio para mim. Sinceramente gostava mais da minha profissão antiga, mas cá fiquei”, confessa.
Além de Tomar, também vende nos mercados de Ourém e Caxarias. “Consigo conciliar tudo porque tenho uma pessoa que me ajuda durante a semana, porque geralmente eu trabalho muito mais na quinta”, revela. O dia de Donzília Silva começa cedo, acorda às 04h00 da manhã, trata dos animais que tem na quinta e vai para o mercado, regressa a casa às 15h00 e continua a trabalhar em casa para o dia seguinte. Sobre o mercado de Tomar apenas lamenta a falta de um parque de estacionamento. “É um bom mercado, mas era melhor se tivesse um parque de estacionamento como tínhamos há 20 anos. A esse nível é o mercado mais complicado que conheço”, explica. Donzília Silva assume que quer ficar no mercado até conseguir. “Isto para mim é um entretém para a minha velhice”, diz com um sorriso no rosto.
O sonho de trabalhar no mercado
Almerinda Duro tem 71 anos e vende no Mercado de Tomat há 30 anos. Trabalhou como cozinheira num hotel, teve um restaurante, mas o seu sonho sempre foi trabalhar no mercado. “Vim para cá porque era um sonho que tinha e ainda hoje o tenho; se eu morrer aqui dentro morro onde eu sou feliz”, sublinha. Em conversa com O MIRANTE revela que dos 30 anos em que está no mercado só faltou durante dez meses devido a doença oncológica e um mês por causa de uma broncopneumonia. “Nunca tirei férias”, vinca.
Trinta anos no mercado sem férias
A sua banca é uma das maiores do mercado, foi crescendo ao longo dos 30 anos, de um lado vende queijos, chouriço, presunto, e do outro vende de tudo um pouco, frutas de todas qualidades, legumes. Almerinda Duro acorda às 06h00 da manhã, vai para o mercado e sai às 15h00. O resto do seu dia é passado em casa, faz as contas do negócio e cuida do marido se for necessário. “Ele pede-me todos os dias para eu deixar isto, mas não vou deixar porque é o que eu gosto”, conta. Sobre os clientes, confessa que a maior parte são pessoas idosas e também muitos estrangeiros. “Isso é um problema, porque eu só sei falar um bocadinho espanhol, mas a gente por gestos desenrasca-se”, diz bem disposta.
Negócio passou de pai para filho
Tal como Almerinda Duro, também José Ferreira está no mercado de Tomar há 30 anos. José Ferreira tem 50 anos e vende pão. “Era negócio do meu pai e depois fiquei a tomar conta disto. Desde os 13 anos que venho para cá”, explica. O pão é feito por si, durante a noite, antes de ir para o mercado. É pão feito à moda antiga, cozido em forno a lenha. Aprendeu a fazer pão com o pai. “Ensinou-me a mim e ao meu irmão, depois o meu irmão foi para outro negócio e eu continuei”, revela. José Ferreira acorda à meia-noite para fazer o pão, vende no mercado até ao meio-dia, depois vai para casa descansar. “São assim os meus dias, é sempre a mesma rotina de terça a sábado”, conta.