Sociedade | 15-10-2024 07:00

As histórias de vida de alguns vendedores do Mercado Municipal de Tomar

As histórias de vida de alguns vendedores do Mercado Municipal de Tomar
Donzília Silva, 63 anos, Almerinda Duro, 71 anos e José Ferreira, 50 anos

O Mercado Municipal de Tomar é um espaço de referência na cidade, funciona de terça a sábado, mas é à sexta-feira que recebe mais visitantes. Os vendedores são pessoas cheias de histórias para contar. Alguns estão lá há dezenas de anos e já não imaginam as suas vidas sem o mercado. O MIRANTE visitou o espaço numa sexta-feira, dia de maior afluência de público, e falou com alguns comerciantes.

Precisamente uma semana depois do presidente da Câmara Municipal de Tomar, Hugo Cristóvão, e da vereadora Rita Freitas terem aberto as portas do Mercado Municipal de Tomar para evitar que este fechasse em dia de greve, atitude que gerou muita polémica, O MIRANTE foi visitar o espaço e conhecer alguns comerciantes. Donzília Silva, Almerinda Duro e José Ferreira são vendedores do Mercado de Tomar há mais de 20 anos. Partilham o gosto pela actividade, consideram que o mercado continua a ter muita clientela mas lamentam a pouca afluência dos mais jovens.
Donzília Silva tem 63 anos e vem de Figueiró dos Vinhos. Está no Mercado de Tomar há 24 anos, vende legumes, frutas, hortaliças, entre outros. A maior parte dos produtos que vende são produzidos na quinta onde vive em Figueiró dos Vinhos. Antes trabalhava como camionista juntamente com o seu pai e andou ao volante durante muitos anos. Conta que a sua família tinha uma firma de camiões de transporte de materiais de construção e madeiras. Enquanto o pai explorava o negócio dos camiões, a sua mãe andava nos mercados a vender os produtos da quinta. Após a morte da mãe, vítima de cancro, foi Donzília Silva que teve que tomar conta do negócio. “A minha mãe ficou doente de um dia para o outro, tínhamos contratos a cumprir e eu passei para este trabalho e fiquei com o negócio para mim. Sinceramente gostava mais da minha profissão antiga, mas cá fiquei”, confessa.
Além de Tomar, também vende nos mercados de Ourém e Caxarias. “Consigo conciliar tudo porque tenho uma pessoa que me ajuda durante a semana, porque geralmente eu trabalho muito mais na quinta”, revela. O dia de Donzília Silva começa cedo, acorda às 04h00 da manhã, trata dos animais que tem na quinta e vai para o mercado, regressa a casa às 15h00 e continua a trabalhar em casa para o dia seguinte. Sobre o mercado de Tomar apenas lamenta a falta de um parque de estacionamento. “É um bom mercado, mas era melhor se tivesse um parque de estacionamento como tínhamos há 20 anos. A esse nível é o mercado mais complicado que conheço”, explica. Donzília Silva assume que quer ficar no mercado até conseguir. “Isto para mim é um entretém para a minha velhice”, diz com um sorriso no rosto.

O sonho de trabalhar no mercado
Almerinda Duro tem 71 anos e vende no Mercado de Tomat há 30 anos. Trabalhou como cozinheira num hotel, teve um restaurante, mas o seu sonho sempre foi trabalhar no mercado. “Vim para cá porque era um sonho que tinha e ainda hoje o tenho; se eu morrer aqui dentro morro onde eu sou feliz”, sublinha. Em conversa com O MIRANTE revela que dos 30 anos em que está no mercado só faltou durante dez meses devido a doença oncológica e um mês por causa de uma broncopneumonia. “Nunca tirei férias”, vinca.

Trinta anos no mercado sem férias
A sua banca é uma das maiores do mercado, foi crescendo ao longo dos 30 anos, de um lado vende queijos, chouriço, presunto, e do outro vende de tudo um pouco, frutas de todas qualidades, legumes. Almerinda Duro acorda às 06h00 da manhã, vai para o mercado e sai às 15h00. O resto do seu dia é passado em casa, faz as contas do negócio e cuida do marido se for necessário. “Ele pede-me todos os dias para eu deixar isto, mas não vou deixar porque é o que eu gosto”, conta. Sobre os clientes, confessa que a maior parte são pessoas idosas e também muitos estrangeiros. “Isso é um problema, porque eu só sei falar um bocadinho espanhol, mas a gente por gestos desenrasca-se”, diz bem disposta.

Negócio passou de pai para filho
Tal como Almerinda Duro, também José Ferreira está no mercado de Tomar há 30 anos. José Ferreira tem 50 anos e vende pão. “Era negócio do meu pai e depois fiquei a tomar conta disto. Desde os 13 anos que venho para cá”, explica. O pão é feito por si, durante a noite, antes de ir para o mercado. É pão feito à moda antiga, cozido em forno a lenha. Aprendeu a fazer pão com o pai. “Ensinou-me a mim e ao meu irmão, depois o meu irmão foi para outro negócio e eu continuei”, revela. José Ferreira acorda à meia-noite para fazer o pão, vende no mercado até ao meio-dia, depois vai para casa descansar. “São assim os meus dias, é sempre a mesma rotina de terça a sábado”, conta.

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