Sociedade | 22-10-2024 18:00

Solidão e dificuldades de relacionamento potenciam problemas de saúde mental nos estudantes do ensino superior

Solidão e dificuldades de relacionamento potenciam problemas de saúde mental nos estudantes do ensino superior
Afonso Glória e André Pinto, dirigentes de associações de estudantes em Rio Maior e Santarém, sublinham que os pais devem deixar os filhos ser independentes e dar-lhes autonomia

Quase 23% dos estudantes universitários em Portugal foram diagnosticados com uma doença mental, metade após a pandemia de Covid-19.

Ansiedade e depressão são as situações mais comuns. Em Santarém, a situação não é diferente, com jovens estudantes a enfrentar o isolamento social e dificuldades de alojamento. O Instituto Politécnico de Santarém organizou as I Jornadas de Saúde Mental no Ensino Superior, destacando o impacto da solidão e o papel da literacia relacional no agravamento dos problemas de saúde mental.

A saúde mental dos estudantes do ensino superior tem vindo a piorar e muitos apresentam quadros de ansiedade e depressão. Um estudo coordenado pela Universidade de Évora concluiu que quase 23% dos estudantes inquiridos em seis universidades portuguesas foram diagnosticados com uma doença mental, metade deles após a pandemia de covid-19. Em Santarém, o cenário não é diferente mas o presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária de Santarém, André Pinto, diz que a pandemia já não é desculpa. “Tenho reparado que no início de cada ano lectivo chegam à associação cada vez mais alunos que vêm com problemas de casa. Chegam a uma cidade diferente sozinhos, sem colegas da escola secundária, e deparam-se com dificuldades de alojamento e aumento do custo de vida. Para evitar o abandono escolar, os problemas de saúde mental têm de ser detectados logo nas primeiras semanas de aulas do aluno”, diz.
O Instituto Politécnico de Santarém dinamizou as I Jornadas de Saúde Mental no Ensino Superior, precisamente no Dia Mundial da Saúde Mental, dia 10 de Outubro, no Convento de São Francisco. Uma das conclusões é a de que a baixa literacia relacional, agravada pelo uso das redes sociais, tem contribuído para o isolamento dos jovens e, consequentemente, a dificuldade em travar amizades. A solidão sentida pelos estudantes é um gatilho para o desenvolvimento de quadros depressivos e uma saúde mental mais fragilizada. “Tenho exemplos de estudantes, com 17 e 18 anos, que vêm conhecer a escola com os pais. Isto não é positivo. Os pais também têm de deixar os filhos ser independentes e dar-lhes autonomia”, refere André Pinto.
Na Escola Superior de Desporto de Rio Maior muitos dos alunos são de outros pontos do país e chegam sozinhos. O vice-presidente da Associação de Estudantes, Afonso Glória, sublinha que a solidão sentida rapidamente passa a depressão. “Chegam ao pé de mim e perguntam o que podem fazer aos fins-de-semana, porque não querem ficar sozinhos”, conta.

Saúde mental é uma preocupação do IPS
A realização das Jornadas de Saúde Mental no Ensino Superior surgiu de uma preocupação do Instituto Politécnico de Santarém (IPS). Segundo o presidente da instituição, João Moutão, os estudantes estão a ser alvo deste flagelo, trazendo consigo o estigma associado à saúde mental, o que contribui para agravar mais o sofrimento. Actualmente o IPS tem dois psicólogos ao serviço da comunidade escolar e em breve vão começar consultas de psiquiatria. “É um longo caminho e não é o suficiente. É preciso articulação entre a educação, o sector da saúde e a própria sociedade. O assunto tem de ser encarado do ponto de vista político”, diz João Moutão.
As Jornadas de Saúde Mental contaram com o Director Geral do Ensino Superior, Joaquim Mourato, que anunciou o programa, lançado pelo Governo, para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, com uma dotação total de 12 milhões de euros. O programa vai financiar 40 projectos a nível nacional, incluindo o do IPS, que vai receber 159 mil 212 euros.

Cheques-psicólogo com critérios exclusivos
No início do mês começaram a ser implementados os cheque-psicólogo, uma medida do Governo que vai permitir o acesso dos estudantes do ensino superior a consultas de psicologia, num tecto máximo de 100 mil consultas. No entanto os critérios de exclusão de acesso ao cheque, nomeadamente para os alunos com necessidades educativas específicas, que apresentem comportamentos aditivos, com diagnóstico de perturbação psicótica ou bipolar, ou de perturbação da personalidade, pensamentos suicidas e sintomas com duração superior a um ano e meio, estão a ser alvo de críticas. “Já temos estudantes que solicitaram os cheques e temos duas psicólogas que podem aumentar o apoio aos alunos através destes cheques. Algumas doenças, infelizmente, não estão abrangidas pelo cheque mas é melhor ter este recurso do que não ter”, reitera João Moutão.

Falta de alojamento é uma dor de cabeça para os estudantes

O custo da habitação tem vindo a aumentar em Santarém e a cidade tem dificuldade em conseguir alojar todos os alunos. André Pinto conta que os senhorios têm aproveitado a falta de oferta para aumentar o preço dos quartos. O representante dos estudantes congratula-se com as duas residenciais que abriram e outras duas que se encontram em fase de construção, mas que deviam estar concluídas no final deste ano. André Pinto sublinha que as mais de 200 camas prometidas para a antiga Escola Prática de Cavalaria devem avançar rapidamente.
Em Rio Maior, a falta de alojamento estudantil foi colmatada com a inauguração de uma residência dentro do Campus da Escola Superior de Desporto e outra residência construída pelo município. Pelas suas características, são residuais os estudantes que precisam de apoio psicológico. De acordo com o director da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Nuno Pimenta, o desporto e a informalidade facilitam as relações interpessoais. Dos mais de 1200 alunos, apenas uma dúzia são atletas e por isso podem sentir mais pressão em atingir resultados desportivos e não só académicos.

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