Autismo do filho fez Conceição Dias lutar pela vida
Conceição Dias, 38 anos, encontrou um novo propósito de vida depois de saber que o filho era autista. Mudou-se de Trás-os-Montes para Alverca e para trás deixou uma vida dura. Em plena pandemia de Covid contrariou a tendência e abriu a sua loja com peças de artesanato. Hoje não tem mãos a medir para dar conta das encomendas e já vende para fora do país.
Um diagnóstico de autismo não tem de ser uma sentença. Para Conceição Dias, ter recebido a notícia que o filho tinha espectro de autismo salvou-lhe a vida. Com um histórico de depressões e tentativas de suicídio, decidiu dedicar-se ao filho João. Conceição Dias é natural de Ribeira de Pena, Trás-os-Montes, e reside há uma década no Bom Sucesso, Alverca, para onde se mudou após o divórcio.
Quando o filho teve o primeiro ataque de epilepsia, aos 9 meses, estava ao seu colo. Já desconfiava que algo não estava bem porque o bebé não chorava e era pouco reactivo. Nalguns dias, o menino chegava a ter quatro ataques epilépticos e sucessivos internamentos. Com um ano e meio foi diagnosticado como autista e epiléptico e mais tarde com diabetes. Ofereceram-lhe apoio psicológico e saiu da depressão. Procurou por terapias para o filho, reiki e contactou com associações de paralisia cerebral que a reencaminharam.
Deixou de trabalhar porque não conseguia manter o emprego, mas continuava em casa a fazer artesanato. O filho não podia estar na creche mas tinha uma educadora em casa. Todos os dias andava um hora de caminho para levar o João para a terapia mas achava que não estava a resultar. Não via melhoras no filho. A decisão estava tomada, deixar a terra para trás e arriscar uma nova vida em Alverca, onde o filho pudesse ter mais e melhor acompanhamento.
Desde que João reside em Alverca faz terapias na CEBI, nomeadamente terapia ocupacional e fisioterapia. Estudou nas escolas do Bom Sucesso e foi sempre bem acolhido e acarinhado por todos. Ainda mantém o grupo de amigos da pré-primária e aos 16 anos frequenta o ensino regular na Escola Secundária Gago Coutinho, em Alverca.
A estudar programação e gestão informática nunca precisou de mostrar os relatórios médicos e os testes de Quociente de Inteligência são acima da média. “O normal não satisfazia o João. Os professores tinham sempre de lhe dar mais fichas e trabalhos, porque acabava tudo muito depressa e era insuficiente. Evoluiu muito desde que viemos para cá”, conta a mãe.
Uma vida nova em Alverca
Conceição Dias tem três filhos. Na infância fazia roupa para bonecas e, aos 12 anos, o avô levou-a para aprender a bordar com uma costureira. Nunca mais deixou a agulha e as linhas. Nos intervalos da escola tirava o pano da mala e ficava a bordar. Depois entregava os trabalhos à costureira e recebia por eles.
Trabalhou sempre em casa até abrir a loja no centro comercial do Bom Sucesso, em plena pandemia de Covid-19. Na altura todos a desincentivaram mas arriscou e abriu as portas em Julho de 2020 com as peças que tinha feito durante os meses de confinamento. Foi o que precisou para arrancar e hoje não tem mão para as encomendas. Lembranças de casamento, linhas abertas, convites e trabalhos personalizados são inclusive vendidos para o Brasil, Cabo Verde, França e através das redes sociais e site.
Fecha a “Linhas e Linho” às 17h00 para poder acompanhar os filhos mas continua o trabalho em casa. Já abriu outra loja de bijuteria, no mesmo centro comercial, onde está o actual companheiro a ajudar.
“Costumo dizer que o João é o filho que todas as pessoas sonham ter. Quando dizem que ter um filho autista é uma cruz, para mim não é verdade, foi a minha sorte. Se não fosse ele já tinha desistido. Nós aprendemos mais com eles do que eles connosco. Os autistas fazem as coisas mais devagar mas mais perfeitas e a nossa vida é andar à pressa”, refere.
Conceição Dias sonha com um futuro risonho para os filhos, mas faz questão de lhes fazer ver que para chegarem onde querem tem de haver esforço, não desistir e não esperar apoios. Num futuro próximo planeia dar worshops de artesanato e gostava que um dos filhos desse continuidade aos seus trabalhos manuais, porque cada vez há menos jovens que se interessam pela área.