Bombeiros veteranos querem mais apoio e união e menos burocracia
Encontro de bombeiros da região em Vila Franca de Xira apelou a maior espírito de camaradagem entre pares, mas também lançou repto para ser a Liga dos Bombeiros a “mandar” e não a Protecção Civil.
Cerca de uma centena de bombeiros de 30 corporações dos distritos de Santarém, Lisboa e Setúbal participaram, dia 26 de Outubro, num almoço-convívio no salão da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira, com o intuito de reavivar o espírito de camaradagem entre os soldados da paz, numa iniciativa que relembrou tempos em que o convívio e o apoio mútuo eram a base do voluntariado.
“Nos tempos modernos deixou de haver tanto contacto entre bombeiros”, afirmou Eduardo Abreu, chefe do quadro de honra dos Bombeiros de Vila Franca de Xira, que se destacou pela longa carreira, tendo entrado para o corpo em 1965. “Esta iniciativa pretendeu reunir pessoal que já não víamos há muito tempo. Tenho aqui bombeiros que já não via desde 1986”, sublinhou, apontando que as receitas do convívio serão entregues à direcção dos bombeiros locais.
O evento foi marcado pelo reencontro e pelas memórias partilhadas, ao mesmo tempo que proporcionou uma tarde de fados interpretados por bombeiros que, além do combate ao fogo, cultivam outras paixões. Entre os fadistas estava Francisco Hilário, de 61 anos, natural da Póvoa de Santa Iria, que ao longo de 12 anos conciliou a vida de bombeiro com o gosto pelo fado e pelo futebol. “Muitas vezes estava nos treinos de futebol, tocava a sirene e largava tudo para ir para os bombeiros. Aconteceu muita vez. Não há horas para a emergência”, disse, realçando que “o fado era e é ao fim-de-semana. Isto nasceu comigo e são 50 anos a cantar”.
Francisco Hilário recordou ainda o espírito de companheirismo que antes unia os bombeiros voluntários e lamentou o distanciamento que sente nos dias de hoje. “Antigamente, quando íamos para os bombeiros, valia o amor ao próximo, éramos todos muito influenciados pelos amigos. Hoje, ser bombeiro está muito profissional, infelizmente. O bombeiro voluntário perdeu um bocadinho aquela amizade e entreajuda”, lamenta, sublinhando a importância de iniciativas como esta. “Hoje em dia para a malta nova andar fardado é bonito, mas não é, é sim uma questão de responsabilidade”, vinca.
Burocracia e distanciamento entre os comandos e os bombeiros
Além da partilha de histórias, o encontro proporcionou uma reflexão sobre os desafios actuais dos soldados da paz, marcados, segundo Eduardo Abreu, pela “crescente burocracia e pelo distanciamento entre os comandos e os bombeiros”. “Está-me a custar muito que agora seja a Protecção Civil a mandar e os bombeiros sejam aqueles que mais sofrem, e que, por vezes, não têm comida quando andam nos fogos”, exemplificou. “A Liga dos Bombeiros tem que ser forte, tem que mandar e não ser mandada”, continuou, referindo a necessidade de maior união entre os bombeiros e as suas estruturas.
Ao recordar tempos passados, Eduardo Abreu mencionou ainda a agilidade com que antes se deslocavam para ajudar em outros concelhos. “Antigamente havia muitas actividades. Se houvesse um incêndio no Porto Alto, íamos daqui até lá. Hoje, há tanta burocracia que, quando há um incêndio no Porto Alto, chegam a vir bombeiros do Cadaval. Quem sofre são as populações”, rematou.