Sociedade | 04-11-2024 10:00

Chamusca paga para pertencer a associação de vinhos com uma adega abandonada e sem produtores no concelho

Chamusca paga para pertencer a associação de vinhos com uma adega abandonada e sem produtores no concelho
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Edifício da Adega Cooperativa da Chamusca é o espelho do estado a que chegou o sector do vinho no concelho. Foto Google Maps

Ao longo dos últimos 10 anos o município da Chamusca gastou milhares de euros em cotas na Associação de Municípios Portugueses do Vinho, mas não se sabe que proveito tem tirado desse investimento. Os campos do concelho cada vez têm menos vinhas e o edifício onde funcionou uma das adegas de referência no país continua abandonado e a degradar-se.

A Câmara Municipal da Chamusca paga, desde 2015, mais de 1500 euros por ano para pertencer à Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV) embora actualmente não se conheça nenhum produtor de vinho no concelho. Para além disso, numa das entradas da vila, está um “mamarracho” abandonado e a degradar-se há quase duas décadas, onde funcionou a antiga Adega Cooperativa da Chamusca, que fechou portas em 2007.
A AMPV foi criada a 30 de Abril do mesmo ano com o objectivo de defender, promover e valorizar os territórios do país com tradição vitivinívola. Não se sabe qual a importância ou as vantagens de a Câmara da Chamusca pertencer à associação, mas o facto do município, presidido por Paulo Queimado (PS), já ter gasto mais de 13 mil euros em cotas anuais é motivo de críticas na vila. Segundo apurou O MIRANTE, junto de fonte da autarquia, o município faz-se representar nas iniciativas da associação por um funcionário dos quadros da autarquia, mas até hoje não se conhece que trabalho tem sido desenvolvido nem se a Chamusca tem condições para voltar a ser um concelho produtor de vinhos. Nas reuniões de câmara ou de assembleia municipal o assunto também não é discutido nem a oposição à maioria socialista pede contas para escrutinar o que tem sido feito. “Temos alguém a representar-nos numa associação de vinhos, que organiza iniciativas em várias zonas do país, mas até hoje não sabemos que partido estamos a tirar deste investimento. Os campos da Chamusca cada vez têm menos vinhas e a realidade não parece com tendência a alterar-se”, revela a mesma fonte, lamentando ter às portas da vila um edifício abandonado. “A Adega Cooperativa da Chamusca, que funcionou durante mais de meio século e era uma referência no país, hoje é um pombal”, lamenta.
Numa entrevista a O MIRANTE deste ano, Frederico Falcão, ribatejano de gema nascido na Chamusca e criado em Abrantes, que preside à direcção da ViniPortugal, também se mostrou muito apreensivo com a realidade que o concelho vive no sector do vinho. “O meu gosto pelo sector do vinho vem da adega cooperativa [da Chamusca], que tinha algumas colheitas emblemáticas. Lembro-me das de 80 e de 83. A minha avó tinha vinhas no campo da Chamusca e recordo-me de ir com o meu pai à adega ver as fermentações dos vinhos. Cheguei a trabalhar nas vindimas nas férias (…) Hoje quase não há vinhas no campo”, lamentou.

O fim de uma agonia
A agonia da Adega Cooperativa da Chamusca chegou ao fim em 2007 com dívidas de mais de um milhão de euros. A adega, com mais de 50 anos de serviço, fez um investimento avultado em 1998 que a direcção da altura, encabeçada pelo empresário João Carlos da Luz, nunca conseguiu rentabilizar. Os sócios da adega acusaram a direcção de má gestão, afirmando que a Adega começou a entrar em colapso a partir de 2003. Como não recebiam o dinheiro referente às suas produções, os produtores foram arrancando as vinhas e procuraram alternativas. Depois de muitos anos no mercado imobiliário, a Caixa Geral de Depósitos comprou as instalações da Adega por 485 mil euros conforme escritura datada de Novembro de 2017. O banco público negociou créditos reclamados pela Caixa Agrícola da Chamusca, Fenadegas - Federação Nacional das Adegas Cooperativas, e João Pedro Carapinha, ex-funcionário da cooperativa. A venda das instalações da Adega foi tentada por duas vezes em leilões de 2007 e 2011 por valores na ordem de um 1,7 milhões de euros. A primeira venda judicial em 2007 foi impugnada por o valor base ser muito baixo. A segunda de 2011 não encontrou interessados. A compra pela Caixa Geral de Depósitos deve-se ao facto de o banco público ser também um dos credores.
Todos os agricultores a quem a Adega da Chamusca deve dinheiro, nomeadamente das últimas campanhas, não receberam qualquer verba depois do fecho da cooperativa. Recorde-se que a adega fechou as portas em 2007 e dias depois da realização da última assembleia-geral, que aprovou o seu encerramento, uma grande parte da maquinaria foi retirada do edifício e vendida a um empresário, elemento do conselho fiscal da própria Adega da Chamusca para ser montada na zona de Torres Vedras. Destas receitas nada chegou também aos produtores a quem a adega ficou a dever muito dinheiro.

Chamusca na Feira da Gastronomia promove vinho
de Alpiarça

A Câmara Municipal da Chamusca marcou presença na Feira Nacional da Gastronomia, em Santarém, onde esteve a promover um vinho de Alpiarça, o Minoc. O município marcou presença com uma comitiva onde também estava o presidente da câmara, Paulo Queimado, a vice-presidente, Claúdia Moreira, e o vereador Rui Ferreira. Para além do vinho de Alpiarça, o município promoveu algumas iguarias do concelho, nomeadamente as trouxas de ovos, lampreia de ovos e as Almofadinhas do Semideiro.

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