Sociedade | 04-11-2024 21:00

Crianças do concelho da Golegã aprenderam a fazer pão em forno a lenha

Crianças do concelho da Golegã aprenderam a fazer pão em forno a lenha
Uma dezena de crianças fizeram pão pela primeira vez em iniciativa no forno comunitário de São Caetano, na Golegã

Gabriela Rosa, Maria Olímpia e Celeste Santos ensinaram as crianças a fazer pão à moda do antigamente na iniciativa Sábado Canguru, promovida pela Câmara da Golegã em parceria com a Junta de Freguesia da Golegã.

O MIRANTE conversou com as padeiras do Pombalinho e com duas mães para perceber o que as fez inscrever os filhos na iniciativa.

O último Sábado Canguru promovido pela Câmara da Golegã em parceria com a Junta de Freguesia da Golegã, que disponibilizou o recém-restaurado e secular forno comunitário de São Caetano, ficará na memória de cerca de uma dezena de crianças que fizeram pão pela primeira vez e ainda brincaram com a farinha no meio da correria. Gabriela Rosa, Maria Olímpia e Celeste Santos ensinaram a fazer pão à moda do antigamente e contaram as suas histórias a O MIRANTE.
No Chouto, concelho da Chamusca, de onde Gabriela Rosa, 64 anos, é natural, cozia-se pão uma vez por semana e chegou a comer pão de milho com bolor. Aprendeu a fazer pão com a mãe e as tias, em criança, e colabora com a amiga Olímpia, de 69 anos, que tem forno, em iniciativas da Santa Casa da Misericórdia de Azinhaga, que frequentam e para onde confeccionam pão e broas. Tinha 13 anos quando se mudou para o Pombalinho para aprender costura, que exerceu até casar. Depois foi trabalhar para o campo. Nos últimos tempos trabalhou num restaurante como copeira.
O processo de panificação começa pela diluição do sal e do fermento em água morna e depois é colocado na farinha. A massa “não pode ficar nem muito dura nem muito mole”. O alguidar é tapado e a massa fica a levedar junto ao forno “até se tornar o dobro daquilo que nós amassámos”. O tempo de cozedura varia de forno para forno e o pão está cozido “quando batemos no fundo e tiver o toque que nós conhecemos”. Gabriela Rosa, que vive sozinha, ficou feliz de ver as crianças entusiasmadas a amassar a massa e a moldar o pão.
Fazer pão para toda a semana permitiu a Celeste Santos, 73 anos, natural de Ramalhais, no distrito de Leiria, poupar dinheiro quando mais precisava. Ficou sozinha com duas filhas menores, a quem conseguiu pagar um curso superior mais tarde, e terminar as obras na casa do Pombalinho. Cinco quilos de farinha davam pão para toda a semana, que punha na arca. Por trás da sua casa cultivava um terreno com batatas, feijão, couves e tomate e era assim que orientava a vida. Trabalhou numa pecuária durante 26 anos e nas folgas trabalhava no campo, onde as filhas, na altura com 15 e 16 anos, começaram a trabalhar nas férias. Criava frangos e iniciou-se na matança do porco. Nunca tirou férias e disse às filhas que depois de reformada não ia trabalhar. É o que está a fazer e é feliz, afirma com um sorriso, revelando que passeia e participa nas actividades da Misericórdia de Azinhaga. Tem dois netos e uma neta que gostam de fazer pão com a avó, pizzas e bolos.

Momentos em família
As irmãs Sónia e Cláudia Valadares levaram os filhos a participar no Sábado Canguru, iniciativa que decorre ao segundo sábado de cada mês nas várias freguesias do concelho, com uma temática diferente. Cláudia Valadares participou com o filho de três anos, a idade mínima, e considerou a actividade “muito gira porque também traz memórias aos pais”. Lembra-se de fazer pão em casa da avó materna e defende que “os nossos filhos só têm a ganhar com tudo aquilo que os faz sair de casa e interagir com outras crianças em actividades diferentes do dia-a-dia”. O filho já é incentivado a ajudar na cozinha e a progenitora afirma que este tipo de actividades ajudam na motricidade fina e a manusear objectos que costumam ser utilizados numa idade mais avançada, como a faca e a tesoura, sob vigilância.
Sónia Valadares explica que o motivo de participar nos Sábado Canguru é a interacção entre pais, filhos e familiares. Tem uma filha de seis anos e “nada como pôr as mãos na massa”, refere, justificando que “nos últimos tempos é rara a criança que sabe como se faz o pão”. A mãe diz que a filha estava “em pulgas” e que “ver a alegria das crianças a mexer na massa” foi o que guardou da iniciativa que terminou com a prova do pão, acompanhado de caldo-verde, cortesia da junta de freguesia. Sónia Valadares reconhece que no dia-a-dia é difícil ter tempo para iniciativas como a da Câmara da Golegã. “Ela adora fazer broas na época dos Santos, para ser ela a moldar”, conta.

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