Sociedade | 04-11-2024 15:00

Sexualidade continua a ser tema tabu para quem sofre de cancro

Sexualidade continua a ser tema tabu para quem sofre de cancro
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Congresso sobre saúde e bem-estar oncológico reuniu duas centenas de pessoas em Alenquer

No congresso “É Sobre Mim - Saúde e Bem-Estar Oncológico”, promovido pela Associação Acolher Prá Vida, em Alenquer, discutiu-se a relutância dos doentes oncológicos em falarem sobre a sua sexualidade com os médicos. Especialistas sublinham a importância de abordar este tema, que ainda enfrenta preconceitos tanto entre pacientes como nos profissionais de saúde.

Os doentes oncológicos têm medo de falar com os profissionais de saúde sobre a sua sexualidade e há médicos que não se sentem habilitados para falar sobre o tema. A sexualidade dos doentes com cancro foi um dos assuntos abordados no primeiro congresso “É Sobre Mim - Saúde e Bem-Estar Oncológico”, organizado pela Associação Acolher Prá Vida, de Alenquer.
Perante uma plateia de 200 pessoas, no Fórum Romeira, em Alenquer, a psicóloga clínica Maria Piedade Leão confirmou o impacto que os tratamentos oncológicos têm a nível sexual, nomeadamente a perda de desejo, o medo da rejeição, ansiedade, depressão e, entre os homens, a disfunção eréctil. Por outro lado ainda subsistem mitos como o de que o cancro se transmite pela via sexual e por isso é melhor não ter relações com o parceiro. “É necessário o doente colocar a sexualidade na agenda, mas dar tempo e valorizar a intimidade. Recorrer a medicamentos e aos brinquedos sexuais pode ajudar. É preciso redefinir a sexualidade de acordo com o potencial e perceber que pode não ser possível o casal voltar ao que era antes da doença”, disse a psicóloga.
No final do painel sobre sexualidade e auto-estima, uma espectadora confirmou que o tema ainda é tabu e que, por experiência própria, quem quiser falar sobre sexualidade tem de recorrer à medicina privada porque no Serviço Nacional de Saúde o assunto é relegado para segundo plano. “Os profissionais de saúde deviam falar sobre a sexualidade e sobre a falta de auto-estima e atribuir psicólogos aos doentes oncológicos logo desde o início do processo”, defendeu. Outra das intervenientes, enfermeira, disse que graças à Ordem dos Enfermeiros o tema da sexualidade já está a ser leccionado aos estudantes de enfermagem no curso de base.

Reajustar a vida após o diagnóstico e focar o presente
Combater um cancro pode levar a um desgaste emocional muito grande e por isso um dos temas do congresso foi a saúde mental e emocional dos doentes e dos seus cuidadores. Segundo o psicólogo João Anacleto, os cuidadores podem ver a sua saúde mental tão ou mais debilitada do que quem tem cancro. “A incerteza torna a doença assustadora. Mas, por muito que custe, eu digo sempre às pessoas para se informarem sobre o problema”, afirma.
O psicólogo explicou a O MIRANTE que não é benéfico para o doente querer fazer a vida normalmente como antes da doença e que os momentos de lazer têm que ser reajustados. “Digo às pessoas que mais vale passarem por um reajuste, que é temporário, porque a médio prazo fica adaptada à nova realidade. Um reajuste, por muito que custe, é mais benéfico do que tentar fazer tudo como era antes, porque isso pode piorar o quadro e gerar esforço, cansaço e eventualmente um esgotamento”, considera.
Rute Queiroz dá aulas de yoga há 12 anos e sempre teve alunas com limitações físicas e a recuperar de doenças. Defende a meditação e a prática de mindfulness, concentração no momento presente, como estratégias para lidar com o cancro. Dá aulas de yoga na Associação Acolher Prá Vida e explica que é possível adaptar as posturas da prática aos doentes oncológicos. “As minhas aulas envolvem escuta e partilha. Tenho alunas com doenças graves mas que fazem os movimentos e técnicas de respiração. O yoga ajuda na mobilidade”, afiança.
O congresso contou com a intervenção de outros especialistas e abordou questões como a gestão de sintomas e exercício físico na doença oncológica e dietas específicas para fortalecer o sistema imunológico. Ao longo do dia foram feitas várias partilhas entre a plateia e muitas conversas sobre como lidar com o cancro durante a pausa para almoço. Cantou-se os parabéns à Acolher Prá Vida e comeu-se bolo num primeiro congresso que mereceu elogios dos participantes.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1692
    27-11-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1692
    27-11-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo