Desaparecimentos levantam dúvidas sobre gestão do Lar das Raparigas em Torres Novas
Menores foram localizadas pela Polícia depois de terem estado seis dias desaparecidas. Já não é a primeira vez que utentes fogem dessa valência da Misericórdia de Torres Novas. Assistente social diz que esta é uma casa em regime aberto que trabalha a autonomia e não uma prisão.
O recente desaparecimento, que durou seis dias, de duas jovens de 17 anos do Lar Dr. Carlos Azevedo Mendes veio levantar dúvidas entre familiares de utentes sobre a gestão desta valência da Santa Casa da Misericórdia de Torres Novas, conhecida como Lar das Raparigas. Até porque já não é primeira vez que utentes fogem da instituição, acabando consequentemente por preocupar as famílias e dar trabalho às autoridades, que activam meios para as tentar localizar.
“Não percebo como é que isto acontece, desaparecerem assim. Continuo a achar que algo de errado se passa naquele lar”, disse a O MIRANTE o pai de Benedita Vieira, uma das jovens que foi dada como desaparecida na sexta-feira, 25 de Outubro, juntamente com Diana Assis. Hugo Vieira acrescentou que também não compreende por que é que a instituição critica as famílias por resolverem tornar públicos os desaparecimentos numa tentativa de recolherem informações acerca do seu possível paradeiro. “Dizem que não temos nada que mencionar que estavam na instituição”, diz, ressalvando que as famílias queriam apenas localizar as jovens.
Diana Assis e Benedita Vieira foram localizadas pela Polícia de Segurança Pública (PSP) na cidade do Entroncamento e devolvidas à instituição ao final da tarde de quinta-feira, 31 de Outubro. Estas jovens, juntamente com uma outra utente, já tinham fugido da instituição em Março do ano passado, tendo estado em paradeiro incerto durante mais de 24 horas. Dessa vez, recorde-se, apresentaram-se na esquadra da Polícia do Entroncamento depois de terem sido lançados alertas para o seu desaparecimento nas redes sociais e comunicação social.
Instituição não é uma prisão
O MIRANTE tentou por diversas vezes chegar à fala com a directora dessa valência da Misericórdia de Torres Novas, mas sempre sem sucesso. No entanto, Inês Oliveira, assistente social no Lar das Raparigas, respondeu às questões colocadas referindo que esta é “uma casa de acolhimento em regime aberto” e, como tal, “não é nenhuma prisão”, mas um espaço onde é trabalhada a “autonomia” dos utentes. “Estas jovens vão para a escola sozinhas, fazem a vida delas de forma autónoma e quando não cumprem os horários conversamos com elas”, referiu, explicando que alertaram as famílias para o facto de que ao exporem a imagem das jovens na Internet, estas iriam ficar sempre associadas a estas fugas do lar. “Foi a pensar nelas, não na instituição”, vincou.
No mesmo sentido, o provedor da Santa Casa, António Gouveia, voltou a mencionar, tal como aquando do desaparecimento de três jovens em Março de 2023, que aquela instituição não é nenhuma prisão, sugerindo que as utentes têm liberdade para entrar e sair da mesma sem necessidade de acompanhamento.
Relativamente ao desaparecimento de Benedita Vieira e Diana Assis, explicou que deixaram o lar para supostamente se deslocarem até à escola que frequentam na cidade, como era habitual, e que a instituição deu seguimento às diligências normais neste tipo de situações, nomeadamente através de participação da ocorrência à Polícia de Segurança Pública (PSP) e Segurança Social.
Quando questionado sobre os nomes completos das utentes e mais pormenores sobre as circunstâncias do desaparecimento das mesmas, António Gouveia revelou desconhecimento que justificou com o facto de ter a seu encargo “nove valências, 150 funcionários e mil utentes”. Depois vincou: “sou um voluntário que tem o seu trabalho normal e que não pode saber tudo”.