Ana Catarina usa a costura criativa para apoiar causas sociais e ambientais
Ana Catarina Assunção ministra formações e cursos de costura criativa no concelho de Abrantes, junto de várias associações e entidades.
Procura nos seus trabalhos, quer de artesanato, quer na produção de peças em contexto de formação, manter presentes as vertentes sociais e ecológicas, evitando o desperdício de tecido e contribuindo com peças para crianças ou apenas para manter idosos activos.
Ana Catarina Assunção é licenciada em design, moda e têxtil e tem colaborado com várias associações na realização de cursos e workshops na área da costura criativa no concelho de Abrantes. A preocupação ambiental e ecológica é uma das fortes componentes que marca o trabalho de Ana Catarina, que produz peças de artesanato, com o nome Planeta Aproveita, onde reutiliza restos de tecido que, noutros casos, seriam desperdício, para produzir peças como brinquedos, malas e carteiras.
A vertente de apoio social é outro dos pilares do seu trabalho, procurando, junto dos mais idosos, combater a solidão, com workshops e cursos de costura e produzir peças para projectos solidários para crianças. “Ultimamente, algumas das peças que temos feito nos cursos são gorros que vão para a maternidade de Abrantes e fazem parte de um kit para os bebés. Também fazemos alguns polvos que são oferecidos, na maternidade, a bebés prematuros, uma vez que apreciam particularmente esse tipo de brinquedo, talvez por os tentáculos fazerem lembrar o cordão umbilical que os liga à mãe. No futuro, estou a pensar começarmos a fazer, nos cursos, corações para doar a pessoas que sofram de cancro da mama. Acho importante envolver a comunidade, através da costura, nestas causas sociais que são muito importantes”, explica.
Desde 2018 que dá formações e workshops, trabalhando, actualmente, com o Centro de Dia de Rio de Moinhos, na Associação Para a Vida em Casa e na Comunidade (APVCC) e no Centro Social do Pessoal do Município de Abrantes, colaborando ainda com o Centro de Reabilitação e Integração de Abrantes (CRIA) e com a associação Meninos da Floresta.
Uma paixão quem vem da infância
Em criança, sempre viu a mãe a costurar e aos quatro anos já era apanhada com a tesoura na mão, pronta para cortar os lençóis. Aos cinco anos começou por experimentar o tricô, mas confessa que foi após a licenciatura que, realmente, decidiu seguir a costura como profissão. Após terminar o ensino superior e sem conseguir arranjar trabalho na área, devido à crise na indústria têxtil, vivida entre 2008 e 2011, foi obrigada a conciliar trabalhos temporários com ocupações na área para se manter activa.
Em 2013 começou a trabalhar por conta própria, tendo tentado lançar uma marca de bikinis, juntamente com algumas colegas, e, mais tarde, abrir uma loja, mas sem sucesso. Em 2018, decidiu tirar a Formação de Formadores – CCP e começar a dar formações e cursos, admitindo que é o que lhe dá mais prazer. “Gosto de criar e transmitir o que sei e aprendi. É um gosto enorme ver as pessoas aprenderem e realizarem as peças por si. Algumas até acabam por começar a fazer de artesanato ou para ter uma renda extra e é muito enriquecedor”, diz.
Apesar de já ser reconhecida na região pelos cursos e formações e já ter conseguido um público-alvo, admite que ainda é difícil viver na constante montanha russa de instabilidade financeira. “Há meses que conseguimos juntar algum dinheiro e outros que não temos nada, como Agosto e Dezembro. É preciso saber fazer a gestão e ir poupando”, afirma.
A costura criativa baseia-se na realização de acessórios pessoais do dia-a-dia como malas, bolsas, carteiras e porta-chaves, algo que, afirma ser diferente da sua formação académica, mas mais enriquecedor. “Além do desperdício que vi em fábricas e na indústria, aqui as pessoas não produzem em massa, mas para si ou para dar a alguém próximo. É fruto total do seu trabalho e as próprias técnicas ensinadas são diferentes. Existe também uma preferência pelos acessórios do dia-a-dia, em vez do vestuário, por ter mais complicações como as medidas e as contas e por exigir uma maior quantidade de tecido que, hoje em dia, está a um preço muito elevado”, explica.
Um ofício útil que está a cair em desuso
Ana Catarina sente que, no concelho de Abrantes, ainda há quem procure aprender costura e tenha interesse no ofício. No entanto, reconhece que a profissão tem vindo a cair em desuso e tem-se vindo a perder o interesse, no panorama geral. “Na altura da minha mãe, todas as senhoras aprendiam a costurar com alguma modista. Nos meios pequenos era muito comum. Mas na minha altura já não houve tanto esse interesse e depois ainda menos. Acho que tem havido uma quebra que se tem acentuado de geração em geração e parece-me que seja esse o motivo de haver cada vez menos costureiras. E, as poucas que há, trabalham em casa ou fazem serviços muito caros”, lamenta.
Defende que para aprender o ofício, o principal é boa vontade. “Se as pessoas quiserem aprender, conseguem. É um trabalho mais tradicional e manual. Aqui, já ensino também a usar a máquina. Muitas pessoas chegam aos cursos com algumas bases, mas é importante terem vontade de conseguir ver e aprender além do que já sabem. É sempre útil saber, quanto mais não seja para coser um botão ou fazer uma bainha das calças”, afirma com um sorriso.