Projecto de ciência cidadã monitoriza rio Almonda na Azinhaga
Uma equipa da associação "30 Por Uma Linha" esteve nas margens do Almonda na Azinhaga a monitorizar a qualidade da água e a fauna e flora no rio e nas suas margens.
O MIRANTE foi acompanhar uma acção de monitorização do rio Almonda, na Azinhaga, num troco de cerca de 500 metros, numa zona habitacional onde está construído um passeio ribeirinho e se podem encontrar esculturas, azulejos com frases da Obra de José Saramago e vários espaços de lazer.
Antes de qualquer monitorização, cada um dos participantes agarrou numa engenhoca e em sacos plásticos para recolher o lixo depositado no passeio, ou ao longo das margens do Almonda, na sua grande maioria copos e outros objectos de plástico, latas e garrafas de bebidas.
Só no final do passeio, já junto à ponte do Cação, a equipa da associação fez o trabalho de campo que durou cerca de uma hora entre análises à água, medição do caudal e da fundura do rio, velocidade da água, transparência, existência de organismos nocivos à boa qualidade, assim como a procura quase exaustiva da fauna e flora do rio. O grande problema do Almonda naquele troço continua a ser a invasão dos jacintos, que por ser tão grande e acontecer em grandes extensões, empobrece o seu leito e a qualidade das espécies piscícolas que, aparentemente, será quase nula mesmo nesta altura de final de Outono e quase inverno.
O trabalho de monitorização do troço do rio teve outros atrativos como a observação das aves, nomeadamente das águias, o canto do rouxinóis, das garças, dos estorninhos e dos bicos de lacre, assim como das borboletas, libelinhas e das galinhas de água. Durante cerca de três horas, que passaram num instante, entre conversas e observação do que nos rodeava, o momento mais dramático foi ver um saca-rabos a caçar uma galinha de água, provavelmente a sua primeira refeição do dia, para lamento de uma das técnicas que, embora perceba que é assim que funciona a natureza animal, não deixou de penar pela má sorte da ave branquinha como a neve.
A equipa do “30 por uma linha” era constituída pelo Filipa Coelho, João Pires, Hugo Ribeiro, João Cartaxo, Lina Cruz e teve a omnipresença de Paulo Martins que ofereceu um salgueiro para a equipa plantar junto à margem. Rute Campanha, da Fundação José Saramago, fazia as honras da casa.
Ao longo das três horas de trabalho, denominado de “ciência cidadã”, alguns dos poucos residentes da vila que circulavam pelos mesmos caminhos foram avisando sobre a presença de outros animais selvagens nas margens do rio, assim como sobre o depósito de lixo em zonas mais escondidas. Apesar de ser domingo, ou talvez por isso, o caminho junto ao rio Almonda, entre o parque de merendas e a ponte, parecia o lugar ideal para um retiro de silêncio, não contando com o barulho de uma máquina que apanhava milho do outro lado da margem, assim como o canto dos rouxinóis e dos bicos de lacre.
A saída de campo que O MIRANTE acompanhou correspondeu à 12ª Saída de Campo do Projeto Rios, na foz do rio Almonda, que está integrado no Projecto Rios, e é coordenado em Portugal pela ASPEA - Associação Portuguesa de Educação Ambiental. A intenção é a de promover a sensibilização da sociedade civil para os problemas e a necessidade de protecção e valorização dos sistemas ribeirinhos.
Macroinvertebrados como indicadores da qualidade da água
A análise dos parâmetros físico-químicos da água do rio Almonda, depois da recolha de alguns macroinvertebrados, ajudaram a complementar a avaliação global efetuada ao rio, classificando com qualidade nível 3, uma vez que tal como na monitorização de Outono do ano passado, a equipa deparou-se com um número de macroinvertebrados muito reduzido. Por serem sensíveis à poluição ou degradação dos ecossistemas aquáticos alguns macroinvertebrados bentónicos (insetos aquáticos pertencentes às ordens Plecoptera, Ephemeroptera e Trichoptera) são especialmente utilizados como bioindicadores para avaliar a qualidade de água que, no caso de apresentar maior qualidade também apresenta, regra geral, uma maior diversidade. O caso do rio Almonda é aparentemente um desastre sem solução à vista.