Jovens saem para trabalhar mas querem viver e dar vida a Azambuja
Unir, dar voz e juntar em iniciativas a juventude de Azambuja. Esta é a premissa da AJOCA, a associação que agrega jovens dos 13 aos 35 anos num concelho onde a tendência é procurar trabalho em Lisboa mas continuar a residir na terra que dá qualidade de vida e é marca da identidade.
Se há quem diga que os jovens estão a viver de costas voltadas para o voluntariado e o movimento associativo, em Azambuja há um grupo de 40 elementos a demonstrar o contrário. Com idades compreendidas entre os 13 e os 35 anos integram a AJOCA- Associação de Jovens do Concelho de Azambuja, fundada há meia dúzia de meses com o objectivo de unir a juventude e a pôr a trabalhar em prol da sua terra. Entre os seus objectivos estão a organização de eventos sociais, culturais e desportivos e a auscultação de jovens sobre os seus anseios e preocupações, procurando dar-lhes solução.
“Estamos divididos em oito grupos de trabalho com os principais temas que queremos ver trabalhados para benefício dos jovens e de medidas que possamos tomar”, explica o presidente da direcção, Gonçalo Simões, detalhando que essas áreas são a habitação, educação, empregabilidade, restauração/comércio local, saúde, desporto, sustentabilidade e logística. “O objectivo é que cada grupo de trabalho consiga auscultar as pessoas e fazer iniciativas, e apurar as diferenças que existem em cada freguesia, porque existem, para as levarmos junto das entidades”, completa o secretário da direcção, Miguel Santos.
O jovem de 24 anos, que estudou e trabalha na área da Saúde, considera que esta é uma matéria em que ainda se verificam algumas assimetrias entre as freguesias do concelho, sobretudo na zona norte onde “os serviços de saúde estão mais distantes”. Também na esfera da Educação há uma clara diferença, com os jovens do alto concelho - Alcoentre e União de Freguesias de Manique do Intendente, Vila Nova de São Pedro e Maçussa - a dispersarem para Rio Maior e Cartaxo quando transitam para o ensino secundário. “Faz parte da nossa missão ouvir esses jovens e perceber qual é a sua opinião, perceber o que falta para continuarem a estudar no concelho, que condições teriam de ter”, afirma Miguel Santos.
Embora ainda não tenham o diagnóstico traçado há, para já, uma dificuldade sentida de forma muito clara: a falta de oferta na restauração no concelho onde, ressalvam, há bons restaurantes, mas não em número suficiente e, no geral, sem salas que acolham grandes grupos. “Somos jovens, gostamos do social, de ir jantar fora com os amigos e a oferta no concelho não é a melhor”, refere o presidente da direcção, explicando que quando quiseram marcar um jantar para os elementos da associação foi um problema.
Trabalhar em Lisboa e viver em casa dos pais
Daniela Ferreira, Gonçalo Simões e Miguel Santos têm muito mais em comum do que a idade e o facto de integrarem a direcção da AJOCA. Todos trabalham em Lisboa e vivem em casa dos pais, no concelho de Azambuja. É, dizem, uma tendência geracional que afecta muitos e que tem vários factores a contribuir para ela. Um deles é o facto de em Azambuja não conseguirem, possivelmente, o “emprego de sonho” numa grande empresa; outro é o dos preços incomportáveis das rendas da habitação na capital.
Apesar disso, sublinha Daniela Ferreira, há muitos jovens que não querem sair do concelho por causa da tranquilidade que oferece. “Aqui temos qualidade de vida. Vamos ao café e conhecemo-nos todos e isso é bom. Agora, com a associação, ainda estamos mais próximos o que nos dá mais vontade de continuar e de criarmos vida para ficarmos cá”, diz. “Azambuja tem o urbano e o rural. Temos a natureza e todos os serviços e infraestruturas de que precisamos”, salienta Gonçalo Simões, advogado estagiário em Lisboa.
Onde há falhas, e porque as há em qualquer concelho, a associação, explicam, vai procurar resolver ou tentar contribuir de alguma forma para a sua resolução. É disso exemplo, referem, a oferta cultural que em Azambuja não é a melhor e para a qual já deram o seu contributo com a organização, em Outubro, de um espectáculo de stand up comedy, que esgotou o auditório do Páteo do Valverde. “Uma das nossas prioridades é fazer o plano de actividades para 2025. Perceber que actividades podemos fazer com as juntas de freguesia e trabalhar nesse sentido”, explica a vice-presidente da direcção, acrescentando que este planeamento lhes vai dar a possibilidade de se candidatarem a apoios municipais, assim como de organismos nacionais como o Instituto Português do Desporto e Juventude.