A culpa morre solteira na descarga ilegal que matou milhares de peixes no Almonda
Análises revelam que a 6 de Agosto as águas do rio Almonda excediam 28 vezes o limiar de qualidade com carga orgânica muito elevada e diminuição do oxigénio, mas não permitem identificar culpados. Município de Torres Novas diz que origem da descarga vai continuar em análise pelas entidades competentes.
Praticamente 100 dias depois foram divulgadas as análises realizadas pela Agência Portuguesa do Ambiente à água do rio Almonda, em Torres Novas, onde a 6 de Agosto último foram encontrados milhares de peixes mortos. O relatório, divulgado pelo município de Torres Novas, confirma a ocorrência de uma descarga poluente no rio, mas não permite identificar a origem da mesma.
De acordo com a Câmara de Torres Novas, os resultados “revelam que as análises tiveram em consideração os parâmetros gerais que habitualmente são analisados quando se suspeita de descarga ilegal de águas residuais” e que na data do episódio de mortandade “algo fez disparar os valores para níveis anormalmente altos”.
Os valores de CBO (Carência Bioquímica de Oxigénio), anteriores e posteriores a 6 de Agosto “são semelhantes e são considerados como bom ou excelente no limiar fronteira de qualidade dos parâmetros físico-químicos gerais”. No entanto, refere o município, as análises feitas nesse dia apresentam “um valor (140 mg O2/l), que excede 28 vezes o limiar de qualidade do bom estado ecológico (5mgO2/l), sendo indicador de uma carga orgânica muito elevada, e anormalmente muito superior ao verificado nos restantes períodos”, que se traduz entre 35 a 46 vezes superior. As análises demonstram ainda que nesse dia foi registada uma Carência Química de Oxigénio (CQO) também de valor elevado (160 mg O2/l).
“Considerando os elevados valores de CBO e CQO determinados, cerca de 20 vezes superiores aos detectados em períodos homólogos no rio (considerando os valores mais altos registados), podemos afirmar que é evidente a ocorrência de uma descarga ilegal no rio, afastando a hipótese da conjugação das condições do rio à data, nomeadamente aumento da temperatura da água, despreendimento de matéria orgânica do fundo, acumulação de nutrientes, entre outras”, conclui o município presidido por Pedro Ferreira.
Causa continua desconhecida
Pelos resultados conclui-se ainda que a mortandade dos peixes poderá ter diferentes causas relacionadas com a descarga, desde toxicidade de químicos, à diminuição de oxigénio dissolvido na água. Contudo, as evidências recolhidas não permitem indiciar a causa. “A causa continua desconhecida, não havendo indícios ou testemunhos que permitam indiciar a origem da descarga poluente, continuando o processo em análise pelas entidades competentes”, refere a autarquia, acrescentando que “perante este episódio e resultados da monitorização que se encontra a realizar, será delineado um plano de acção com o envolvimento das entidades com competência na matéria, com o objectivo de eliminar potenciais focos de poluição e mitigar a poluição dos recursos hídricos”.
O caso foi detectado pelos serviços municipais por volta das 08h00 da manhã de 6 de Agosto, junto ao Açude Real. A ocorrência foi de imediato reportada pelo município às autoridades competentes, nomeadamente ao departamento de Ambiente da Polícia de Segurança Pública, e teve consequências na fruição do rio, nomeadamente para pesca e outras actividades lúdicas.