Sociedade | 27-11-2024 12:00

André Salema mantém viva a memória do irmão que morreu a conduzir uma ambulância

André Salema mantém viva a memória do irmão que morreu a conduzir uma ambulância
André Salema, que sofreu a perda do irmão Pedro em 2007, foi uma das vozes activas de um movimento cívico que despertou consciências para a necessidade de melhorar o traçado da EN3. fotoDR

A vida de Pedro Salema, um jovem bombeiro de Azambuja, foi interrompida por um acidente trágico em Agosto de 2007. A sua memória permanece viva na família e a Estrada Nacional 3 onde aconteceu o acidente fatal está, finalmente, a receber obras para melhorar a segurança da circulação automóvel.

“Um vazio permanente que vamos levar para o resto da vida”. André Salema relembra a perda do irmão, Pedro, na Estrada Nacional 3 em Azambuja, num acidente de viação há 17 anos. André Salema, actual presidente da Junta de Freguesia de Azambuja e técnico de segurança de profissão, recorda, no âmbito do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, que se assinalou a 17 de Novembro, o trágico acidente que, em 2007, vitimou o irmão Pedro Salema, então motorista de uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Azambuja.
“Foi no dia 7 de Agosto de 2007 que perdi o meu irmão Pedro. Ele era bombeiro e estava em marcha de urgência, a caminho de Vila Nova da Rainha, para uma emergência pré-hospitalar. No trajecto, um veículo pesado atravessou a via e não houve tempo para uma travagem. Ele embateu contra o camião e morreu. Tinha 27 anos”, descreve o autarca, de 40 anos, em declarações a O MIRANTE.
André Salema, que desde cedo esteve ligado ao voluntariado e que actualmente está a trabalhar em obras de construção civil na modernização da Linha do Norte, não esquece a ligação próxima ao irmão e o impacto que a sua perda teve. “É como se nos arrancassem uma peça. É um vazio permanente que levamos o resto da vida. Todos os dias falávamos, brincávamos ou chateávamo-nos. Sinto muita saudade. Estamos a falar de uma pessoa jovem que tinha tudo para dar. Decidiu, naquele dia, estar numa missão de socorro aos portugueses, enquanto tantos outros estavam a aproveitar um dia praia. Isso ainda me traz mais transtornos”, confessa.
O acidente, segundo André Salema, despertou consciências na comunidade local quanto aos perigos da EN3. “A viragem à esquerda era o calcanhar de Aquiles daquela estrada, agravado pelas velocidades excessivas. Este acidente foi um dos primeiros alertas para que algo estava errado”, afirma.
Passados 17 anos, André Salema mantém viva a memória do irmão. “Na nossa memória, ele estará sempre. O mais difícil é saber que ele nunca conheceu a minha filha, a sobrinha que certamente adoraria. É uma questão que me choca muito”, refere com mágoa.
Pedro Miguel Serrano Horta Salema, bombeiro de primeira classe, perdeu a vida num acidente com uma ambulância enquanto se deslocava para socorrer uma vítima de AVC. Com apenas 27 anos, Pedro Salema dedicava-se desde 1999 aos Bombeiros Voluntários de Azambuja, corporação onde cresceu e que considerava uma segunda casa. Filho e irmão de antigos bombeiros, integrava o Grupo de Intervenção Permanente e era reconhecido pela competência e ambição.
O acidente ocorreu quando a ambulância que conduzia, em marcha de emergência com sinais luminosos e sonoros, embateu num camião que atravessava a via ao sair de uma empresa de logística. O funeral de Pedro Salema, marcado pela comoção entre bombeiros, populares e autarcas, teve a presença do então ministro da Administração Interna.

Luta da Plataforma EN3 deu frutos
O trágico episódio somou-se a tantas outras ocorrências que levaram à criação da Plataforma EN3, movimento cívico que reivindicou melhorias na segurança rodoviária. “A Plataforma nasceu depois de um acidente gravíssimo que ceifou a vida a uma jovem e feriu outras duas jovens da Azambuja. Foi aí que, juntamente com Inês Louro e o antigo presidente da câmara Joaquim Ramos, decidimos fazer algo. As obras que hoje vemos na EN3 devem-se ao esforço e à luta da população”, refere André Salema.
As intervenções na EN3 encontram-se, hoje, em execução, mas André Salema sublinha o papel das comunidades em exigir mudanças. “A Plataforma tinha como único objectivo exigir melhorias. Apesar de demoradas, as obras estão a avançar. O movimento não tem tido grande actividade, presentemente, portanto, ou se dá por terminado o papel da plataforma ou alguém continuará a reclamar por melhorias na estrada”.

Sinistralidade rodoviária registou ligeira descida em Lisboa e Santarém

O número de acidentes rodoviários nos distritos de Lisboa e Santarém registou uma diminuição em 2024 face ao ano anterior, segundo dados provisórios da Guarda Nacional Republicana (GNR), relativos ao período até 30 de Outubro.
No distrito de Lisboa, os concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja e Vila Franca de Xira somaram 1690 acidentes este ano, menos 237 do que em igual período de 2023. Também o número de vítimas mortais desceu de 10 para 7, enquanto os feridos graves passaram de 39 para 26. Os feridos leves totalizaram 461, menos 42 do que no ano anterior.
Quando faltam considerar dois meses de 2024, a GNR indica que Vila Franca de Xira é o concelho do distrito de Lisboa, entre os quatro analisados, que regista maior número de acidentes (597) e feridos ligeiros (170), enquanto Azambuja, com três vítimas mortais, é onde mais se morre ao volante. Alenquer somou o maior registo de feridos graves (13) resultantes de acidentes de viação. O concelho de Arruda dos Vinhos não tem registo de quaisquer vítimas mortais e feridos graves, assim como o número total de acidentes e feridos leves é o mais reduzido dos quatro concelhos.
Já a PSP de Vila Franca de Xira registou 802 acidentes de viação em 2023 na área sob sua jurisdição, segundo dados fornecidos pela Divisão Policial local. Entre as principais causas identificadas destacam-se o excesso de velocidade, o desrespeito pelas regras de prioridade e mudanças de direcção, bem como a falta de adaptação da condução às condições da via e às condições climatéricas.
Para mitigar a sinistralidade, a PSP tem realizado várias acções de fiscalização e campanhas de sensibilização, que incluem operações stop direccionadas ao controlo da condução sob efeito de álcool, utilização de dispositivos de retenção para crianças e proibição do uso de telemóveis durante a condução.

Ourém e Benavente no topo da sinistralidade no distrito de Santarém

No distrito de Santarém, os 21 concelhos registaram 4167 acidentes até Outubro de 2024, uma redução face aos 4702 contabilizados em 2023. Mas o ano ainda não acabou. O número de vítimas mortais caiu de 26 para 20 e os feridos graves de 182 para 149. Quanto aos feridos leves, registaram-se 1235, menos 144 do que no ano anterior.
Por concelhos, Ourém lidera com 565 acidentes registados, mantendo-se como o que tem maior número de ocorrências no distrito. Este valor, embora inferior aos 643 registados em 2023, reflecte uma maior densidade de sinistralidade em comparação com outros municípios.
O concelho de Benavente é o que regista maior número de vítimas mortais, totalizando dois óbitos até 30 de Outubro de 2024, ainda assim uma redução significativa face às seis mortes verificadas no ano passado. Rio Maior destaca-se pela gravidade das lesões resultantes dos acidentes, somando 25 feridos graves em 2024. Este número representa um aumento em relação aos 16 feridos graves registados no ano anterior.

Comportamentos de risco e vias secundárias concentram sinistralidade grave

De acordo com a GNR, os acidentes graves nas regiões de Lisboa e Ribatejo estão frequentemente associados ao excesso de velocidade, distrações durante a condução – especialmente o uso de telemóveis –, consumo de álcool ou substâncias psicotrópicas e manobras irregulares.
A maior incidência verifica-se em vias secundárias, sendo menos frequente em estradas nacionais e auto-estradas. Os automóveis ligeiros foram os veículos mais envolvidos em sinistros, seguidos de automóveis pesados e motas. As vítimas com mais de 50 anos são as mais afectadas pelos acidentes, destacando-se como o grupo etário mais vulnerável.
Em 2024, a GNR intensificou as acções de fiscalização e sensibilização, em colaboração com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) e entidades gestoras das vias. Estas iniciativas incidiram sobre a velocidade, o álcool, o uso de dispositivos de segurança, a utilização do telemóvel e a condução de veículos de duas rodas e pesados.
No âmbito do Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, a GNR apela “à reflexão sobre a importância de uma condução responsável”, sublinhando que a sinistralidade rodoviária permanece como a principal causa de morte entre crianças e jovens em Portugal. “Cada escolha ao volante é decisiva para a segurança de todos”, frisa a força de segurança.

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