Sociedade | 27-11-2024 18:00

Automedicação e atraso na ida ao médico contribuem para elevada taxa de mortes por pneumonia

Automedicação e atraso na ida ao médico contribuem para elevada taxa de mortes por pneumonia
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Gustavo Reis, director do Serviço de Pneumologia da Unidade Local de Saúde Lezíria e coordenador da pneumologia do Hospital CUF Santarém. fotoDR

A mortalidade causada por pneumonia continua a ser elevada em Portugal, onde o envelhecimento da população é factor determinante. Apanhar frio não origina a doença e ter um estilo de vida saudável pode preveni-la. Uma conversa com o pneumologista Gustavo Reis a propósito do Dia Mundial da Pneumonia.

A mortalidade por pneumonia mantém-se elevada em Portugal por diversos factores interligados, estando entre eles o atraso na procura de cuidados médicos, muitas vezes por desvalorização inicial dos sintomas, e a auto-medicação inadequada, especialmente com antibióticos guardados de tratamentos anteriores. Quem o diz é o director do Serviço de Pneumologia da Unidade Local de Saúde Lezíria e coordenador da pneumologia do Hospital CUF Santarém, Gustavo Reis, a propósito do Dia Mundial da Pneumonia que se assinala a 12 de Novembro.
Gustavo Reis sublinha que o envelhecimento da população é também um factor que eleva a taxa de mortalidade, pois “os idosos são particularmente vulneráveis devido ao sistema imunitário mais débil e à presença frequente de múltiplas doenças crónicas”. A vacinação, defende, é fundamental, incluindo a vacina anual contra a gripe, tal como ter higiene adequada, manter um estilo de vida saudável, sono adequado, gerir o stress, manter os espaços bem ventilados, não fumar e tratar prontamente outras infecções respiratórias.
Uma pneumonia não tratada ou inadequadamente tratada, explica o médico a O MIRANTE, pode acarretar diversas complicações graves para o organismo como a acumulação de líquido na pleura, formação de abcessos pulmonares ou insuficiência respiratória aguda, exigindo por vezes ventilação mecânica. A infecção pode ainda disseminar-se pela corrente sanguínea, causando septicemia, uma situação potencialmente fatal que pode afectar múltiplos órgãos. Também o coração pode ser afectado, desenvolvendo-se arritmias ou insuficiência cardíaca e, em casos graves, podem surgir complicações renais, com risco de insuficiência.

Atenção aos sintomas
O pneumologista refere que a pneumonia se manifesta através de sintomas aos quais devemos estar particularmente atentos, sendo os mais comuns a tosse persistente, dificuldade respiratória ou falta de ar, dor torácica ao respirar e febre alta acompanhada por calafrios, fadiga intensa e perda de apetite. “É fundamental procurar observação médica urgente caso se verifique dificuldade respiratória grave, febre persistente, coloração azulada dos lábios ou dedos, tosse com sangue ou deterioração do estado geral”, alerta.
Tanto a gripe como a constipação, explica Gustavo Reis, podem evoluir para uma pneumonia, sobretudo em pessoas com o sistema imunitário enfraquecido, doenças crónicas, com má alimentação ou fumadoras. Isto acontece “porque estas infecções virais iniciais podem enfraquecer as defesas naturais do sistema respiratório, tornando-o mais vulnerável à invasão por outros agentes patogénicos, principalmente bactérias”.
Segundo o pneumologista, para confirmar o diagnóstico de pneumonia e determinar a extensão da infecção são realizados exames complementares como raio-X ao tórax e análises ao sangue. Quanto ao tratamento, que varia consoante a causa, gravidade e estado geral do doente, pode ser feito através de antibióticos e, em casos mais graves ou em pacientes de risco, pode ser necessário o internamento hospitalar para administração de antibióticos intravenosos, oxigenoterapia, ventilação mecânica e monitorização contínua. A fisioterapia respiratória pode ser recomendada para ajudar na eliminação de secreções e melhorar a função respiratória.

Apanhar chuva ou frio não causa pneumonia
Gustavo Reis desmistifica que “a exposição ao frio, chuva ou andar mal agasalhado, por si só, não causa directamente uma pneumonia, pois esta é sempre causada por agentes infecciosos” como bactérias, vírus ou fungos. No entanto, ressalva, “estas condições podem contribuir indirectamente para o seu desenvolvimento” já que podem “diminuir temporariamente as defesas do sistema imunitário, ressecar e irritar as mucosas respiratórias e reduzir a eficácia dos mecanismos de defesa naturais dos pulmões”.
Além disso, sublinha, em tempo frio as pessoas tendem a permanecer mais tempo em espaços fechados e pouco ventilados, a estar em maior proximidade física com outras pessoas e a ter menos exposição solar, que é importante para a vitamina D e imunidade. “O importante é manter boas defesas imunitárias e evitar situações que facilitem a transmissão de infecções”, conclui.

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