Estado obriga Vila Franca de Xira a proteger oratório da Póvoa de Santa Iria
Edifício histórico tem há décadas várias promessas de recuperação mas tudo continua na mesma. O oratório de São Jerónimo tem-se degradado, chegando a ser abrigo, há alguns anos, de uma pessoa com problemas mentais.
Na sequência de uma denúncia recebida no Instituto do Património Cultural (antiga Direcção-Geral do Património Cultural), sobre o estado de abandono e degradação do oratório de São Jerónimo e da Lapa do Senhor Morto, em tempos local de culto, aquela entidade obrigou a Câmara de Vila Franca de Xira a tomar medidas urgentes e provisórias para proteger o imóvel.
A informação é confirmada a O MIRANTE por fonte oficial da Património Cultural (PC), que em Setembro deste ano escreveu ao município ribatejano pedindo esclarecimentos sobre a definição concreta das medidas a tomar para proteger esse património histórico da Póvoa de Santa Iria, situado na Quinta Municipal da Piedade. As medidas a implementar pela câmara, explica a PC, têm como objectivo proteger o imóvel enquanto a autarquia não proceder à intervenção definitiva de conservação e restauro que, revela aquele organismo, já tem aprovação de forma condicionada desde 28 de Novembro de 2022.
“O projecto de restauro do Oratório de São Jerónimo, Lapa do Senhor Morto e do jardim, na fase de estudo prévio, já mereceu parecer favorável condicionado e está este instituto a aguardar desde essa data os aditamentos processuais que possam dar resposta às condicionantes”, confirma a Património Cultural.
Contactado pelo nosso jornal, o município explica que as condicionantes foram consideradas na elaboração do projecto de execução entretanto submetido para aprovação da PC. “O município encontra-se a aguardar resposta dessa entidade para continuar o desenvolvimento do projecto de restauro”, afiança, garantindo que os trabalhos avançam assim que as autorizações sejam enviadas à câmara.
Enquanto isso, os serviços municipais estão a diligenciar medidas de protecção provisória do espaço, tal como ordenado pela Património Cultural, como a reparação da vedação do oratório, e a realizar uma intervenção na cobertura metálica para o proteger das intempéries. O estado de abandono é há muito motivo de queixas da comunidade da Póvoa de Santa Iria, tendo também merecido um reparo da vereadora da CDU Joana Bonita na última reunião de câmara, lamentando que o espaço continue sem ser intervencionado. É também um assunto a que O MIRANTE tem dado eco na última década.
Há oito anos chegou a haver uma aprovação de princípio para os trabalhos poderem avançar mas depois, na prática, a ex-DGPC voltou a emitir parecer desfavorável final ao projecto que a câmara ali queria realizar. Há seis anos circulou nas ruas da Póvoa de Santa Iria um abaixo-assinado pedindo à câmara que não demolisse o espaço, uma ideia que o então presidente da câmara, Alberto Mesquita, classificou de “uma valente mentira”.
Património roubado nunca mais foi recuperado
O tapume colocado por cima do oratório tem vindo a ceder ao longo dos anos e em 1983 os azulejos do interior da nave do oratório foram furtados. Em 1996 foi roubada uma pedra em forma de concha que sobrepujava o brasão do pórtico. A lapa do Senhor Morto foi retirada há vários anos para sofrer um restauro e nunca mais voltou. A peça escultórica recria o local e os momentos que antecedem o sepultamento de Jesus. O espaço chegou a ser local de culto mas tudo acabou quando velas acesas e falta de vigilância provocaram um incêndio no local. Mais recentemente, antes da pandemia, um sem-abrigo com problemas mentais chegou a ocupar o espaço e a viver nele, tendo depois sido institucionalizado.