Sociedade | 16-12-2024 18:00

O teatro amador é uma paixão que une gerações em Santo Estêvão

O teatro amador é uma paixão que une gerações em Santo Estêvão
Elementos da secção de teatro da Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão momentos antes do primeiro ensaio de "Os Três Porquinhos"

A secção de teatro da Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão, concelho de Benavente, tem mantido viva a tradição teatral na região, unindo amadores de várias localidades e idades. Entre comédia e drama, o grupo enfrenta desafios e projecta sonhos maiores.

Entre o riso de uma comédia e o desafio de encarnar dramas mais profundos, o grupo de teatro da Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão (SFSE) tem sido, há mais de uma década, uma ponte que liga gerações e localidades. Com ensaios partilhados numa sala que escuta o som de instrumentos da filarmónica e aulas de pilates, a paixão pelo palco supera as dificuldades, alimentando-se da dedicação dos seus 20 membros activos, com idades dos 15 aos 70 anos, e de uma vontade comum que se traduz em levar o teatro mais longe.
Mónica Monteiro, vice-presidente da SFSE e responsável pela secção de teatro, olha com orgulho para o percurso do grupo, reactivado em 2009. “Já tínhamos estado activos na década de 90 com a secção de animação, mas foi em 2009 que retomámos a actividade, com o apoio de um encenador profissional que contribuiu para trazermos o teatro de volta”, recorda. Desde então, a paixão pelo palco tem sido alimentada pela dedicação de 20 elementos, com idades entre os 15 e os 70 anos, oriundos de várias localidades da região, como Foros de Salvaterra, Benavente, Fajarda e Samora Correia.
O grupo, maioritariamente feminino – com apenas três homens no elenco –, enfrenta desafios constantes, como a escolha de peças que se adeqúem aos actores amadores e à logística de um espaço partilhado com a banda filarmónica e aulas de pilates. “Precisávamos de uma sede nova, com maior dimensão, mas, mesmo com as limitações, conseguimos articular o espaço entre as diferentes actividades. Tem funcionado”, admite a vice-presidente da colectividade.
Nos últimos anos, o grupo tem privilegiado o género de comédia, por ser mais acessível a quem não possui formação teatral, embora o drama tenha marcado os primeiros passos desta nova fase. “No início, trabalhámos com um encenador a tempo inteiro, e isso permitiu-nos explorar peças dramáticas que foram muito bem recebidas pelo público. Agora temos estado a dedicar-nos à comédia, mas queremos voltar a algo mais sério, especialmente também para nos desafiarmos”, explica.
Entre as produções mais recentes está a peça “Bem-vindos a bordo”, uma comédia passada num lar de idosos que mistura humor e mistério com um enredo de homicídio. O espectáculo estreou em Novembro e seguirá em digressão por localidades vizinhas. Já este mês de Dezembro, o grupo trará ao palco “Os Três Porquinhos”, uma peça infantil que será apresentada na festa de Natal organizada pela junta de freguesia.
“Aqui sentimo-nos em casa”
Para Joana Fernandes, de 21 anos, o teatro é mais do que um passatempo. A paixão começou aos três anos, na creche, e tem vindo a acompanhá-la ao longo da vida, levando-a a frequentar formações e a estudar interpretação no Instituto para o Desenvolvimento Social, em Lisboa. “Aprendi que ser actor não é só representar. É preciso estudar, pesquisar, compreender a origem de cada peça e trabalhar as nossas capacidades”, partilha.
A jovem, que reside em Foros de Salvaterra, destaca o ambiente acolhedor do grupo de Santo Estêvão, comparando-o à experiência que teve em Lisboa. “Os ribatejanos são muito mais acolhedores. Aqui, sentimo-nos em casa. Depois dos ensaios, há sempre comida e uma garrafinha de água, e isso faz toda a diferença”, refere a O MIRANTE com um sorriso enquanto os colegas a escutam. Agora, a jovem prepara-se para estrear-se com o grupo, mas o sonho de um dia alcançar a Broadway mantém-se vivo.
Já Carlota Caeiro, de 18 anos, encontrou no teatro uma paixão que a acompanha desde os 11 anos. Para a jovem de Benavente, o palco é o lugar onde se sente confortável, e o processo criativo de construir personagens é o que mais a fascina. “Gosto de pesquisar e criar uma pessoa que não sou eu. O palco é o meu conforto, enquanto outros sentem nervosismo, eu sinto-me bem”, especifica Carlota, acreditando que o teatro exige atenção e trabalho, algo que muitas pessoas, na sua opinião, ainda não compreendem. “Hoje, as pessoas vão menos ao teatro, mas deveriam ir mais. O esforço envolvido vale tanto quanto a produção de um filme”, afirma.
Rita Marques, de 16 anos e uma das mais jovens do colectivo, entrou no grupo há três anos, motivada inicialmente pela vontade de melhorar as suas capacidades de comunicação. “Fazer teatro ajudou-me imenso, principalmente nas apresentações orais na escola. Fiquei muito mais à vontade em público”, conta. Apesar de ainda estar indecisa quanto ao futuro, a adolescente de Benavente, que tenciona seguir áreas relacionadas com o Direito, acredita que o teatro será sempre uma parte importante da sua vida.

Faltam homens e um espaço maior

Apesar das conquistas, o grupo enfrenta algumas particularidades, desde a falta de homens para compor o elenco até à necessidade de uma sede maior com um espaço exclusivamente dedicado à prática teatral. “Há uma certa vergonha por parte dos rapazes em juntarem-se ao teatro, e isso é algo que não consigo explicar”, lamenta Mónica Monteiro.
Ainda assim, a paixão pelo palco prevalece. Desde há um ano, o grupo conta com o apoio do encenador Simão Biernat, de Alenquer, que, uma vez por mês, trabalha aspectos de encenação e dramaturgia com os membros. Este apoio tem permitido ao grupo explorar novas abordagens e pensar em futuros projectos que vão além da comédia.
Com sonhos que vão desde a Broadway até a conquista de novos públicos na região, o teatro da SFSE é, acima de tudo, uma prova de que a dedicação e a vontade de criar conseguem superar qualquer obstáculo. Enquanto o público continuar a rir, a emocionar-se e a apoiar, o palco de Santo Estêvão manter-se-á vivo.

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