Alguns funcionários e administrador judicial mantêm Jodel a trabalhar para evitar venda ao desbarato
Empresa de Aveiras de Cima, Azambuja, entrou em insolvência no final de Outubro, mas o administrador nomeado pelo tribunal apostou nos 30 trabalhadores que restavam, foi buscar mais 40 que tinham rescindido contrato e recomeçou a laboração com 200 mil euros emprestados por um familiar. Dois meses depois os funcionários, que passaram por dificuldades, começam a ter esperança num futuro melhor.
No dia em que o administrador de insolvência optou por não fechar a fábrica de detergentes Jodel, em Aveiras de Cima, Azambuja, as contas estavam a zero e precisava de cerca de 110 mil euros de ordenados para pagar aos 70 trabalhadores que não tinham rescindido o contrato ou que aceitaram trabalhar para evitar o fecho. José Eduardo de Castro, de Águeda, que acredita no potencial da empresa e que a quer valorizar para não ser vendida aos desbarato, pediu 200 mil euros emprestados a um familiar, pagou o mês de Outubro, que não lhe pertencia, como forma de segurar e motivar os trabalhadores da empresa que chegou a ter perto de 200 pessoas, já pagou Novembro e Dezembro e o subsídio de Natal destes dois meses. O dinheiro também serviu para pagar a fornecedores de produtos para manter a fábrica a laborar. Os trabalhadores, com três meses de ordenados em atraso e sem perspectiva numa fábrica que acumulou dívidas de 45,5 milhões de euros, passaram por dificuldades e houve alguns que o administrador nomeado pelo tribunal ajudou do seu próprio bolso.
Na sexta-feira, 20 de Dezembro, fez-se uma festa de Natal no refeitório da empresa para reconhecer o esforço dos funcionários que mantêm a empresa a trabalhar e que já foi visitada por alguns potenciais interessados na compra. A dedicação foi também presenteada com uma semana de pausa para descansarem e aliviarem a cabeça, porque há quem tenha tido a necessidade de recorrer a psicólogos, como foi o caso de Gabriela Peres, há 14 anos na empresa, que agora faz tudo o que for preciso, desde limpezas a ajudar no processo de produção. Com dois filhos jovens entrou em aflição com medo de perder a casa e um mês teve mesmo que recorrer à ajuda financeira dos pais, mas agora diz que já se sente mais contente e confiante.
Rogério Cruz tinha entrado para a Jodel para tentar dar a volta à situação como director de operações, mas ao fim de um ano o tribunal aceitou a insolvência pedida por uma ex-trabalhadora. Nestes dois meses lutou com os trabalhadores para estabilizar a empresa e continuar a produzir detergentes para alguns clientes, estando já a preparar o plano para em 2025 recuperar alguns antigos ou conquistar novos clientes. No mês de Dezembro, revela, o saldo é positivo e o facto de, devido à insolvência, não ter de se pagar os empréstimos à banca “é um alívio”. O Novobanco é o segundo maior credor a seguir ao Estado (11,9 milhões), reclamando um crédito de 4,6 milhões, seguindo-se o BCP (3,7 milhões) e Banco BIC (3,4 milhões). O maior desafio, conta o director, foi “aguentar as pessoas a trabalharem e moralizadas”. Em Outubro só restavam 30 pessoas, mas conseguiu-se convencer 40 funcionários que estavam no desemprego.
José Amorim também andava ansioso com o futuro e apesar das dificuldades financeiras aguentou até à entrada do administrador judicial porque acreditava que a fábrica não ia fechar. A conviver na festa de Natal recordou que há mais de um ano que não havia um momento de tanta alegria. Manuela Neves reforça: “Se não tivéssemos aguentado sem receber quando chegasse a insolvência a fábrica estava vazia e não seria fácil metê-la a funcionar”.
Não é frequente numa insolvência manter-se uma fábrica a trabalhar, mas o administrador diz que vale o esforço para se pagar o máximo aos credores, sendo que só aos trabalhadores a empresa deve ainda 5,3 milhões de euros. Em 402 credores o plano de insolvência de José Eduardo de Castro só obteve um voto contra, de um credor ligado aos donos da empresa, tendo sido decidido na assembleia de credores avançar para a liquidação, mantendo a fábrica a trabalhar até à venda.
Criar condições para vender a empresa até ao final de 2025
O administrador judicial disse a O MIRANTE na festa de Natal da Jodel que pretende no primeiro trimestre do novo ano preparar todo o processo para a venda da empresa, tendo como horizonte conseguir pagar cerca de 70% do valor das dívidas. O que considera uma boa liquidação se atingir essa meta. Após os três meses de valorização da fábrica de Aveiras de Cima, José Eduardo de Castro acredita que é possível vender a Jodel em seis meses, salientando que se trata de “uma empresa apetecível, que tem mercado, que trabalha com qualidade e que tem mercado a nível ibérico”.
Para se obter o máximo de rendimento, o administrador nomeado pelo tribunal vai optar por fazer a venda no e-leilões, com os 70 trabalhadores incluídos, evitando a intervenção de leiloeiras. Para fazer face aos gastos, em que se inclui os seguros de acidentes de trabalho que tiveram de ser contratados de novo porque já não estavam activos dois meses antes da insolvência, são precisos pelo menos 441 mil euros em vendas por mês.
A Jodel foi fundada em 1968 por José Ferreira e Maria Manuela Ferreira e desde 2020 que estava na posse dos filhos, sendo que Filipa Ferreira tinha assumido a presidência da empresa há quatro anos.