Empresário de Santarém julgado por sequestrar e coagir colega e dois motoristas para admitirem desvio de mercadorias
Um empresário de transportes de Santarém responde, juntamente com um imigrante a quem pediu ajuda, por terem montado um plano para obrigarem um gerente e dois motoristas de uma empresa de Alverca, que subcontratou para fazer os seus transportes, a confessarem desvio de mercadorias. As três vítimas foram agredidas, ameaçadas com pistolas e filmadas no interior de um armazém em Abitureiras.
O dono de uma empresa de transportes de mercadorias do concelho de Santarém e um brasileiro de 28 anos, residente em Alhandra, estão a responder por sequestrarem e coagirem um empresário de Alverca do mesmo ramo e dois funcionários, para os obrigar a confessar que tinham desviado mercadorias. O caso ocorreu em Agosto de 2023 quando o empresário de Santarém, de 45 anos de idade, subcontratou a empresa de Alverca para fazer transportes de bebidas da Compal, em Almeirim, e da Central de Cervejas, em Alhandra, para o entreposto do grupo Jerónimo Martins em Azambuja.
Segundo a acusação do Ministério Público, confirmada pelo juiz de instrução criminal, a quem recorreu o empresário de Santarém, refere que este elaborou um plano com o jovem que contratou, para atrair o dono da empresa de Alverca e os dois colaboradores que faziam os transportes subcontratados, ao seu armazém em Abitureiras. A ideia era confrontá-los para os obrigar a confessar o desvio de mercadorias, que tinha sido comunicada pelo grupo Jerónimo Martins, e obrigá-los a pagar os prejuízos.
O empresário de Santarém, de 45 anos, contactou um dos empregados da empresa de Alverca que fazia os transportes para que comparecesse no seu armazém em Abitureiras para ver um camião que a vítima ponderava adquirir. E disse-lhe para levar cinco mil euros para dar como entrada para o negócio. Com o dono da empresa subcontratada combinou a realização de um serviço de transportes que foi atribuído à outra vítima, que também era quem alegadamente tinha desviado bebidas. Depois combinou com o jovem brasileiro, com quem tinha combinado obrigar os motoristas a confessar, para estar no armazém e esperar por eles.
O que tinha ficado de fazer o transporte chegou às instalações do empresário de Santarém às 9h00 do dia 21 de Agosto de 2023, tendo sido abordado pelo imigrante, acompanhado de outro cúmplice, e ameaçado com duas pistolas que lhe foram apontadas. De seguida obrigaram-no, sob coacção, a fazer uma chamada telefónica para o dono da empresa subcontratada a dizer que o camião estava avariado, para fazer com que este fosse ao local, tendo sido à chegada agredido com um estalo na cara e ameaçado com uma pistola. Momentos mais tarde surgiu também a vítima que tinha combinado ir ver o camião para comprar.
Com abraçadeiras amarraram os pulsos às vítimas e deixaram-nos sentados no chão durante duas horas, período durante o qual foram pontapeados e agredidos a murro. O imigrante e o colega, que não foi apanhado pelas autoridades, ameaçavam também as vítimas de que lhes batiam com um martelo se não confessassem que tinham subtraído as mercadorias. O arguido brasileiro desferiu ainda pancadas com um pau nas costas do dono da empresa de Alverca. Posteriormente a mando do empresário de Santarém as vítimas foram desamarradas, colocadas de pé. Com as pistolas apontadas na direcção dos ofendidos, o empresário usou o seu telemóvel para os filmar, forçando-os a admitirem a responsabilidade pelo desaparecimento da mercadoria.
Os dois arguidos estão acusados de três crimes de sequestro, cada um punido com prisão de dois a dez anos, e três crimes de coacção agravada, puníveis com prisão entre um e cinco anos. O imigrante está ainda acusado de tráfico e outras actividades ilícitas, por ter sido encontrada droga no seu carro quando foi detido, e um crime de detenção de arma proibida.