Sociedade | 08-01-2025 10:00

O vendedor de castanhas do Entroncamento que desabou a chorar quando a filha o apanhou de surpresa no início do negócio

O vendedor de castanhas do Entroncamento que desabou a chorar quando a filha o apanhou de surpresa no início do negócio
Manuel Simões deixou o ramo da construção civil e vende castanhas na estação ferroviária do Entroncamento

Manuel Simões, dedicou boa parte da sua vida, desde os 14 anos, à construção civil. Há mais de dez anos que vende castanhas na estação ferroviária do Entroncamento, devido a uma aposta feita com um amigo, quando decidiu deixar o ramo da construção.

Manuel Simões, 63 anos, é, há mais de uma década, o conhecido vendedor de castanhas da estação ferroviária do Entroncamento. O ofício começou, após deixar a sua actividade profissional no ramo da construção civil, onde trabalhou desde os 14 anos. Ao fim de mais de 30 anos nas obras, e devido à crise financeira que o país atravessava, Manuel Simões decidiu afastar-se do ramo da construção e dedicar-se à venda de castanhas, devido a uma aposta com um amigo. “Na altura, os tempos estavam maus. Fiquei com muito dinheiro perdido por aí… Um dia encontrei um amigo no mercado de Tomar e ficámos a falar e a comer castanhas. A meio da conversa, questionámo-nos o que iríamos fazer depois de deixar a construção e quando o vejo a ir buscar mais castanhas digo, de forma espontânea, que vou vender castanhas. Ele não acreditou porque, na altura, eu tinha uma boa vida e podia andar bem vestido e com bons carros. Apostámos 500 euros”, relembra com graça.
Apesar do receio, mas convicto que a sua palavra e honra valiam mais do que os 500 euros apostados, iniciou uma pesquisa pela Internet, para comprar material. Adquiriu um carrinho, colectou-se nas finanças e pediu autorização à Câmara do Entroncamento para começar a vender na estação ferroviária. “Hoje tenho castanhas prontas para vender, meia hora depois de montar tudo aqui. No primeiro dia, demorei três horas a ter castanhas prontas e umas saíram queimadas, outras ainda cruas. Não sabia cortar castanhas, nem acender e controlar o lume. Ainda levei umas duas semanas a aprender tudo, através de tentativas”, conta com um sorriso.
A época de venda começa em Setembro e termina no último dia de Carnaval do ano seguinte. E nem os dias de chuva são impedimento, porque coloca um chapéu de chuva de dois metros preso ao carrinho de castanhas e ali permanece. Uma das histórias mais emocionantes que recorda foi um encontro inesperado com a filha, quando começou. “Na altura, ainda ninguém sabia. A minha filha, apanhava boleia para o trabalho aqui. No primeiro e segundo dia, via-a e conseguia esconder-me. Mas, no terceiro, estava distraído a atender uma cliente e ela passou. Quando me ouviu falar, reconheceu a minha voz e parou. Esperou que atendesse a senhora e questionou-me, com um sorriso, o que estava ali a fazer. Desabei e as lágrimas escorriam pela cara, mas as palavras de conforto dela, dizendo-me que não devia ter vergonha, que era uma profissão honesta, deram-me um incentivo muito grande”, conta emocionado.
Manuel Simões diz que assar castanhas é fácil, mas é preciso saber dar as voltas certas e como as dar, sendo o lume o ponto mais importante. “O lume tem de estar activo e no ponto certo, para não queimar as castanhas nem as deixar cruas. O mais importante é ter boa castanha para vender. Apesar de tentar ter um preço justo, a qualidade é sempre o mais importante”, explica, acrescentando que há cada vez menos vendedores de castanhas por ser um trabalho ingrato. No entanto, de vez em quando, gosta de percorrer vários pontos do país, para conhecer e vender castanhas, e já chegou a ensinar o ofício. “Como vendo material, através das minhas redes sociais, há pessoas que compram e me pedem alguns conselhos. Já aconteceu, alguns, virem passar uns dias comigo aqui para verem e aprenderem. Dou o estágio gratuito”, conta divertido.

Um grave despiste de mota na manhã em que ia casar
Natural do concelho de Ourém e a residir em Tomar, acabou por escolher a estação ferroviária do Entroncamento, por sugestão de um outro amigo. O comércio e o dinamismo existentes no concelho, na altura, foram o principal motivo da escolha. Hoje, mais de uma década depois, Manuel Simões assistiu a várias mudanças no concelho, mas prefere não comentar o estado actual da cidade. Aos 63 anos, tem uma história de vida marcada por trabalho, mas também aventuras e desafios. “Comecei a trabalhar aos 14 anos como aprendiz de pedreiro. No primeiro ano de ensino secundário, foi a única vez que chumbei e, ainda por cima, por faltas, porque queria andar a passear com os amigos. Aos 16 anos já trabalhava em Almada como encarregado de obra e aos 19 anos comecei a trabalhar por conta própria. Recordo-me que, nessa altura, já frequentava marisqueiras e bons restaurantes com empresários de renome”, conta.
Um dos maiores desafios foi recuperar do acidente de mota que teve, na manhã em que ia casar. Devido a um traumatismo cerebral, perdeu toda a memória desse dia. “Bati contra um pinheiro e tudo o que sei, contaram-me. Lembro-me que fiquei dois meses no Hospital de São José, em Lisboa, porque tinha o lado direito do corpo todo paralisado e depois um mês no Centro de Reabilitação de Alcoitão, até que recuperei”, conta. Acabou por casar mais tarde.
Foi um tio que tentou voltar a colocar Manuel Simões com uma vida activa ao levá-lo para o Algarve, novamente, para a construção civil, onde se começou a relembrar de grande parte do que tinha aprendido. Hoje, ainda colabora com uma sociedade, no tempo livre que vai tendo.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1698
    08-01-2025
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1698
    08-01-2025
    Capa Lezíria/Médio Tejo