Directora de lar acusada de criar perigo para os trabalhadores que resultou em acidente grave
Uma funcionária de uma unidade do Centro Social Interparoquial de Santarém caiu no fosso do elevador, de uma altura de três metros, partindo as pernas. Porque, diz o Ministério Público, a directora técnica do lar, que está a responder em tribunal, não acautelou o perigo e ainda autorizou o uso da plataforma elevatória que tinha uma avaria na porta automática.
A directora técnica do Lar do Gualdim, em Azoia de Baixo, Santarém, está a responder por um crime de violação das regras de segurança agravado pelo resultado de uma funcionária ter ficado gravemente ferida. O Centro Social Interparoquial de Santarém, ao que pertence o lar, também está acusado de responsabilidade pela queda de uma trabalhadora no fosso da plataforma elevatória. Situação, que diz o Ministério Público, com base na investigação da Autoridade para as Condições do Trabalho, ocorreu porque a directora daquela valência contribuiu para que o acidente acontecesse, tendo colocado as funcionárias em risco.
A investigação apurou que a directora tinha entregado aos funcionários a chave de segurança da plataforma elevatória, usada para levar roupas, louças e comida aos idosos no primeiro andar do edifício, porque a porta desse piso não estava a abrir automaticamente. Os trabalhadores usavam essa alternativa para não terem de subir e descer pelas escadas carregadas, atendendo a que a reparação da avaria no elevador estava a demorar. Refere a acusação que a decisão da directora técnica visava facilitar o desempenho das tarefas, mas ao autorizar o uso da plataforma com a chave de segurança “não acautelou o risco que tal utilização podia acarretar, antes potenciando o risco de queda em altura”.
O acidente remonta a Junho de 2020 por volta das 14h30, quando uma funcionária com a categoria de ajudante familiar accionou o botão para fazer subir a plataforma para o primeiro andar. Entretanto foi buscar a chave para abrir a porta e colocar no interior um carrinho com a loiça suja do almoço dos utentes. Só que a plataforma não tinha subido, por razões que não foram apuradas. Já com a porta aberta a funcionária desequilibrou-se, agarrou-se ao carrinho para não cair e precipitou-se com o equipamento pelo fosso abaixo até ao rés-do-chão, numa altura de três metros.
A funcionária acidentada sofreu fracturas nas pernas, entre outras sequelas, tendo sido sujeita a cirurgias no hospital. O Ministério Público considera que a arguida, pela força das suas funções de direcção, “estava obrigada a implementar medidas preventivas” que evitassem que a trabalhadora fizesse uso da plataforma. E realça que ao permitir o uso da chave, Sílvia Carreira criou perigo para a vida e integridade física dos trabalhadores. Em termos laborais, o caso já foi julgado no Juízo do Trabalho de Santarém, que atribuiu uma pensão à trabalhadora. O crime que está a ser julgado é punido com prisão de dois a oito anos.
A directora técnica e a instituição tinham pedido, após a acusação do Ministério Público, a instrução do processo, para este ser reavaliado por um juiz. No entanto o juiz de instrução não encontrou motivos para alterar o que já estava na acusação e decidiu mandar o caso para julgamento pelos factos descritos com a mesma moldura penal.