Sociedade | 18-01-2025 18:00

Proprietário corta caminhos e população de São Pedro de Tomar reage com revolta

Proprietário corta caminhos e população de São Pedro de Tomar reage com revolta
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Alguns habitantes de São Pedro de Tomar não se conformam com o corte de caminhos que eram utilizados pela população

O corte de caminhos que a população considera públicos na freguesia de São Pedro de Tomar está a causar revolta entre a população e autarcas. Empresário comprou terrenos na freguesia e decidiu interditar caminhos que diz serem de sua propriedade. O presidente da junta, que esteve à beira de um enfarte devido à situação, condena a atitude e garante que as vias são vicinais. O MIRANTE esteve no local e falou com alguns moradores que não esconderam a sua indignação.

A população da freguesia de São Pedro de Tomar está revoltada com um proprietário privado que cortou três caminhos que alegam ser públicos e que eram utilizados pela população. O caso começou há dois anos, quando o empresário Carlos Brito começou a comprar terrenos na localidade. Desde essa data, o proprietário já cortou três caminhos, o último dos quais no início deste mês de Janeiro, alegando que os caminhos estão localizados dentro da sua propriedade e que, por isso, tem o direito de bloquear a passagem a veículos e peões.
O presidente da Junta de Freguesia de São Pedro, António Vicente (PSD), garante que os caminhos são vicinais, ou seja, que pertencem à junta e já prepara medidas para contestar. A população está indignada com o corte dos caminhos, nomeadamente do mais recente, que garantem ser utilizado desde sempre por muitas pessoas, em veículos ou a pé, não só moradores da freguesia mas também de fora. O MIRANTE falou com alguns habitantes junto ao caminho cortado recentemente, na Rua das Roseirinhas, que liga os lugares de Bairro da Estrada e Fontainhas. Os moradores não poupam nas críticas ao proprietário, acusando-o de passar por cima de tudo e todos e de não saber viver em comunidade. O caminho em questão foi interdito através da abertura de valas.
António Cartaxo, 68 anos, nasceu em São Pedro numa casa localizada junto ao caminho que foi cortado e lamenta o que está a acontecer: “Ainda na sexta-feira de manhã passei aqui por volta das 9h00, estava tudo bem e quando volto aqui, era meio-dia e qualquer coisa, deparo-me com isto cortado”, conta indignado. Também Augusto Inácio, 86 anos, conta que sempre conheceu aquela estrada e que sempre passou lá. “Quando tinha 12 anos e andava a trabalhar na cerâmica passava aqui todos os dias a pé”, refere. O morador diz que actualmente ainda passava diariamente na estrada, mas que agora já não o pode fazer, sendo obrigado a dar uma volta maior, acrescentando que foi surpreendido com as valas a bloquearem a passagem. “Nem queria acreditar, tive que voltar para trás”, explica. Victor Marques, 70 anos, também não esconde a sua revolta. “Isto são caminhos vicinais, se esse senhor não sabe o que é aprenda porque o dinheiro não é tudo. Ele passa por cima de tudo e de todos, e tem que respeitar quer a comunidade, quer a sociedade. Se quer ser respeitado tem que se dar ao respeito”, acusa.

Presidente da junta está acamado devido à situação
O MIRANTE contactou o presidente da Junta de Freguesia de São Pedro de Tomar, António Vicente (PSD), que disse estar acamado em resultado da situação. “Tive que ir ao hospital, estive à beira de um enfarte, quase há uma semana que não me levanto”, conta. O autarca explica que os caminhos já existiam antes de o proprietário comprar os terrenos na localidade, referindo que o último caminho cortado está entre duas propriedades. “Quando ele adquiriu a propriedade a estrada já lá estava, sempre esteve, a própria escritura diz que o caminho dele confina com a estrada, é bem clara nisso, está registado”, defende. António Vicente sublinha ainda que a Rua das Roseirinhas, onde foi cortado o último caminho, sempre foi um local de passagem para muitos veículos, tendo iluminação pública, saneamento e água, o que, no seu entender, reforça a ideia de que os caminhos são vicinais. Informou ainda que vai avançar com uma providência cautelar e que está a estudar a hipótese de ir ao local com uma máquina para repor o caminho.

Proprietário nega que os caminhos sejam vicinais
Carlos Brito, 70 anos, empresário, residente no Casalinho, é o proprietário responsável pelo corte dos caminhos na freguesia de São Pedro e garantiu a O MIRANTE que os caminhos são seus, suportando-se em documentação oficial para referir que os caminhos em questão não são públicos: “está lá tudo escrito, nem juntas, nem câmaras, ninguém pode opinar sobre caminhos, só o tribunal”.
O empresário, que comprou 60 hectares de terreno em São Pedro, explica que “os caminhos estando inseridos dentro dos prédios particulares, ou seja, dentro dos marcos dos particulares, são dos mesmos, porque se forem caminhos da junta, vicinais ou da câmara têm marcos de um lado e de outro da estrada, e não é o caso”. Acrescenta que existem estradas públicas em alcatrão a 200 e 150 metros da sua propriedade e que, por isso, não há razão para a população passar por dentro do que é seu.
“Eu cortei as estradas porque os caminhos são meus, antes de cortar qualquer caminho contactei sempre o presidente da junta, entreguei mapas, meti advogados, ele nem respostas dava aos advogados, ele foge, não aparece”, refere Carlos Brito. Já sobre a revolta da população, o empresário de 70 anos diz sentir-se o mais tranquilo possível. “Não lhes estou a tirar nada do que é deles, eles é que têm provocado actos de vandalismo, quer a mim quer aos vizinhos. Arrancaram portões, partiram um muro de um poço. Quem age de boa-fé, quem tem razão não tem esses actos”, acusa.

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